Vejo-te dançar, longe de casa, livre do dia que passou, livre de obrigações, de cigarro e copo na mão, olhos fechados, pensamento perdido na música.
Quando abres os olhos, pedes-me segredo. Eu não te vi. Tu não estavas lá.
Os segredos podem ser descobertos mas não é recomendável que isso aconteça.
Até onde nos transportam os nossos segredos? E os segredos que guardamos dos outros, tantos que até os esquecemos todos?
Hoje não podemos revelar os nossos segredos, porque hoje ninguém está preparado para os ouvir. Ninguém vai entender uma traição, um comportamento inesperado, uma atitude impensada, um amor improvável.
Mas de que vale tanto segredo, se nenhum dos nossos segredos é apenas nosso? Todos são partilhados com alguém, porque o que fazemos e desejamos manter desconhecido, nunca fazemos sozinhos. Há sempre mais alguém que carrega o segredo junto connosco.
Até que um dia mais tarde, quando os segredos de hoje já não nos importarem ser revelados, vamos ser nós próprios a falar deles, desabafando o passado, perdendo os segredos também daquelas pessoas que os partilharam connosco.
Mas hoje não podemos fazer isso. Porque ninguém está preparado para ouvir os nossos segredos. Porque os nossos segredos são a outra face da nossa vida, aquele espaço só nosso, onde só entra quem nós escolhemos.
Mas se de repente entra alguém que não foi uma escolha mas sim um acaso? O nosso segredo perde valor por instantes, porque alguém o partilha connosco muito antes de o termos percebido. E abre-se mais um espaço da nossa alma, há mais alguém que entra.
Um segredo é aquilo que contamos a uma pessoa de cada vez.