sexta-feira, outubro 19, 2007

Memória


Quando será que a memória traz consigo paz e força interior?


Pessoas, coisas, acontecimentos, olhares, frases, palavras, gestos, esquecimentos, músicas, filmes, fotografias, objectos, faces, discussões, sucessos, alegrias, tristezas, momentos marcantes, um beijo, uma paisagem, uma noite, um Natal, um impulso, um abraço, um sorriso, um sacrificio, uma ajuda, um pedido de ajuda, um amigo, uma amiga, uma confissão, uma asneira, uma vitória, uma derrota, um animal, um amor,um livro, um elogio, uma critica, um discurso, um desportista, um clube, uma bandeira, uma escola, um passeio, o mar, um jardim, uma igreja, um jantar, uma viagem, uma prenda, um museu, um professor, uma aula, um espaço, a familia.


Tudo faz memória e recordar um pedaço de nós. Mesmo quando há lembranças que pensamos bem afastadas, de um momento para o outro até o mais pequeno pormenor nos traz ao pensamento memórias apagadas.

Será que alguém, ao escrever as suas memórias ao fim de muitos anos, o faz sempre com alegria, saudade genuína do passado e com um sorriso nos lábios? Será que alguém o faz sem conseguir não chorar?

Será que alguém consegue mesmo medir a forma como os acontecimentos do passado e as memórias que deles se guardam, moldaram a sua personalidade? Até mesmo quando pensamos que foram insignificantes?

Será que apenas ao fim de muito tempo conseguimos lidar com a memória do passado sem querermos voltar atrás no tempo? Será que a memória é dona de cada um de nós?

Como podem memórias difíceis deixarem saudade? E memórias de coisas que sempre nos acarinharam não nos tocarem quando chegam de novo? Será que olhamos para trás apenas da nossa maneira, confundindo memórias passadas com o que vimos no presente?

Será que as memórias não mudam nunca? Será indiferente encontrar de novo uma pessoa ao fim de muitos anos ou apenas ao fim de algumas semanas?

Será que as memórias dependem do ponto de vista de cada um? Da forma como somos felizes no presente?

Será possível substituir memórias?


segunda-feira, outubro 01, 2007

Segundas Oportunidades

"Há uma crise nos partidos que se vem afirmando desde 1989, desde a queda do muro de Berlim, em que se perspectivou que tinha chegado o fim da história e que não eram precisas mais definições programáticas muito claras e que só havia uma maneira de governar. Ao centro e de acordo com determinadas regras de economia liberal de mercado."

A frase é da autoria de Luis Filipe Menezes em entrevista recente, poucos dias antes da sua eleição para presidente do PSD, e tem a capacidade de nos transmitir em poucas palavras uma idéia de qual será o seu comportamento no futuro próximo.

Se o PS tem ultrapassado o PSD pela direita, agora o PSD torna-se capaz de ultrapassar o PS pela esquerda. As directas do PSD e o seu resultado final tem feito alguns mortos darem voltas no túmulo.

O PSD acordou para a dura realidade da eleição directa do seu líder, num periodo em que procurava rever as suas orientações programáticas e em que também se encontra "perdido" no meio de tempos de oposição, onde o partido, claramente, não sabe viver.

Luis Filipe Menezes, goste-se ou não dele, ganhou a legitimidade que os dois últimos presidentes do partido nunca tiveram na realidade. Ganhou com o voto dos militantes, ganhou de forma clara, ganhou numa disputa clarificadora, tem o caminho aberto para que todos fiquemos a saber qual o verdadeiro valor que o seu estilo de liderança possui.

Por outro lado, o PSD entra claramente numa nova fase. Acabou a fase dos congressos, embora tenha ficado patente a gritante falta de organização do partido para eleições directas. Acabou a fase em que os barões e outras pessoas até relativamente afastadas da esfera do partido, punham e dispunham das suas peças de xadrez como muito bem entendiam. Acabou a fase em que não eram os militantes que verdadeiramente escolhiam o seu líder.

Não que se acredite que estes novos hábitos possam chegar rapidamente a todo o partido. Existem ainda dirigentes que vivem da falta de discussão e participação interna para imporem as suas orientações, seja por interposta pessoa ou, quando a altura se torna mais propícia, pelas suas próprias mãos.

Mas o caminho de qualquer partido deve ser o da clarificação, doa o que doer. E deve ser também o da participação aberta e sincera das pessoas, sem condicionalismos e com respeito pela maioria dominante, mesmo que essa maioria esteja na posse de uma segunda ou até de uma terceira oportunidade.

Convém no entanto que todos aproveitem a sua oportunidade, porque se a forma destemida de Luis Filipe Menezes fizer escola, não vai haver mais segundas oportunidades para ninguém. A força de um voto ultrapassa em muito a de uma arma.