segunda-feira, dezembro 22, 2008

A Luz E A Vida

Uma criança pula alegremente no meio da rua agitada.

Passam pessoas de ar apressado, fechado e friorento. Carregam pastas cheias de papel, preocupações, compromissos e vícios próprios do tempo. Passam despercebidas, despercebidas da luz própria do Natal, da música, da vendedora de castanhas, dos embrulhos, despercebidos com a vida.

A luz, a da rua e a da quadra, captam a atenção da criança. Está perdida na fantasia de um mundo que fica para trás. Passa pela rua como quem brinca junto ao rio, descontraída e leve, apreciando a vida no Natal.

Na sua luta diária, a vendedora de castanhas apregoa a sua luz. Está forte e viva na voz. Está triste e zangada na expressão. O peso dos dias passa pelos seus cabelos, pelo ar irrequieto junto com um olhar triste.

Os olhos estão entre as castanhas e as pessoas que passam apressadas. Como seria a luz se fosse ela a passar pela rua? Seria feliz a comprar presentes, sem tempo para julgar a prenda ideal? Seria feliz vivendo mais agitada? Seria feliz vivendo com mais? Seria feliz vivendo com menos tempo para olhar?

No início da rua, uma mulher, com ar elegante e modo seguro, olha fixamente para a montra. A montra brilha, prende a atenção. Lá dentro está a prenda ideal. A mulher revê o seu plano, junta mentalmente o que pode e volta-se novamente para a rua. Não pode ser. A prenda está longe, do outro lado do vidro.

Volta ao seu modo apressado. Pode ser que até ao cimo da rua pare de novo. Já está atrasada. Percebe-se atrasada também nos projectos que idealizou. A prenda ideal deve estar em outro lado também. Talvez.

A chuva cai de repente, bem forte.

A mulher foge para junto de uma montra. A vendedora de castanhas fica debaixo do seu guarda-sol vermelho. A criança está entre as duas, bem no meio da rua.

A sua alegria está muito longe da chuva, continua perto das fantasias e da luz que a rua não deixa fugir.

A mulher olha para a criança e volta ao seu passo apressado, apesar da chuva.

A criança, finalmente molhada, corre para junto da vendedora de castanhas. Ali parecia acolhedor. Todos fugiam da chuva, abrigando-se ou correndo. Eles, continuavam no meio da rua. E a luz brilhava para os dois.

Decido, Logo Engano-me!

1A entrevista de Armindo Abreu da semana passada é desde logo interessante por pouco se ler sobre obras concretas ao longo deste mandato. Tão pouco se fala muito do futuro. Ficamos apenas a saber que Armindo Abreu gostaria de concretizar dois projectos: uma casa de espectáculos e a sempre apregoada conclusão da rede de água e saneamento.

2Para além disso, o que motiva Armindo Abreu é a reabilitação da imagem dos políticos. Como exemplo, refere a luta das últimas eleições para travar Ferreira Torres. Na sua reconhecida boa fé, espera-se que o Presidente da Câmara e líder do PS de Amarante não se esqueça que não travou esse combate sozinho. Antes de tudo, o seu grande mérito foi aproveitar a luta do PSD para preservar a sua base eleitoral durante as eleições de 2005.

3 - Com tão poucas referências a obras concretas para Amarante, não admira que Armindo Abreu tenha dúvidas sobre se é ou não candidato em 2009. Mas por outro lado, a entrevista revela aspectos políticos interessantes, que não disfarçam a absoluta necessidade de ser Armindo Abreu o candidato do PS, por falta de alternativas dentro do partido que sejam capazes de ganhar as eleições em 2009.

4Desde logo, o Armindo Abreu que sempre se viu a defender a mais-valia dos que se dedicam à política dentro dos partidos, revela agora uma abertura inesperada para alguém vindo da sociedade civil, isto mesmo depois de admitir que em 2005 se enganou de forma clamorosa na escolha do engenheiro Carlos Silva para a sua equipa.

5 O mesmo Armindo Abreu que reconhece que o PS lhe deu uma liberdade condicionada para escolha da sua equipa, entre outras coisas por causa da representatividade territorial, reconhece na mesma entrevista que é da opinião que o número dois da próxima equipa do PS deverá continuar a ser uma pessoa do centro da cidade.

6Ainda mais interessante é a abordagem ao comportamento da oposição, nomeadamente do PSD. No início, com Luis Ramos a representar o PSD havia um acordo para uma oposição apenas vigilante. Com a saida de Luis Ramos e a entrada de João Sardoeira o PSD passou a fazer guerrilha, mas “agora as coisas estão mais pacíficas”. Logo a seguir, na mesma entrevista, Armindo Abreu quase parece “chamar” por Luis Ramos de volta, afirmando que com ele talvez certos casos como o da GNR não teriam acontecido.

7Interessante este “piscar de olhos” à direita, inserido numa entrevista com muito mais de política do que de obras e projectos concretos. Estaremos todos à espera das próximas decisões de Armindo Abreu para descobrir se ele se volta a enganar.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 11 Dezembro 2008

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Polícias E Ladrões

1Vitor Constâncio, governador do Banco de Portugal, deu na segunda-feira uma entrevista televisiva de poucos minutos, em que conseguiu esclarecer muito melhor o caso BPN do que o tinha conseguido fazer no Parlamento alguns dias antes, ao longo de muitas horas.

2Sobre o mesmo tema, o PS impediu a ida de Dias Loureiro ao Parlamento para prestar esclarecimentos, para de seguida acabar por viabilizar um inquérito parlamentar, onde é óbvio que Dias Loureiro terá que ser ouvido.

3 - Vitor Constâncio conseguiu passar melhor a mensagem através da televisão. Dias Loureiro também se viu obrigado a dar uma entrevista televisiva para fazer ouvir a sua posição. Não deixa de ser curioso que os protagonistas se sintam obrigados a falar publicamente na televisão, como forma de escapar ao ruído de fundo próprio da política portuguesa de hoje, associado a uma cobertura mediática cheia de desinformação.

4É até interessante verificar que no caso BPN o Parlamento se prestou rapidamente a obter esclarecimentos do governador do Banco de Portugal, o polícia do sistema bancário, parecendo desvalorizar a muito mais importante descoberta da responsabilidade dos prováveis ladrões.

5Paralelamente, surgem boatos ligando o Presidente da República, e até a sua familia, à estrutura accionista do BPN, como se a a orientação politica maioritária na estrutura accionista ou na administração do banco, fosse importante para a descoberta da verdade.

6Ainda mais grave, procura-se pôr desde já em causa a figura de Dias Loureiro, como Conselheiro de Estado e mesmo como pessoa detentora de um percurso irrepreensível em termos pessoais e profissionais, apenas porque teve responsabilidades como administrador de empresas do grupo BPN e se mostrou disponível para prestar esclarecimentos.

7Mais uma vez, como em muitos outros casos, acaba-se por discutir mais a parte acessória do problema. De uma lado, a culpa é toda de Vitor Constâncio. Do outro logo se ouve falar em Dias Loureiro. Falta saber a quem interessa esta estratégia permanente de sensacionalismo, se aos politicos que temos, se à imprensa que temos.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 27 Novembro 2008

segunda-feira, novembro 24, 2008

O Eterno Monstro

1 O debate do Orçamento de Estado para 2009 foi dominado pelo caso BPN. Tal facto desviou a atenção do essencial do debate, provocando ruido de fundo na discussão.

2Contudo, no meio de tanto ruido, o PSD fez uma critica que quase passou despercebida. Para o PSD, o Orçamento de 2009 representa o “regresso do monstro” da despesa pública. E de facto, em 2009 a despesa pública vai atingir o valor mais alto de sempre: 4.7% do PIB.

3 - Os números e estatisticas são por vezes dificeis de entender. Mas resumindo o problema, se a despesa pública está a aumentar o seu peso no orçamento, significa que a consolidação orçamental que José Sócrates tanto apregoa tem sido conseguida pelo lado da receita.

4Ou seja, sem dúvida pelo lado da maior eficácia da máquina fiscal na cobrança de impostos, mas também pelo lado do aumento dos impostos para pessoas e empresas. O Estado pode estar a cobrar melhor os impostos, “perseguindo” os devedores, mas tem também aumentado a carga fiscal para conseguir mais receitas e assim controlar o défice.

5Desta forma não se resolve o problema do monstro. Aumentar receita não é má ideia. Mas o que a economia precisa desesperadamente é que o Estado diminua o seu tamanho, diminua o dinheiro que gasta com as suas despesas correntes, libertando mais dinheiro dos nossos impostos para investimentos efectivamente produtivos, na área da saúde, da educação, da justiça ou da inovação.

6O Estado continua pesado, demasiado pesado. É como alguém que comprou uma casa demasiado cara para a sua carteira, ganhando todos os meses menos do que o valor da prestação. Ora, um problema deste tipo pode resolver-se por uns tempos se aumentarmos as receitas da familia. Mas a única forma sustentável de resolver o problema é vender a casa.

7Enquanto não estiver no Governo alguém com a coragem para reduzir fortemente a despesa corrente do Estado, discursos como o de José Sócrates poderão ser bonitos na aparência, mas serão sempre vazios de utilidade. Anunciar que o défice está controlado quando a despesa do Estado é cada vez maior, não passa de mais um episódio de propaganda política.

8De qualquer forma, as sondagens mostram que a propaganda tem conseguido os seus objectivos. Culpa da concorrência, leia-se oposição? Ou culpa de uma nova forma de fazer política, na Europa e no Mundo, mais baseada na imagem e na comunicação do que na essência das coisas? Se assim for, os monstros estão a multiplicar-se.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 13 Novembro 2008

terça-feira, novembro 11, 2008

Energia Para Todos

1Recentemente, o preço do petróleo atingiu valores elevados. Hoje, apesar do medo ter diminuido ao mesmo tempo que o preço, mantém-se pertinente perguntar até quando vamos ter petróleo.

2As reservas de petróleo, certificadas e em exploração, são suficientes para mais 42 anos de consumo ao ritmo actual. Qualquer coisa como 1.238 mil milhões de barris. Segundo os especialistas, para além destas reservas, existem reservas prováveis, já descobertas mas ainda não exploradas, com capacidade para produzir 1.100 mil milhões de barris.

3 - Em contas redondas, há petróleo para os próximos 80 anos. Isto segundo os padrões de consumo actuais.

4Mas é nos nossos padrões de consumo que está o problema. A sociedade consome cada vez mais energia. Por outro lado, as grandes descobertas de reservas de petróleo datam dos anos 50 e 60 do século XX. Por exemplo, o campo de Tupi, recentemente descoberto no Brasil, tem capacidade para apenas 3 meses do consumo mundial de petróleo. Outro dado importante, revela que 75% da produção mundial tem origem em campos descobertos há mais de 35 anos, alguns deles em declínio produtivo acentuado.

5Hoje, ao mesmo tempo que descobrimos um barril de petróleo, gastamos três. E o custo de produção do petróleo descoberto está a subir, porque as descobertas tem sido feitas cada vez a maior profundidade.

6 Assim, parece evidente que a única saida passa por levarmos a sério a necessidade de alterar os nossos padrões de consumo. Os Governos vão ter que reformar o seu modelo energético. É um desafio enorme, que tal como a crise financeira actual, apenas parece possível de enfrentar se todos os países, de todos os continentes, actuarem de forma concertada.

7Já todos ouvimos falar em diversificar as fontes de energia ou em reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. Já ouvimos falar em energia nuclear. Já fazem parte do nosso vocabulário expressões como “energias limpas” ou “energias renováveis”.

8 A necessária mudança do comportamento energético, vai implicar alterações de hábitos para todos. Quando será que falar em energia nuclear vai deixar de nos incomodar tanto? Ou talvez pior, quando será que todos iremos aceitar de bom grado uma barragem bem perto de nós?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 30 Outubro 2008

segunda-feira, outubro 27, 2008

Os Cartazes Do Queimado

1A rotunda do Queimado parece um painel publicitário. A novidade é o novo cartaz da JS que acusa PSD e Movimento Amar Amarante de estarem unidos na oposição, evitando o desenvolvimento de Amarante.

2A JS tem a presunção de acusar os outros por Amarante estar parada no tempo, quando a verdade, por muito que isso não se perceba ao ler o cartaz, é que tem sido o PS a governar Amarante há já 20 anos.

3 - E o exemplo do quartel da GNR é mal escolhido. Há muito que se fala no quartel. O próprio Dr. Armindo Abreu reconhece que pelo menos desde 1995 tem vindo a cuidar do assunto. De 1995 até hoje passaram 13 anos! Em 13 anos o PS não conseguiu iniciar a construção de um novo quartel da GNR em Amarante.

413 anos! Dos quais 10 anos com o PS em maioria absoluta na CMA. Grande parte deles com António Guterres no Governo. Mas nem assim a construção do quartel avançou. Será correcto culpar outros partidos pela inoperância do PS ao longo de 13 anos?

5A proposta apresentada pelo Dr. Armindo Abreu, e que foi recusada pela oposição, era irrealista. Para a construção do quartel, pretendia ceder os terrenos da antiga Adega Cooperativa, que totalizam 10.000 metros quadrados e custaram ao municipio 225.000 contos no ano de 2000.

6O PSD votou contra a proposta. Não porque esteja contra a construção do quartel ou contra a sua localização. Mas por entender que 10.000 metros de terreno era terreno demais e por entender que aquela zona de cidade tem que ser alvo de um planeamento urbanistico, que inclua o novo quartel da GNR mas também outro tipo de estruturas e equipamentos.

7Mais tarde, o Dr. Armindo Abreu surge com nova proposta em que afinal a GNR fica apenas com 5.000 metros do terreno. Pelo facto de a proposta inicial ter sido recusada, a oposição não ajudou a parar Amarante. Ajudou sim a que Amarante poupasse metade dos 225.000 contos que pagou por aquele terreno.

8Mas o Dr. Armindo Abreu continua a dar sinais de não pretender efectuar um planeamento sério para aquela zona da cidade. Primeiro, ia dar de mão beijada 10.000 metros de terreno. Afinal 5.000 metros já são suficientes. Mas continua sem saber o que fazer no restante terreno. Pior gestão de recursos e pior planeamento, é impossível. Com exemplos assim, acha a JS, ou o PS, que a oposição existe para passar cheques em branco a alguém?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 16 Outubro 2008

quinta-feira, outubro 16, 2008

"It's The Economy, Stupid!"

1 – “É a economia, estúpido!” A frase foi celebrizada durante a campanha que levou Bill Clinton à presidência dos EUA em 1992. Hoje, os EUA são notícia devido ao plano da administração Bush, que pretende injectar 700 mil milhões de dólares no mercado financeiro, procurando evitar uma crise de consequências imprevisíveis.

2De forma surpreendente, depois dos actuais candidatos à Presidência dos EUA terem dado o seu acordo ao plano, ele acabou por ser chumbado no Congresso norte-americano. Barack Obama e John MacCain, em pleno período de campanha eleitoral, não tinham grandes alternativas além de aprovarem o plano de Bush. A economia é um ponto importante para as eleições de Novembro.

3 - No entanto, seja nos EUA ou qualquer outro país, sempre que o Estado é forçado a injectar dinheiro na economia através de meios pouco usuais, levantam-se questões ideológicas muito fortes.

4Afinal, a economia de mercado não é auto-sustentável? Afinal, não será que o Estado se tem demitido da acção de fiscalização que deve exercer sobre os mercados e instituições financeiras? Afinal, a tendência de mercado dos últimos anos, que levou a que se formassem empresas verdadeiramente gigantes, desde bancos a multinacionais que fazem de tudo um pouco, será o caminho certo?

5Será justo que seja o Estado a pagar a crise, salvando da falência empresas cujos gestores ganham fortunas mensais superiores ao que ganham os melhores futebolistas do mundo e cujos accionistas recebem lucros extraordinários?

6Aparentemente, a intervenção do Estado é mesmo o único caminho. A economia é assim, e pronto!

7Por um lado, todos beneficiamos das regras que permitiram a bancos e seguradoras crescerem de forma assutadora, ganhando capacidade para através dos empréstimos e outras soluções financeiras inovadoras, fazerem crescer a economia. Mas no reverso da medalha, algumas dessas instituições cresceram com base em activos tóxicos, de alto risco, que agora, particularmente nos EUA, estão a pôr em causa todo o sistema financeiro.

8E, por arrasto, estão também a pôr em causa a economia real, aquela que diz respeito a todos nós. Por isso, a única alternativa que resta ao Estado é intervir e evitar o colapso. Por muito que nos pareça estúpido, perante o histórico de lucros formidáveis e salários ainda mais formidáveis de que o sistema financeiro tem vivido.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 02 Outubro 2008

segunda-feira, setembro 29, 2008

A Força Das Bases

1Nas eleições autárquicas de 2001 votaram em Amarante cerca de 31.000 pessoas para perto de 48.000 inscritos. Nas eleições de 2005 votaram em Amarante cerca de 36.000 pessoas para perto de 50.000 inscritos.

2Comparativamente com 2001, em 2005 foram votar mais 5.000 pessoas. E o número de inscritos aumentou apenas 2.000 eleitores. O PS teve praticamente o mesmo número de votos, cerca de 15.000. O PSD perdeu 3.500 votos, baixando de mais de 12.000 votos para perto de 9.000. Ferreira Torres teve 9.881 votos.

3 - O PS teve sensivelmente a mesma base eleitoral em 2005 que em 2001, mesmo beneficiando da transferência de votos do BE e do PCP. O PSD perdeu 3.500 votos entre 2001 e 2005, grande parte deles para Ferreira Torres.

4No entanto, sem qualquer base de comparação com as eleições de 2001, Ferreira Torres teve 9.881 votos, pelo que acrescentou mais de 6.000 votos aos eleitores que conquistou ao PSD. Assim, grande parte dos 5.000 eleitores que foram votar em 2005 e não tinham ido votar em 2001, sairam de casa para votar Ferreira Torres.

5O PS manteve a sua votação muito por força do voto útil, o qual quase tirou do mapa político de Amarante o BE e o PCP. Em 2009, este é um dos pontos fracos do PS, já que não vai existir voto útil. O BE e o PCP vão voltar a aumentar a sua votação, podendo tirar mais de 1.000 votos ao PS.

6Em freguesias mais “urbanas”, como São Gonçalo, o PS perderá votos para o BE e PCP, mas também para o PSD, uma vez que as pessoas que utilizaram o voto útil para afastar Ferreira Torres em 2005, podem em 2009 concretizar a mudança política, sem medo de fantasmas.

7 Neste jogo de números, considerando que a base eleitoral do PSD serão sempre cerca de 10.000 votos, José Luis Gaspar tem todas as hipóteses de ser o próximo Presidente da Câmara Municipal de Amarante. Partindo dessa base eleitoral de 10.000 votos, a qual o PSD tem de tratar com todo o cuidado, comparativamente com 2001 José Luis Gaspar tem dois grandes trunfos.

8Por um lado, o eleitorado do voto útil de 2005 pode ser conquistado pelo PSD com relativa facilidade. Por outro lado, grande parte dos 5.000 eleitores que foram votar em 2005 e não tinham ido votar em 2001, podem ser conquistados pelo PSD. Só é preciso encontrar a fórmula para os voltar a tirar de casa.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 18 Setembro 2008

domingo, setembro 14, 2008

O Silêncio Dos Inocentes

1José Sócrates andou em silêncio apesar da onda de crime violento em curso um pouco por todo o lado. Deixou o seu Ministro da Administração Interna a falar. Manuela Ferreira Leite tem andado em silêncio. Deixa que outras figuras do partido falem de vez em quando.

2 Na política portuguesa e também na política europeia, gere-se o silêncio. Os eleitores cansaram-se de ouvir promessas e discursos vazios de conteudo. José Sócrates parece ter percebido isso desde que foi eleito, gerindo as suas intervenções e deixando que sejam os ministros a aparecer quando as coisas correm mal. Sócrates quase só aparece quando há boas noticías ou então em alguma iniciativa de puro marketing político, como por exemplo a anunciar investimentos que já foram anunciados inúmeras vezes antes.

3 - Manuela Ferreira Leite gere o seu silêncio tentando controlar as expectativas. Para lá de não aparentar um perfil de alguém que seja capaz de falar por falar, Manuela Ferreira Leite guarda protagonismo para alturas mais importantes, como os meses mais próximos dos vários actos eleitoriais de 2009. Depois de tanto silêncio, espera-se então que o discurso seja forte e coerente.

4 Mas em Portugal ainda há políticos ao bom estilo popular, que acham que o que é preciso para convencer os eleitores é que haja festa.

5Na direita, os adeptos da Festa do Pontal não entenderam a ausência de Manuela Ferreira Leite porque ainda não perceberam que a política há muito que deixou de viver do espectáculo. E lá fizeram uma festa cheia de folclore mas vazia de idéias importantes para o eleitorado.

6Na esquerda, quem não consegue estar calado é Francisco Louçã. No arranque político do BE após as férias, saiu-se com a lapidar idéia de que “o PS está laranja e o PSD está rosa”! Frase populista, bem ao estilo do cartaz sobre a barragem de Fridão que o BE de Amarante colocou na cidade.

7E Paulo Portas por onde anda? Se não aparece rápido a dizer qualquer coisa, ainda se arrisca a que o BE o venha acusar de também estar em silêncio, tal qual acusou José Sócrates e Manuela Ferreira Leite. Realmente, por vezes o melhor é mesmo “ficar na caminha”.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 04 Setembro 2008

segunda-feira, setembro 01, 2008

Longe De Tudo

1A violência urbana em Portugal tem vindo a assumir proporções cada vez maiores. Despertamos para uma realidade de graves problemas de violência em bairros sociais, construidos para realojar pessoas que viviam em condições degradantes, principalmente na zona metropolitana de Lisboa.

2Há quem aponte nos defeitos de construção uma das origens do problema. Os bairros são autênticos guetos sociais, construidos quase sem nenhuma preocupação com o bem estar e satisfação das pessoas. São construções sem sentido de urbanismo, onde os espaços verdes quase não existem, não há equipamentos sociais de qualquer espécie, nem existe proximidade de locais geradores de emprego ou inclusão social.

3 - Por muito que seja injusto fazer hoje considerações sobre os processos adoptados para os planos de realojamento efectuados há vários anos atrás, é evidente que foi um erro construir bairros como o da Quinta do Mocho ou da Quinta da Fonte. O mais certo, num futuro próximo, é que se comece a falar na demolição de alguns destes bairros, pondo em prática novas formas de realojamento social, bastante mais disperso e apostando, por exemplo, no povoamento das zonas históricas das cidades.

4 O mês de Agosto está quase a terminar e com ele as férias. Mas de qualquer maneira, tal não invalida um registo para uma boa aposta para o que resta das férias deste ano, ou pensando já nas do próximo ano.

5Procurem na Internet um hotel em Vila Nova de Santo André, localizado entre a planície e a Costa Vicentina do Litoral Alentejano. Escolham uma semana de estadia com meia pensão, porque pelo menos nesta zona a cozinha alentejana é de muita qualidade. Para quem gosta de descansar, está no sitio certo.

6Para quem gosta de praia, cheguem e perguntem pelas Areias Brancas. Vai-se a pé ou de bicicleta e encontra-se uma praia à semelhança de muitas outras no litoral alentejano: praia “selvagem”, com espaço e tempo para gozar o mar, o sol e a areia. Para praias mais tradicionais, existe a Lagoa de Santo André, São Torpes e o pequeno pedaço de paraiso que é Porto Covo.

7Lisboa não está assim tão longe. O Algarve também não está assim tão longe. Mas o Litoral Alentejano conserva tudo o que Portugal tem de melhor, pelo menos por enquanto. É de aproveitar!

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 21 Agosto 2008

domingo, agosto 17, 2008

Turismo E Desenvolvimento

1Um estudo recente sobre a evolução económica no norte de Portugal indicou que as actividades relacionadas com o turismo possuem cada vez mais peso no rendimento das pessoas. O turismo é a actividade que comparativamente mais se tem desenvolvido na zona Norte, proporcionando mais emprego e maiores rendimentos aos seus trabalhadores.

2O turismo é um sector que muitos amarantinos, para não dizer a esmagadora maioria, entendem não estar bem aproveitado no concelho. Basta lembrar as inúmeras potencialidades naturais de Amarante, ou a herança cultural existente, para entender a importância que o sector pode ter entre nós.

3 - A aposta do PS não tem passado pela promoção turistica de Amarante. Aliás, é dificil entender qual a idéia estratégica do PS para o concelho. Se na gestão mais corrente dos assuntos da Câmara Municipal o PS pode ter argumentos para rebater as acusações da oposição, em termos estratégicos isso já não é possível.

4Não sabemos qual a idéia do PS para aquilo que Amarante poderá ser daqui a 10 ou 15 anos. È evidente que também não se pode considerar o turismo a cura para todos os males, até porque junto com a promoção turística terá que existir também, e pelo menos, uma forte aposta cultural. Amarante nunca será uma terra de turismo de massas, mas pode alicerçar no turismo uma boa parte do seu desenvolvimento.

5Só que Amarante não pode ser um concelho de uma aposta só. Estamos demasiado perto de cidades que tem vindo a assumir cada vez mais protagonismo e dinâmica em várias áreas, como Penafiel, Vila Real e o Porto.

6Não há por isso muito espaço para nos especializarmos num sector e esquecer todos os outros, caso contrário daqui a alguns anos o concelho estará cada vez mais esvaziado. O turismo é uma boa aposta para reter pessoas e dinamizar a economia local. Mas a cultura também. Assim como a indústria, o desporto ou a qualidade do comércio tradicional.

7Tudo aspectos que fazem com que as pessoas gostem de viver numa cidade. E mais importante que isso, tudo aspectos que fazem com que as pessoas possam ter possibilidades de desenvolver em Amarante a sua actividade profissional. Nenhuma terra resiste forte se não tiver trabalho para oferecer.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 7 Agosto 2008

domingo, agosto 03, 2008

Furadores De Papel

1Robert Murat, inglês implicado no caso Maddie, vai receber uma indemnização de vários jornais ingleses, de valor superior a 500.000 euros. Os jornais britânicos assumem ter pulicado noticias falsas e sem qualquer fundamento.

2É preocupante que haja jornais a publicar deliberadamente noticias falsas, apenas com o objectivo de aumentar as vendas e consequentemente, os lucros. O jornalismo deve ser diferente, deve ter preocupação com o rigor e a verdade.

3 - Sem querer pôr em causa a qualidade do jornalismo que se pratica em Portugal, é notória a inclinação da imprensa em termos ideológicos, sendo que todos sabemos se este ou aquele jornal é mais de esquerda ou mais de direita.

4Se este facto já é suficiente para ficarmos preocupados, pior se torna quando chegam ao nosso conhecimento situações em que se procuram esconder acontecimentos. Uma coisa é um determinado jornalista publicar a sua opinião dos acontecimentos. Outra coisa, muito condenável, é fazer de conta que as coisas não aconteceram.

5Em Amarante, o Presidente de Câmara ameaçou um Vereador da Oposição com um furador de papel. Um jornalista presente na sala afirma não ter visto o incidente, justificando assim o facto de não o ter relatado. No entanto, mesmo assim o incidente chegou ao conhecimento da opinião pública, através de orgãos de comunicação social com impacto nacional.

6Sem querer julgar ninguém, é caricato que uma ameça fisica tenha passado despercebida a um jornalista que se encontrava na mesma sala em que se realizava a reunião.

7Mesmo porque o acontecimento em si é relevante em termos políticos. Nas últimas eleições disputadas em Amarante muito se falou nos famosos pontapés de Ferreira Torres, ligando o carácter e temperamento de um candidato com a sua capacidade para ser Presidente de Câmara.

8Assim, o jornalista presente na sala no momento em que Armindo Abreu ameaçou fisicamente um vereador, prestou um mau serviço aos amarantinos. Independentemente da razão desse mau serviço ter sido a omissão ou a incompetência.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 24 Julho 2008

domingo, julho 20, 2008

Segredos

Vejo-te dançar, longe de casa, livre do dia que passou, livre de obrigações, de cigarro e copo na mão, olhos fechados, pensamento perdido na música.

Quando abres os olhos, pedes-me segredo. Eu não te vi. Tu não estavas lá.

Os segredos podem ser descobertos mas não é recomendável que isso aconteça.

Até onde nos transportam os nossos segredos? E os segredos que guardamos dos outros, tantos que até os esquecemos todos?

Hoje não podemos revelar os nossos segredos, porque hoje ninguém está preparado para os ouvir. Ninguém vai entender uma traição, um comportamento inesperado, uma atitude impensada, um amor improvável.

Mas de que vale tanto segredo, se nenhum dos nossos segredos é apenas nosso? Todos são partilhados com alguém, porque o que fazemos e desejamos manter desconhecido, nunca fazemos sozinhos. Há sempre mais alguém que carrega o segredo junto connosco.

Até que um dia mais tarde, quando os segredos de hoje já não nos importarem ser revelados, vamos ser nós próprios a falar deles, desabafando o passado, perdendo os segredos também daquelas pessoas que os partilharam connosco.

Mas hoje não podemos fazer isso. Porque ninguém está preparado para ouvir os nossos segredos. Porque os nossos segredos são a outra face da nossa vida, aquele espaço só nosso, onde só entra quem nós escolhemos.

Mas se de repente entra alguém que não foi uma escolha mas sim um acaso? O nosso segredo perde valor por instantes, porque alguém o partilha connosco muito antes de o termos percebido. E abre-se mais um espaço da nossa alma, há mais alguém que entra.

Um segredo é aquilo que contamos a uma pessoa de cada vez.

Bola Ao Centro

1Muito rapidamente, assim que Manuela Ferreira Leite tomou posse como Presidente do PSD, logo lhe colocaram os primeiros defeitos. No entanto, apesar dos esforços de muitos comentadores, todos os defeitos se resumem a um simples facto: Manuela Ferreira Leite é demasiado igual a José Sócrates.

2Características e orientações políticas que em José Sócrates são virtudes, a Manuela Ferreira Leite são apontadas como defeito. È um custo de popularidade, ou melhor dizendo, é um custo de marketing, que Manuela Ferreira Leite vai ter de carregar até às eleições de 2009.

3 - Por muito que a opinião possa ser polémica, José Sócrates não é um politico de esquerda. E não fossem alguns pesos pesados do PS, como Manuel Alegre, e rapidamente o PS, pela mão de Sócrates, já seria ideologicamente um partido de centro político.

4Será que caminhamos eleitoralmente por um caminho sem diferenças entre o PS e o PSD? Ou será que já estamos verdadeiramente numa fase em que as eleições se decidem, antes de mais, pela capacidade mediática do candidato e pela sua capacidade pessoal de afirmação, independentemente das ideias de fundo do seu partido?

5O grande desafio de Manuela Ferreira Leite é marcar a diferença para o PS. Se por um lado José Sócrates tem governado com políticas de direita, não deixa de ser verdade que o PSD tem inúmeras questões onde marcar a diferença, porque se há partido em Portugal próximo do centro político, esse partido é o PSD. Ao PSD cabe-lhe ser capaz de desmontar o discurso socialista, que insiste sempre em dizer que os problemas do país são culpa dos anteriores governos, táctica que já é conhecida desde os tempos de António Guterres.

6 E em termos de imagem, se Manuela Ferreira Leite nunca conseguirá ter uma presença tão forte como José Sócrates, pode ter neste aspecto das coisas do marketing uma grande vantagem: aproveitar a sua imagem simples, que não transparece grandes preocupações com o aspecto, ou com o show off das televisões, para fazer passar a sua mensagem de uma forma mais tranquila, mais sincera e mais verdadeira.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 10 Julho 2008

domingo, julho 06, 2008

De Volta A 2001

1Amarante regressa a 2001. Ferreira Torres volta ao seu passado de sempre, sem perceber que caminha de novo para um beco sem saida. Mas felizmente isso agora é um problema para os marcoenses resolverem. Os amarantinos já fizeram a sua parte na luta contra o populismo.

2 Amarante volta ao confronto entre PS e PSD. Será curioso ver o comportamento do PS face ao PSD nos tempos mais próximos, bem como o comportamento daqui para a frente dos vereadores eleitos em 2005 nas listas de Ferreira Torres. Será curioso ver como vai agora o PSD fazer oposição.

3 - A saida de cena de Ferreira Torres é mais complexa do que parece. Se por um lado deixa o caminho mais aberto para o PSD, por outro vai pôr à prova toda a estratégia do partido para as eleições de 2009. E, talvez mais decisivo, vem também colocar novos desafios ao PS.

4O PSD deve pensar em alguns problemas que tem para resolver. O partido tem apresentado ao longo das últimas eleições uma crescente dificuldade em obter apoio no eleitorado mais urbano. Por outro lado, tem também um grande desafio na zona de Vila Meã, onde subir a votação é imprescindível para conseguir vencer as eleições.

5 Importante será perceber como mobilizar parte do eleitorado que em 2005 votou Ferreira Torres. Muitas dessas pessoas nunca se tinham sentido motivadas para votar em eleições anteriores. Pode ser uma previsão errada, mas será mais difícil levar as pessoas a votar em 2009, existindo o risco de as próximas eleições serem menos participadas que as de 2005. E o eleitorado tradicional do PS é historicamente mais mobilizado.

6Do lado socialista, Armindo Abreu vai ter dificuldades em fazer vingar a idéia de que ainda não chegou a hora da mudança. Em 2005 apelou ao voto útil por causa da candidatura de Ferreira Torres. E agora o que vai fazer? Atirar as culpas das insuficiências da sua gestão para as atitudes da oposição ao longo deste mandato, tentando colar o PSD ao Movimento Amar Amarante e procurar que as pessoas se esqueçam de 20 anos de governação do PS.

7Armindo Abreu terá que conseguir convencer os eleitores de que se candidata a um mandato para levar até ao fim. Nesse aspecto, assume muita importância a equipa a apresentar pelo PS, facto que o PSD pode aproveitar para pôr em causa a capacidade do PS em renovar a sua equipa.

8No meio de tudo, a política nacional tem também uma palavra a dizer em Amarante. Como será que estará José Sócrates em 2009, no que respeita à sua popularidade?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 26 Junho 2008

domingo, junho 22, 2008

O Segundo Mundo

1Um dia tive um professor a quem ouvi dizer que “Quando o comunismo acabar vai ser uma chatice”! Durante esta semana alguém disse que “Para que os países do terceiro mundo vivam um bocado melhor, os paises mais desenvolvidos terão que viver um bocado pior.”

2Ambas as frases surgem a propósito de um número assustador, que revela que ao longo do ano de 2007 mais de 60% do crescimento económico mundial deveu-se a 3 países: China, India e Brasil.

3 - De facto, o desenvolvimento registado em países com sistemas políticos mais afastados da democracia tal qual a vivemos, ou nos países com mais potencial de crescimento, como o Brasil, já está a fazer com que nos países mais desenvolvidos as pessoas comecem a viver pior.

4Pagamos os nossos alimentos mais caros, pagamos os combustiveis mais caros, as taxas de juro sobem na tentativa de controlar a inflacção resultante do aumento dos preços dos bens essenciais.

5Dizer que o fim do comunismo é uma chatice é uma idéia carregada de ironia. O comunismo não acabou na China, mas para surgir a actual crise bastou os chineses terem alterado o seu modo de vida, deixando o cultivo dos campos e passando a viver cada vez mais nas cidades, tornando-se simples consumidores como cada um de nós.

6Os países emergentes, como China, India e Brasil, vão consumir cada vez mais matérias primas e bens essenciais. Os seus habitantes vão concerteza beneficiar de todo o desenvolvimento económico que se registar, mas nós vamos ter que nos ajustar a uma nova realidade, gastando mais dinheiro no que é essencial e menos no que é supérfulo. E imagine-se o que não acontecerá se o surto de desenvolvimento económico se generalizar no continente africano.

7 A JSD de Amarante tem sido feliz nos slogans que escolhe. Depois do “Atreve-te” vê-se agora com mais frequência o slogan “Há Alternativa”. Uma alternativa política tem que ser construida com bases sólidas, a partir de pequenos actos do dia-a-dia na vida de um partido que o tornem mais forte.

8Mesmo que os eleitores não saibam de tudo o que se passa no interior de um partido, acabam por se aperceber da sua credibilidade e capacidade de trabalho á medida que as campanhas eleitorais se vão desenrolando. A chave das eleições de 2009 vai estar na capacidade de união e liderança. È isso que dá corpo a uma alternativa.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 12 Junho 2008

terça-feira, junho 10, 2008

"À Espera De Um Sinal De Ti"

silvia Hoje escreve... Silvia Ferreira!
Só os melhores amigos podem fazer parte do nosso próprio espaço. Por isso, a Silvia tem direito a entrar em "Onde Andam Os Alquimistas", em tributo ao espaço que a amizade foi conquistando!

 

"Magoa-me demasiado quando te vejo a reagir de uma forma tão natural, simplesmente como se os poucos meses que tivemos juntos não tivessem existido.

Sei perfeitamente que te escondes por detrás de uma máscara, onde os teus sentimentos ficam enclausurados e disfarçados do resto do mundo. No entanto, custa na mesma.

Custa porque sei que gostei mais de ti do que tu de mim. Falo no passado, sim. Faço-o porque no dia em que decidimos terminar soube que seria o ponto final definitivo.

"Se não resultou porque continuaram a tentar?" Esta talvez tenha sido a frase que ecoou na minha cabeça durante mais tempo. Sei que tentei, longe de mim deixar de tentar e de arriscar! Todavia, sei, aliás, sinto, que acabou mesmo. Posso ainda gostar muito de ti, demasiado até, mas sei que chegou a hora definitiva de virar a página.

Porque sei que se sentisses o mesmo que eu, com a mesma intensidade, terias ultrapassado todas as tuas barreiras. Afirmo-o porque por ti ultrapassei o receio de fracassar, o que sentia era mais forte do que tudo.

Agora choro não porque te quero, pois não é o caso, mas porque perdi aquilo que tive nas minhas mãos, aquilo pelo qual lutei, e choro essencialmente pela percepção de que o que sentia não bastou. Se te dizia vezes sem conta o quanto gostava de ti era porque simplesmente me sentia feliz com aquilo que tinha.

Não tens noção de como fui feliz nos teus braços...de como por vezes nem acredito que te tive mesmo. É por tudo isto que carrego cada memória comigo, carrego-as dolorosamente, não por terem sido más mas por terem sido tão marcantes que a perda é mais penosa.

Não me adianta dizer-te tudo isto...não passam de sentimentos meus...para quê continuar a tocar na ferida se a cura não é esta? Certamente que estas palavras só te iriam retrair mais ainda e não é disso que eu preciso.

Acho que apenas precisava da parte que restou de tudo...a amizade. Precisava somente de um abraço teu...um abraço do amigo. Não entendo porque teimo em sentir a necessidade de te ter do meu lado. Precisava de um ombro de amigo e sem entender porquê, é o teu que eu quero...talvez porque tenho receio de perder também esse pedaço que restou de ti.

Não sei quando conseguirei terminar com estes lapsos de recordações e pensamentos. Não sei quando é que as minhas lágrimas secarão. Não sei quando me voltarei a sentir feliz, verdadeiramente feliz.

Só sei que precisava de sentir os teus braços envoltos em mim e que depois partisses da minha vida.

Posso parecer contraditória mas sei que o afastamento físico e o tempo são uma das curas para esta minha doença de ti. No fundo, talvez só precisasse que me compreendesses...que me dissesses isso a olhar nos meus olhos..."

O Nosso Spread

1Muito se tem falado na falta de liquidez do sistema bancário. Em termos simples, liquidez não é mais do que o dinheiro que o banco tem disponível para emprestar aos clientes. Não esquecer que o negócio do crédito é o principal motor do sistema bancário.

2Como podem os bancos obter dinheiro para emprestar aos clientes? Em termos simples, de duas maneiras. Por um lado, oferecendo taxas mais altas nos depósitos a prazo para assim captar mais dinheiro no mercado. Por outro lado, numa operação financeira mais complicada, podem pedir dinheiro emprestado a outros bancos que tenham liquidez suficiente.

3 - Assim, um banco pode pegar, por exemplo, no conjunto da sua carteira de crédito á habitação e oferecer esse conjunto de créditos como garantia de um empréstimo, obtendo assim dinheiro para emprestar aos seus clientes. Mas que spread irá o banco pagar nesse empréstimo?

4Não há muito tempo, esses empréstimos entre bancos faziam-se com spreads reduzidos, inferiores a 0.2%. Neste momento, existem bancos do sistema português e europeu dispostos a pagar spreads bem superiores a 1% para conseguirem obter crédito no mercado intrabancário.

5Assim, se para obter dinheiro o nosso banco paga spreads superiores a 1%, onde irá parar o spread que todos iremos pagar no nosso crédito? Terá que ser necessariamente mais alto. Já não basta o preço do petróleo ou o preço dos bens alimentares, o preço do crédito também vai subir.

6A essência do problema vem da crise subprime dos EUA. Mas não se pense que apenas nos EUA existe a mistura explosiva que combina crédito de alto risco com taxas de juro baixas. Também no mercado português e europeu essa prática foi corrente durante os últimos anos, fruto da grande concorrência no mercado bancário.

7Imagine-se que de um momento para o outro as nossas casas se desvalorizam de forma brutal no mercado imobiliário. Os bancos ficam sem garantia suficiente para o crédito que nos concederam. No limite, muitos deles podem falir. E a falência do sistema bancário seria um abanão enorme no frágil equilibrio da economia de mercado.

8Todos procuramos crédito ao mínimo preço possível. Mas a tendência vai inverter-se, mesmo que lentamente. O preço do crédito será mais de acordo com o risco do crédito. O nosso spread vai subir. E mesmo parecendo contraditório, os fabulosos lucros dos bancos vão baixar.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 29 Maio 2008

domingo, maio 25, 2008

A Tua Mão

A estrada não terminava mais. Parecia caminhar numa direcção estranha, ali tão perto. Mas a viagem não terminava nunca.

A única estrada, que se repetia vezes sem conta. O único caminho, aquele que os pés voltavam teimosamente a percorrer, que encontravam de novo após cada colina ultrapassada.

Não havia porto de abrigo. No meio da viagem, um pequeno espaço bem verde. Não servia. No meio da viagem, um local bem fresco com muita água. Não servia. No meio da viagem, uma boleia de mão dada, quente e passageira. Não servia.

Nada a fazia parar. Não aparecia nada que parasse a viagem para aquele sítio ali tão perto.

Por onde agarrar a paragem naquela luta contra a estrada, contra aquele impulso de não parar nunca? Seria possível sair daquele caminho e procurar no meio da paisagem alguma pedra para se sentar?

As pedras rolavam sem parar pelas margens da estrada.

Até que uma parou. Apareceu e trouxe o espaço com ela, estendeu a mão, quente e disposta a ficar. Aparentemente disposta a ficar.

Mas com tantas pedras a rolar pela margem, porque haveria uma delas ficar parada, disposta a prosseguir viagem pela estrada que não se via o final?

Após cada curva, ela acreditava cada vez mais que sim. Porque acreditar está na razão de quem procura o destino da estrada interminável.

E que outra saida senão acreditar? Pelo menos desaparecia o medo, desaparecia a ansiedade, voltava por momentos a calma de quem caminha sem saber para onde, mas que se sente bem com o caminho tal qual ele é, sinuoso e interminável.

Talvez a estrada se desvie, ficando por perto de casa. E tudo acabe por ficar bem, tal como está agora.

 

Competência E Modernidade

1Bob Geldof é um activista no verdadeiro significado da palavra. Aproveitou a oportunidade de intervir numa conferência sobre desenvolvimento sustentado organizada pelo BES, para apontar o dedo, de forma aberta, ao que se passa em Angola.

2 – Quem não conhece um qualquer empresário português, que depois de visitar Angola para concretizar um negócio, não tenha dito que o que é preciso para o sucesso naquele país é conhecer as pessoas certas e distribuir algum do lucro do negócio entre elas?

3 – Por imperativos de carácter económico, obviamente que o BES veio dizer que não se revê nas declarações de Bob Geldof. Todos sabemos porque razão o BES tinha que agir desta forma. Todos sabemos também que o que disse Bob Geldof é verdade. O Mundo corre assim, cheio de hipocrisia e submissão dos valores ao poder económico.

4 – José Luis Gaspar é o candidato do PSD para Amarante. O candidato da Competência e Modernidade está de volta. Muitas vezes perdido em trabalhos que nada dizem aos amarantinos, o PSD teve a serenidade para encontrar um bom candidato.

5 – José Luis Gaspar precisa agora de encontrar o seu caminho e a sua estratégia, fazendo a ponte entre os caminhos que o PSD tem disponíveis, mais pela direita, ou mais pela esquerda, mais próximo do eleitorado que votou Ferreira Torres em 2005, ou mais próximo do eleitorado que votou PS em 2005.

6 - Ou, numa alternativa teoricamente ideal, encontrar o seu caminho, num estilo próprio, muito pouco preocupado com o passado. Porque José Luis Gaspar terá antes de mais que demonstrar aos eleitores que é capaz de ser Presidente de Câmara.

7 – O confronto com Armindo Abreu é sempre difícil. E a próxima campanha eleitoral vai estar carregada de temas pesados, como a Barragem de Fridão, entre outros. Se o confronto em 2009 se resumir a PSD e PS, vai-se discutir mais Amarante, mais competência, mais modernidade, mais inovação, mais alternativa.

8 – José Luis Gaspar terá de estar preparado para isso. E antes dele, também o PSD terá de estar preparado para isso.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 15 Maio 2008

domingo, maio 11, 2008

Psicologia Da Multidão

1Tal como uma equipa de futebol é mais do que a simples soma dos seus jogadores, uma multidão também actua para lá da simples soma dos pensamentos das pessoas que dela fazem parte. Por isso, as equipas desportivas, as empresas, as multidões ou as organizações políticas valem sempre mais do que o conjunto das pessoas que as constituem.

2 – O PSD nacional comporta-se como uma multidão incontrolável. De um lado, a candidatura de Manuela Ferreira Leite, que pode ser a candidata do sistema, a candidata que não representa por si só uma renovação, mas que assume uma candidatura que parece capaz de devolver ao partido a dinâmica que sempre demonstrou, fazendo a ponte entre as bases e os militantes mais ilustres do PSD.

3 – Do outro lado do mesmo partido, uma confusão difícil de entender. Pedro Passos Coelho lança uma candidatura para marcar posição para o futuro. Não está mal. Pedro Santana Lopes lança uma candidatura para tentar contrariar a história. Está muito mal. O presidente da distrital do PSD de Lisboa, juntamente com o presidente da distrital do PSD do Porto, falam numa candidatura de Alberto João Jardim. Não está bem nem mal, está péssimo.

4 – Ainda bem que já não são as estruturas distritais do partido que possuem o poder para eleger o novo líder, caso contrário o PSD estaria a caminhar para o abismo. Ainda bem que os militantes podem usar da palavra através do seu voto, percebendo o que se tem passado ao longo dos últimos 3 anos, tendo uma nova oportunidade de devolver o PSD ás suas verdadeiras origens.

5 – Ninguém saberá qual o caminho que o partido seguirá de 31 de Maio em diante. No entanto, no meio de toda a confusão que tem passado para a opinião pública, de alguma forma exagerada pela cobertura da comunicação social a pessoas que fazem da política a arte da agitação e não a arte da argumentação, uma coisa positiva pode acontecer: o PSD vai ficar clarificado.

6 - E essa clarificação é boa para o partido e para Portugal, que bem precisa de uma oposição credível e capaz de se afirmar como alternativa.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 30 Abril 2008

domingo, abril 27, 2008

A Força Do Poder

1Em 2001, o PS venceu as eleições porque o PSD apresentou o nome de José Luis Gaspar muito próximo do acto eleitoral. Em 2005, o PS venceu as eleições porque apareceu uma candidatura populista e alheia á evolução política em Amarante.

2 – O poder do PS, mesmo com maioria absoluta, nunca precisou de uma oposição com atitudes de obstrução para que as pessoas sentissem que era preciso mudar. A mudança não aconteceu em 2001 ou 2005 devido a acontecimentos e decisões pouco comuns, que beneficiaram o PS.

3 – Desta forma, a proposta aprovada recentemente pelos vereadores da oposição, que retira vários poderes delegados ao Presidente de Câmara, não parece consistente em matéria de estratégia. Mas mais grave do que isso, pode surgir aos olhos das pessoas como falta de respeito para com a figura institucional do Presidente de Câmara.

4 – O PS venceu as eleições de 2005. Bem ou mal, tem que governar a CMA até 2009 e ser avaliado nas próximas eleições. Retirar poderes delegados no Presidente de Câmara é contra a nossa tradição democrática. A força das palavras é maior que a força do poder.

5 – Em Dezembro de 2007 a CMA organizou uma série de actividades recreativas na Alameda Teixeira de Pascoaes. Estiveram presentes crianças que estudam nas escolas do perimetro urbano da cidade. Recentemente a CMA proporcionou também a presença numa peça do Teatro Filandorra ás crianças das escolas do perimetro urbano.

6 – Sem pôr em causa a utilidade das iniciativas, ocorrem algumas perguntas. Será que as escolas dos meios rurais foram convidadas para ambas as iniciativas? Será que foram convidadas em tempo útil, com condições para aceitarem o convite? Será que a CMA faz um esforço para evitar discriminar essas crianças? Será que as escolas dos meios rurais, já de si discriminadas por exemplo, na dificuldade em aceder aos serviços da Biblioteca Municipal, não merecem um esforço maior?

7 – A desigualdade sente-se de várias maneiras. Para além das diferenças de poder económico, são enormes as diferenças entre as pessoas no que respeita ao acesso a infraestruturas ou educação. Mas em Amarante será tão dificil combater assimetrias entre as várias escolas? Ainda por cima em coisas tão simples como o acesso a actividades lúdicas, peças de teatro e serviços da biblioteca municipal?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 17 Abril 2008

domingo, abril 13, 2008

Voodoo Child

Do outro lado, há um pequeno boneco de pano que nos faz sentir.

Quando vou sinto que estás lá. Se não estás também o sinto muito antes de chegar. Olho nos teus olhos e sinto se está alguém do outro lado. Leio o que escreves e sei o que sentes, mesmo quando dizes que o que leio não significa nada.

Sinto, pela hora do sinal, se está alguém do outro lado. Alguém de longe, que não conheces, que nunca viste, mas de quem gostas. Tropeço em ti quando falo com alguém. Oiço o que não quero, descubro o que não espero.

Sei que estás triste, mesmo quando os teus olhos mostram o contrário. Sei que estás triste mesmo quando espalhas alegria em tudo ao teu redor. Sei quando gostas, quando te apetece, quando estiveste a chorar.

Não entendo quando pedes para ir, quando pedes para aparecer mais um bocado. Não entendo quando te esqueces. Não entendo quando te lembras no momento em que menos espero.

Demoro a descobrir o que procuras, o que te faz seguir em frente.

Sei do que sentes falta, sei porque alguém é capaz de se sentir no meio da maior confusão. Quando hoje dás um passo em frente, amanhã parece que deste dois para trás, porque tudo cai junto de ti, como castelos de cartas.

Sentir, sentir verdadeiramente, tem que ser de frente, bem junto. Porque só assim podemos conhecer alguém. Conhecer de verdade, ao ponto de escrever adoro-te.

Sinto que te conheço. Sinto que não conheço o resto que te prende. Se calhar, há um mundo no qual não consigo entrar.

Sinto que descobri que ainda gosto. Sempre que sentires, eu vou sentir também, tal como o meu boneco de pano que carregas contigo.

A Ideologia Da Liberdade

1 O debate ideológico está a perder interesse. A sociedade apega-se pouco a idéias e comportamentos formatados, evoluindo no sentido de se transformar numa sociedade individualista e feroz, onde existem cada vez menos simpatias de grupo.

2 – Temos um Governo de esquerda que aplica idéias de direita. Movimentos de cidadãos afastados dos partidos e porque não, afastados de tudo o resto. Hoje vota-se mais nas pessoas, na sua imagem e no seu marketing, do que na ideologia que defendem.

3 – A crescente falta de base ideológica na formação social é o principal problema de Educação em Portugal. Alunos a agredir professores nunca foi vulgar, mas sempre aconteceu. Falta de respeito pelas regras escolares nunca foi vulgar, mas sempre aconteceu. Falta de capacidade de liderança de um professor dentro da sala de aula nunca foi vulgar, mas sempre existiram professores sem essa capacidade.

4 – O desrespeito pela idade dos outros é que não pode ser vulgar. O desrespeito pela autoridade dos outros é que não pode ser vulgar. A falta de autoridade patente na figura da professora do liceu Carolina Michaelis é que não pode ser vulgar.

5 – Colocar toda a discussão sobre política de educação na figura da avaliação dos professores, desvalorizou mais uma vez a profissão aos olhos de todos. Os professores são hoje, de forma injusta, profissionais diminuidos aos olhos dos alunos e do público em geral, quer no que toca á sua capacidade profissional, quer no que toca á sua autoridade.

6 – Pode ser uma visão pessimista das coisas, mas quem convive de perto com a geração de adolescentes de agora, corre o risco de ficar seriamente assustado. Irreverência é saudável em doses controladas, mas hoje em dia confunde-se irreverência com estupidez.

7 – Uma pergunta ingénua: Se a professora do liceu Carolina Michaelis tivesse reagido de outra forma e tivesse tomado uma posição de força perante a aluna, em vez de aparentemente ter tentado sair da sala, não estariamos nesta altura debaixo de um coro de indignação a favor da tão famosa “liberdade de expressão e afirmação dos alunos”?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 3 Abril 2008

domingo, março 30, 2008

Os Polícias Do Mundo

1 – Passarram 5 anos sobre a Cimeira das Lajes, ponto de partida simbólico da guerra no Iraque e um marco para muita gente que vê nessa guerra a causa de todos os males e problemas mundiais.

2 – A realização da Cimeira das Lajes nunca teve significado suficiente no nosso país para provocar alterações de fundo no panoramo político, para servir de argumento decisivo em campanhas eleitorais ou para animar a discussão partidária. Em Portugal existem outros problemas mais importantes aos olhos das pessoas.

3 – No entanto, algumas personalidades portuguesas ainda não esqueceram a Cimeira das Lajes, como é o caso de Mário Soares. Se é fácil entender o simbolismo da Cimeira, já não é assim tão fácil entender que se fale dela como se tivesse sido o único ponto de partida para a guerra no Iraque, como se todos os desenvolvimentos anteriores à Cimeira não tivessem significado nada.

4 – Por coincidência de datas, 5 anos depois do início da guerra, os EUA encontram-se em pleno processo eleitoral. A disputa entre Barack Obama e Hillary Clinton tem ocupado grande parte da informação que nos vai chegando. A popularidade dos candidatos Democratas na imprensa portuguesa quase nos faz esquecer que do outro lado vai estar o candidato Republicano, com todas as hipóteses de vir a ser eleito Presidente.

5 – O processo eleitoral nos EUA é muito longo, pelo que muita coisa pode mudar. E se não há dúvida que o tema da guerra no Iraque vai ser fundamental para o desfecho das eleições, já não é nada claro que os americanos penalizem os Republicanos por isso.

6 – Aparentemente, muitas personalidades de esquerda na Europa esperam por uma derrota dos Republicanos. Mas poderá suceder exactamente o contrário e teremos como Presidente dos EUA alguém que não sendo tão obstinado como Bush, partilha daquela presunçosa idéia americana de que são eles os polícias do Mundo.

7 – E será que a História não lhes dá o direito de pensar assim? O que seria da Europa e o que faria a Europa se sofresse na pele um atentado idêntico ao de Setembro de 2001? Com toda a nossa tolerância, seriamos capazes de ser os polícias do Mundo?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 20 Março 2008

domingo, março 16, 2008

Amarante De Elite

1 – Quem visitou Londres facilmente compreende o conceito de “Cidade Criativa”. Uma cidade com vida para lá dos seus monumentos ou da imponência das avenidas, lojas, jardins,estádios ou do fantástico serviço de metro. Londres tem mercados inesqueciveis, museus para todos os gostos, ruas animadas a toda a hora, uma diversidade cultural que se nota em cada pormenor, em cada esquina.

2 – Sem querer comparar Londres com Amarante, porque seria comparar o incomparável, tem interesse ler na edição de 14 de Fevereiro do JA os resultados de um inquérito feito em Amarante pelo grupo de jovens do projecto “Cidade Criativa”.

3 – Nele consta que os amarantinos, no que toca à Cultura, notam uma escassez de iniciativas, que entendem deviam ser menos elitistas. Assim, já não é simplesmente uma critica politica dizer que em Amarante as iniciativas culturais são elitistas, dado que as pessoas sentem isso mesmo.

4 – A programação cultural de um concelho deve incluir todo o tipo de iniciativas. Amarante tem uma programação cultural influenciada por um conjunto de pessoas que ainda deve pensar que a raiz do saber cultural reside na esquerda politica e que tudo o resto é paisagem.

5 - Falta diversidade cultural. Certas iniciativas podem ter muito valor, a Câmara Municipal pode até reclamar mais participação das pessoas, mas acontece que a Cultura é muito mais que concertos de música clássica, recitais de poesia ou apresentação de livros.

6 – A Cultura deve fazer respirar a cidade e o concelho, deve motivar as pessoas a participar, indo ao encontro das suas preferências, gostos e tendências, mais ou menos populares. A Cultura deve entranhar-se no ar que respiramos quando pisamos uma cidade. Deve aproveitar a sua história, as suas vivências, as suas tradições.

7 - Temos uma cidade e um concelho criativos. Amarante tem história, tem tradição, tem paisagem, tem gente, tem um conjunto de associações notável, tem vida própria. Precisa de mais diversidade cultural que aproveite melhor o que Amarante tem de diferente.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 6 Março 2008

quinta-feira, março 06, 2008

Tatuagens No Peito

Há perguntas tão dificeis...

Escrever por desafio de alguém é em si mesmo um grande desafio. Tentar responder a perguntas que os outros não conseguem responder por si mesmos é uma tarefa épica.

 

Às vezes pergunto

Será que tu existes?

Ou és apenas uma fantasia.

Se existes, onde estás?

Por onde andas,

Que não consigo te encontrar?

Deves estar distante

Pois demoras tanto a chegar.

 

Oh, Amor! Se existes vem depressa,

Vem tirar essa tristeza

Que paira sobre mim

Que magoa o meu coração

Que fere a minha alma.

Vem enquanto há tempo,

Pois pouco a pouco estou morrendo

Só por te esperar.

 

O amor é um estado de alma em que encontramos um porto seguro, uma mão amiga, um canto de felicidade. É um estado passageiro de alegria permanente, em que tudo é mais bonito, mais fácil, mais natural. Em que tudo não vai piorar nunca.

O amor não combina com egoismo. Os egoistas não sabem amar mesmo que pensem que sim. O amor afasta-nos da nossa zona de conforto sem darmos por isso, obriga-nos a partilhar e a entregar uma parte de nós.

De algumas coisas tenho a certeza. Um amor não partilhado não merece ser vivido, por muito que custe passar a desilusão. Nunca conhecemos verdadeiramente alguém. Mesmo nunca.

No fim, o nosso porto de abrigo são os nossos amigos e as coisas que mais gostamos de fazer. Só isso acalma a inquetação que fica após a desilusão.

Posso terminar sem responder á pergunta?

As músicas do deserto cantam a água. As músicas das cidades cantam o amor.

Posso terminar a fazer uma pergunta?

"Amor sem sexo é amizade"?

(Post to Brightside)

terça-feira, março 04, 2008

O Medo Dos Corajosos

1 – Os timorenses não tem medo. Desde o processo de independência, se percebeu que um grupo de timorenses nunca virou a cara á luta durante largos anos. Mas o reconhecimento, na política e na vida, é fugaz.

2 – A tentativa de golpe de estado em Timor é um marco na sua curta existência democrática, executado por um conjunto de pessoas sem memória histórica, sem gratidão e sem medo. A falta de medo junto com a falta de bom senso e cultura democrática é fatal e pode pôr em causa muitas conquistas.

3 – Em Portugal, o desemprego atingiu os níveis mais altos dos últimos 20 anos. O Governo dirá que está a cumprir a promessa de criar 150.000 empregos nesta legislatura, mas o que é facto é que isso não se traduz em criação liquida de postos de trabalho. Logo, quando o Governo afirma que tem cumprido a sua promessa, será bom perguntar porque razão o desemprego aumenta em vez de diminuir.

4 – Paralelamente, dá-se uma melhoria dos indicadores de crescimento económico, o qual não se reflecte em mais postos de trabalho. Se há crescimento com menos postos de trabalho, os portugueses estão mais produtivos. Mas mais produtividade exige politicas económicas capazes de gerar mais empresas, mais iniciativa, mais emprego.

5 – Na semana passada, a CMA e as juntas de freguesia assinaram protocolos para transferência de verbas necessárias á realização de pequenas obras em cada freguesia. Para que conste, em tempos não muito distantes, e sem se saber qual o critério, certas freguesias tinham que passar um ano inteiro sem direito a um único protocolo. Foi já durante este mandato, e por iniciativa e imposição do PSD, que ficou estabelecido que todas as freguesias devem ter acesso a esta fonte de receita.

6 – A coragem para escrever, para falar ou intervir, não deve ficar por casa. Coragem em demasia é um defeito que nos leva a fazer coisas absurdas. Mas falar para dentro, denunciar em circulo fechado, com medo em demasia, não é a atitude correcta para quem se afirma como interveniente na vida política.

 

IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 21 Fevereiro 2008

domingo, fevereiro 17, 2008

Remodelação Toca a Todos

1 – Segundo Armindo Abreu, se as eleições fossem hoje o PS ganhava com maioria absoluta. Em entrevista afirmou ainda que é dificil cativar os jovens para a politica e que este mandato, pela dimensão reduzida da sua equipa, tem sido muito exigente.

2 – Sendo aprovada a nova lei autárquica, bastará ganhar por um voto para um partido ter maioria absoluta, logo a primeira afirmação não anda longe da verdade.

3 – Segundo se consta, Armindo Abreu exige que os funcionários camarários que exercem actividade sindical lhe vão dar conhecimento antes de afixar um simples cartaz, mesmo que o façam no espaço que legalmente lhes está destinado. Tiques de maioria absoluta.

4 – Parece que a posição foi comunicada aos sindicalistas através de uma folha de papel, afixada na Câmara Municipal, que continha essa instrução do Presidente da Câmara, escrita num português de qualidade duvidosa e sem identificar o autor da mensagem. Dificuldades próprias de quem tem uma equipa reduzida em dimensão e em qualidade.

5 – Os jovens não são atraidos pela politica e preferem outras formas de intervenção, porque na politica proliferam pessoas que querem impôr a sua vontade pela força da sua posição hierárquica e não por força da qualidade e capacidade de liderança.

6 – Não adianta muito pedir uma remodelação da vida política, porque não se vê alguém capaz de o fazer. A liderança da Câmara Municipal de Amarante precisa de remodelação, mas a sua oposição também precisa de se reconverter rapidamente, sob pena de andar sempre a correr atrás da oportunidade perdida.

7 – Até Junho o PSD de Amarante deve anunciar o seu candidato, o qual terá que unir o partido e juntar uma equipa positiva e dinâmica, que faça esquecer alguma paz podre que o partido tem vivivo. Oxalá surja um candidato capaz de se impor por si próprio e fazer tremer a concorrência. Caso contrário, também o PSD terá que ser remodelado.

 

IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 7 Fevereiro 2008

sábado, fevereiro 02, 2008

Regresso ao Futuro

1 – A publicidade de valor é aquela que nos faz pensar. Recentemente um cartaz que enumera uma série de coisas que Amarante perdeu ao longo dos últimos anos despertou-me a atenção, e não apenas pela falta de gosto da expressão “Com este breu sempre a perder”.

2 – De facto, Amarante tem perdido uma série de serviços que sempre consideramos importantes. Mas para lá dessa discussão, que continua pertinente, será que o assunto é capaz de levar os amarantinos a votar de maneira diferente nas próximas eleições?

3 – O modelo de desenvolvimento que tem levado ao encerramento de vários serviços em locais mais periféricos, parece que já foi assimilado pelas pessoas como necessário, ou irreversível. O problema da oposição em Amarante não será antes o de encontrar novas formas de discutir a cidade e o concelho, apresentando um modelo de desenvolvimento para Amarante de acordo com as condicionantes actuais?

4 – Será que continuar a discutir temas já discutidos anteriormente não irá conduzir Amarante para um regresso ao futuro, em que depois de 2009 tudo será igual aos dias de hoje?

5 – Para além da divisão do espaço político á direita do PS, que parece vir a repetir-se para as eleições de 2009, a oposição aparenta também um problema de programação política capaz de discutir Amarante de forma construtiva e ao mesmo tempo chamar a atenção dos eleitores para aspectos que eles entendam relevantes e capazes de fazer alterar o seu sentido de voto.

6 – Como exemplo, tome-se a questão do hospital. A grande maioria terá percebido a posição comprometedora assumida pela Câmara Municipal de Amarante em todo o processo. O hospital é mais um serviço que lentamente vai esvaziando Amarante. Mas será que em 2009, com a construção do novo hospital, o feitiço não se poderá virar contra o feiticeiro?

7 – Do dicionário: “breu s.m. : coisa muito escura”. Mas para quem estarão as coisas mesmo escuras?

 

IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 24 Janeiro 2008

domingo, janeiro 20, 2008

Instituições e Pessoas

1 – Excelente mensagem de Ano Novo do Presidente da República. Para quem não percebe o significado de Cooperação Estratégica, o discurso foi elucidativo. Elogios ao país e ao Governo, juntos com chamadas de atenção relacionadas, entre outras coisas, com Justiça, Economia e Saúde, num tom de liderança inconfundível de que Cavaco Silva sempre foi dono.

2 – Os portugueses precisam de entender os sacrificios que tem vindo a fazer, assim como algumas politicas governativas. Num inicio de ano em que uma idosa morreu no hospital 4 horas após dar entrada sem que tivesse sido atendida por um médico, em que uma ambulância recusou socorro a um doente sem que os familiares ligassem antes para o 112, não podia ter sido mais oportuna a observação de Cavaco Silva quanto á necessidade de se perceber qual o rumo da politica de saúde.

3 - De qualquer forma, não parece que o Ministro da Saúde seja remodelável num processo de mudanças no Governo, porque as idéias que tem vindo a ser postas em prática parecem ser mais da sua autoria do que do Governo, o que tornaria a mudança de Ministro numa mudança de política.

4 – Armindo Abreu disse na última Assembleia Municipal que o Presidente da Câmara é, antes de tudo, uma instituição, e deve ser respeitado como tal. Tem toda a razão. E uma vez que está no exercicio do cargo, deve zelar pela dignidade do mesmo.

5 – Mas para nos respeitarem, temos que nos dar ao respeito. Na Assembleia Municipal, ao falar sobre a poluição do Rio Tâmega, o Dr. Armindo Abreu não respeitou os outros, dado que falou de forma completamente inapropriada sobre a capacidade de um determinado Deputado Municipal enquanto empresário.

6 – Foram afirmações fora do contexto da discussão e que nada importam para a competência da instituição Presidente da Câmara enquanto interessado na eliminação do foco de poluição. Pelo contrário, desprestigiam o cargo e a pessoa que o ocupa.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 10 Janeiro 2008

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Pobres e Intimidados

1 – Alguém disse na televisão que o problema de acesso ao Incentivo ao Arrendamento Jovem “não está no facto de ser jovem, mas sim no facto de ser pobre” e que “para os pobres existem outros apoios que facilitam o acesso a uma habitação”! Apetece perguntar onde estão esses apoios! Pena não ter reparado no nome de quem é capaz de dizer tal barbaridade!

2 – Alguém se deu ao trabalho e chegou á conclusão de que vir pela A4 do Porto para Amarante saindo em todas as portagens, fica mais barato do que fazer a viagem toda de seguida. Descobriu que viver em Amarante fica mais caro que viver em Paredes ou Valongo. Já não chega tudo o resto, também nas auto estradas os quilómetros são de preço diferente.

3 – Alguém apelidou a JSD de Amarante de irresponsável e mentirosa. Tudo por causa das piscinas de Vila Meã, assunto que até fez com que a JS acordasse do seu sono profundo. É assim que o Dr. Armindo Abreu trata as pessoas que não concordam com ele, disparando frases contudentes julgando que intimida quem ouve.

4 – Alguém se absteve na votação do orçamento camarário para 2008. O engenheiro Carlos Silva não se intimida e entregou uma declaração de voto cheia de sugestões com as quais é dificil não concordar. Não teria sido melhor aproveitar as suas idéias enquanto tinha a confiança politica do Presidente da Câmara? Ou o Dr. Armindo Abreu apenas consegue trabalhar em harmonia com quem se intimida?

5 – Alguém colocou um cartaz na rotunda do Queimado, anunciando que não desapareceu. O Dr. Avelino Ferreira Torres sentiu-se pressionado com o surgimento do nome de Abel Afonso como candidato do PSD e tratou de apressar as coisas?

6 – Uma nota sobre 2007 falando de economia. Talvez 2007 tenha sido o ano em que mais se notou a força de trabalho portuguesa que todas as semanas é absorvida pelo mercado espanhol, principalmente no sector da construção civil. O que será da taxa de desemprego em Portugal se o mercado imobiliário em Espanha mostrar sinais de abrandamento? Mais cedo ou mais tarde é certo que tal aconteça.

7 – Uma nota sobre 2007 falando de politica. A Presidência Portuguesa da União Europeia cumpriu os seus objectivos e termina coroada de sucesso, deixando uma marca na história europeia. José Socrates está de parabéns. Independentemente do trabalho de Durão Barroso ou da Presidência Alemã, foi José Socrates o rosto da União Europeia nos últimos seis meses.

8 – Uma última nota. O Millennium BCP teve nota negativa em 2007. Não chegaria um jornal para explicar a importância do sistema bancário no nosso país. Se os próprios bancos não forem capazes de cuidar da sua imagem e agir com verdadeiro rigor, não há economia que nos valha.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 27 Dezembro 2007