domingo, abril 27, 2008

A Força Do Poder

1Em 2001, o PS venceu as eleições porque o PSD apresentou o nome de José Luis Gaspar muito próximo do acto eleitoral. Em 2005, o PS venceu as eleições porque apareceu uma candidatura populista e alheia á evolução política em Amarante.

2 – O poder do PS, mesmo com maioria absoluta, nunca precisou de uma oposição com atitudes de obstrução para que as pessoas sentissem que era preciso mudar. A mudança não aconteceu em 2001 ou 2005 devido a acontecimentos e decisões pouco comuns, que beneficiaram o PS.

3 – Desta forma, a proposta aprovada recentemente pelos vereadores da oposição, que retira vários poderes delegados ao Presidente de Câmara, não parece consistente em matéria de estratégia. Mas mais grave do que isso, pode surgir aos olhos das pessoas como falta de respeito para com a figura institucional do Presidente de Câmara.

4 – O PS venceu as eleições de 2005. Bem ou mal, tem que governar a CMA até 2009 e ser avaliado nas próximas eleições. Retirar poderes delegados no Presidente de Câmara é contra a nossa tradição democrática. A força das palavras é maior que a força do poder.

5 – Em Dezembro de 2007 a CMA organizou uma série de actividades recreativas na Alameda Teixeira de Pascoaes. Estiveram presentes crianças que estudam nas escolas do perimetro urbano da cidade. Recentemente a CMA proporcionou também a presença numa peça do Teatro Filandorra ás crianças das escolas do perimetro urbano.

6 – Sem pôr em causa a utilidade das iniciativas, ocorrem algumas perguntas. Será que as escolas dos meios rurais foram convidadas para ambas as iniciativas? Será que foram convidadas em tempo útil, com condições para aceitarem o convite? Será que a CMA faz um esforço para evitar discriminar essas crianças? Será que as escolas dos meios rurais, já de si discriminadas por exemplo, na dificuldade em aceder aos serviços da Biblioteca Municipal, não merecem um esforço maior?

7 – A desigualdade sente-se de várias maneiras. Para além das diferenças de poder económico, são enormes as diferenças entre as pessoas no que respeita ao acesso a infraestruturas ou educação. Mas em Amarante será tão dificil combater assimetrias entre as várias escolas? Ainda por cima em coisas tão simples como o acesso a actividades lúdicas, peças de teatro e serviços da biblioteca municipal?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 17 Abril 2008

domingo, abril 13, 2008

Voodoo Child

Do outro lado, há um pequeno boneco de pano que nos faz sentir.

Quando vou sinto que estás lá. Se não estás também o sinto muito antes de chegar. Olho nos teus olhos e sinto se está alguém do outro lado. Leio o que escreves e sei o que sentes, mesmo quando dizes que o que leio não significa nada.

Sinto, pela hora do sinal, se está alguém do outro lado. Alguém de longe, que não conheces, que nunca viste, mas de quem gostas. Tropeço em ti quando falo com alguém. Oiço o que não quero, descubro o que não espero.

Sei que estás triste, mesmo quando os teus olhos mostram o contrário. Sei que estás triste mesmo quando espalhas alegria em tudo ao teu redor. Sei quando gostas, quando te apetece, quando estiveste a chorar.

Não entendo quando pedes para ir, quando pedes para aparecer mais um bocado. Não entendo quando te esqueces. Não entendo quando te lembras no momento em que menos espero.

Demoro a descobrir o que procuras, o que te faz seguir em frente.

Sei do que sentes falta, sei porque alguém é capaz de se sentir no meio da maior confusão. Quando hoje dás um passo em frente, amanhã parece que deste dois para trás, porque tudo cai junto de ti, como castelos de cartas.

Sentir, sentir verdadeiramente, tem que ser de frente, bem junto. Porque só assim podemos conhecer alguém. Conhecer de verdade, ao ponto de escrever adoro-te.

Sinto que te conheço. Sinto que não conheço o resto que te prende. Se calhar, há um mundo no qual não consigo entrar.

Sinto que descobri que ainda gosto. Sempre que sentires, eu vou sentir também, tal como o meu boneco de pano que carregas contigo.

A Ideologia Da Liberdade

1 O debate ideológico está a perder interesse. A sociedade apega-se pouco a idéias e comportamentos formatados, evoluindo no sentido de se transformar numa sociedade individualista e feroz, onde existem cada vez menos simpatias de grupo.

2 – Temos um Governo de esquerda que aplica idéias de direita. Movimentos de cidadãos afastados dos partidos e porque não, afastados de tudo o resto. Hoje vota-se mais nas pessoas, na sua imagem e no seu marketing, do que na ideologia que defendem.

3 – A crescente falta de base ideológica na formação social é o principal problema de Educação em Portugal. Alunos a agredir professores nunca foi vulgar, mas sempre aconteceu. Falta de respeito pelas regras escolares nunca foi vulgar, mas sempre aconteceu. Falta de capacidade de liderança de um professor dentro da sala de aula nunca foi vulgar, mas sempre existiram professores sem essa capacidade.

4 – O desrespeito pela idade dos outros é que não pode ser vulgar. O desrespeito pela autoridade dos outros é que não pode ser vulgar. A falta de autoridade patente na figura da professora do liceu Carolina Michaelis é que não pode ser vulgar.

5 – Colocar toda a discussão sobre política de educação na figura da avaliação dos professores, desvalorizou mais uma vez a profissão aos olhos de todos. Os professores são hoje, de forma injusta, profissionais diminuidos aos olhos dos alunos e do público em geral, quer no que toca á sua capacidade profissional, quer no que toca á sua autoridade.

6 – Pode ser uma visão pessimista das coisas, mas quem convive de perto com a geração de adolescentes de agora, corre o risco de ficar seriamente assustado. Irreverência é saudável em doses controladas, mas hoje em dia confunde-se irreverência com estupidez.

7 – Uma pergunta ingénua: Se a professora do liceu Carolina Michaelis tivesse reagido de outra forma e tivesse tomado uma posição de força perante a aluna, em vez de aparentemente ter tentado sair da sala, não estariamos nesta altura debaixo de um coro de indignação a favor da tão famosa “liberdade de expressão e afirmação dos alunos”?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 3 Abril 2008