domingo, junho 22, 2008

O Segundo Mundo

1Um dia tive um professor a quem ouvi dizer que “Quando o comunismo acabar vai ser uma chatice”! Durante esta semana alguém disse que “Para que os países do terceiro mundo vivam um bocado melhor, os paises mais desenvolvidos terão que viver um bocado pior.”

2Ambas as frases surgem a propósito de um número assustador, que revela que ao longo do ano de 2007 mais de 60% do crescimento económico mundial deveu-se a 3 países: China, India e Brasil.

3 - De facto, o desenvolvimento registado em países com sistemas políticos mais afastados da democracia tal qual a vivemos, ou nos países com mais potencial de crescimento, como o Brasil, já está a fazer com que nos países mais desenvolvidos as pessoas comecem a viver pior.

4Pagamos os nossos alimentos mais caros, pagamos os combustiveis mais caros, as taxas de juro sobem na tentativa de controlar a inflacção resultante do aumento dos preços dos bens essenciais.

5Dizer que o fim do comunismo é uma chatice é uma idéia carregada de ironia. O comunismo não acabou na China, mas para surgir a actual crise bastou os chineses terem alterado o seu modo de vida, deixando o cultivo dos campos e passando a viver cada vez mais nas cidades, tornando-se simples consumidores como cada um de nós.

6Os países emergentes, como China, India e Brasil, vão consumir cada vez mais matérias primas e bens essenciais. Os seus habitantes vão concerteza beneficiar de todo o desenvolvimento económico que se registar, mas nós vamos ter que nos ajustar a uma nova realidade, gastando mais dinheiro no que é essencial e menos no que é supérfulo. E imagine-se o que não acontecerá se o surto de desenvolvimento económico se generalizar no continente africano.

7 A JSD de Amarante tem sido feliz nos slogans que escolhe. Depois do “Atreve-te” vê-se agora com mais frequência o slogan “Há Alternativa”. Uma alternativa política tem que ser construida com bases sólidas, a partir de pequenos actos do dia-a-dia na vida de um partido que o tornem mais forte.

8Mesmo que os eleitores não saibam de tudo o que se passa no interior de um partido, acabam por se aperceber da sua credibilidade e capacidade de trabalho á medida que as campanhas eleitorais se vão desenrolando. A chave das eleições de 2009 vai estar na capacidade de união e liderança. È isso que dá corpo a uma alternativa.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 12 Junho 2008

terça-feira, junho 10, 2008

"À Espera De Um Sinal De Ti"

silvia Hoje escreve... Silvia Ferreira!
Só os melhores amigos podem fazer parte do nosso próprio espaço. Por isso, a Silvia tem direito a entrar em "Onde Andam Os Alquimistas", em tributo ao espaço que a amizade foi conquistando!

 

"Magoa-me demasiado quando te vejo a reagir de uma forma tão natural, simplesmente como se os poucos meses que tivemos juntos não tivessem existido.

Sei perfeitamente que te escondes por detrás de uma máscara, onde os teus sentimentos ficam enclausurados e disfarçados do resto do mundo. No entanto, custa na mesma.

Custa porque sei que gostei mais de ti do que tu de mim. Falo no passado, sim. Faço-o porque no dia em que decidimos terminar soube que seria o ponto final definitivo.

"Se não resultou porque continuaram a tentar?" Esta talvez tenha sido a frase que ecoou na minha cabeça durante mais tempo. Sei que tentei, longe de mim deixar de tentar e de arriscar! Todavia, sei, aliás, sinto, que acabou mesmo. Posso ainda gostar muito de ti, demasiado até, mas sei que chegou a hora definitiva de virar a página.

Porque sei que se sentisses o mesmo que eu, com a mesma intensidade, terias ultrapassado todas as tuas barreiras. Afirmo-o porque por ti ultrapassei o receio de fracassar, o que sentia era mais forte do que tudo.

Agora choro não porque te quero, pois não é o caso, mas porque perdi aquilo que tive nas minhas mãos, aquilo pelo qual lutei, e choro essencialmente pela percepção de que o que sentia não bastou. Se te dizia vezes sem conta o quanto gostava de ti era porque simplesmente me sentia feliz com aquilo que tinha.

Não tens noção de como fui feliz nos teus braços...de como por vezes nem acredito que te tive mesmo. É por tudo isto que carrego cada memória comigo, carrego-as dolorosamente, não por terem sido más mas por terem sido tão marcantes que a perda é mais penosa.

Não me adianta dizer-te tudo isto...não passam de sentimentos meus...para quê continuar a tocar na ferida se a cura não é esta? Certamente que estas palavras só te iriam retrair mais ainda e não é disso que eu preciso.

Acho que apenas precisava da parte que restou de tudo...a amizade. Precisava somente de um abraço teu...um abraço do amigo. Não entendo porque teimo em sentir a necessidade de te ter do meu lado. Precisava de um ombro de amigo e sem entender porquê, é o teu que eu quero...talvez porque tenho receio de perder também esse pedaço que restou de ti.

Não sei quando conseguirei terminar com estes lapsos de recordações e pensamentos. Não sei quando é que as minhas lágrimas secarão. Não sei quando me voltarei a sentir feliz, verdadeiramente feliz.

Só sei que precisava de sentir os teus braços envoltos em mim e que depois partisses da minha vida.

Posso parecer contraditória mas sei que o afastamento físico e o tempo são uma das curas para esta minha doença de ti. No fundo, talvez só precisasse que me compreendesses...que me dissesses isso a olhar nos meus olhos..."

O Nosso Spread

1Muito se tem falado na falta de liquidez do sistema bancário. Em termos simples, liquidez não é mais do que o dinheiro que o banco tem disponível para emprestar aos clientes. Não esquecer que o negócio do crédito é o principal motor do sistema bancário.

2Como podem os bancos obter dinheiro para emprestar aos clientes? Em termos simples, de duas maneiras. Por um lado, oferecendo taxas mais altas nos depósitos a prazo para assim captar mais dinheiro no mercado. Por outro lado, numa operação financeira mais complicada, podem pedir dinheiro emprestado a outros bancos que tenham liquidez suficiente.

3 - Assim, um banco pode pegar, por exemplo, no conjunto da sua carteira de crédito á habitação e oferecer esse conjunto de créditos como garantia de um empréstimo, obtendo assim dinheiro para emprestar aos seus clientes. Mas que spread irá o banco pagar nesse empréstimo?

4Não há muito tempo, esses empréstimos entre bancos faziam-se com spreads reduzidos, inferiores a 0.2%. Neste momento, existem bancos do sistema português e europeu dispostos a pagar spreads bem superiores a 1% para conseguirem obter crédito no mercado intrabancário.

5Assim, se para obter dinheiro o nosso banco paga spreads superiores a 1%, onde irá parar o spread que todos iremos pagar no nosso crédito? Terá que ser necessariamente mais alto. Já não basta o preço do petróleo ou o preço dos bens alimentares, o preço do crédito também vai subir.

6A essência do problema vem da crise subprime dos EUA. Mas não se pense que apenas nos EUA existe a mistura explosiva que combina crédito de alto risco com taxas de juro baixas. Também no mercado português e europeu essa prática foi corrente durante os últimos anos, fruto da grande concorrência no mercado bancário.

7Imagine-se que de um momento para o outro as nossas casas se desvalorizam de forma brutal no mercado imobiliário. Os bancos ficam sem garantia suficiente para o crédito que nos concederam. No limite, muitos deles podem falir. E a falência do sistema bancário seria um abanão enorme no frágil equilibrio da economia de mercado.

8Todos procuramos crédito ao mínimo preço possível. Mas a tendência vai inverter-se, mesmo que lentamente. O preço do crédito será mais de acordo com o risco do crédito. O nosso spread vai subir. E mesmo parecendo contraditório, os fabulosos lucros dos bancos vão baixar.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 29 Maio 2008