sexta-feira, março 20, 2009

Causas Fracturantes

1Para José Sócrates, as medidas anunciadas pelo Governo no combate à crise económica já são suficientes. Segundo o Primeiro-Ministro não é preciso tomar mais decisões relacionadas com a crise porque o que está feito já serve, é apenas necessário pôr as medidas em prática.

2 À primeira vista, com tanto alarido ao longo dos últimos tempos, todos pensaríamos que as medidas anunciadas já estavam a ser aplicadas. Mas afinal, o próprio José Sócrates reconhece que não. E perante propostas de Manuela Ferreira Leite que libertariam de forma efectiva a tesouraria das empresas, protegendo o emprego e a sobrevivência de pequenas e médias empresas, José Sócrates muda de assunto.

3Portanto está tudo bem. Para o PS já está tudo tão bem que até há tempo para o partido se virar para causas fracturantes como o casamento homossexual e a eutanásia, temas que são os únicos que se prevê virem animar o próximo congresso socialista.

4Perante um plano de combate à crise que aposta essencialmente no investimento público em grandes obras e em linhas de financiamento de pequenos montantes para as pequenas e médias empresas, que não libertam a sua tesouraria antes a aprisionam em mais prestações, parece claro que o plano anti-crise do Governo não vai ter efeitos imediatos.

5Se é um facto que José Sócrates tem razão quando diz que é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada, parece claro que as medidas anunciadas terão efeitos diferidos no tempo, o que levará Portugal a recuperar da crise apenas depois dessa recuperação acontecer no resto da Europa. Assim, manteremos as fraquezas estruturais da nossa economia e o Governo do PS ficará marcado por mais uma oportunidade perdida na área económica.

6Perante isto, o PS foge de discutir economia. Prefere discutir o casamento homossexual, a eutanásia, ou outros temas mais ou menos fracturantes que não representam nada de significativo para o país. Não pondo em causa a relativa importância destes assuntos, a sua aparição parece mais uma questão eleitoralista relacionada com uma estratégia de captação de votos ao Bloco de Esquerda, do que relacionada com uma profunda convicção do PS.

7É um facto que a sociedade portuguesa evoluiu bastante e parece capaz de discutir assuntos para os quais estava completamente fechada há anos atrás. Mas politicamente, para um partido com responsabilidades de Governo, não parece uma agenda particularmente importante discutir causas fracturantes quando o país continua a revelar tantos problemas na economia. E a economia é o que preocupa mais as pessoas.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 26 Fevereiro 2009

Realidade Ou Ficção?

1A cada dia sucedem-se noticias de despedimentos, de queda de lucros nas empresas e de perspectivas desanimadoras para 2009. Os resultados das empresas do sector financeiro também não são animadores, pelo menos à primeira vista.

2Os resultados dos bancos que operam em Portugal exemplificam a queda acentuada nos lucros, na sequência da crise financeira por demais conhecida. Mas se olharmos com mais detalhe os números que tem sido apresentados, verifica-se que a principal razão para a queda dos lucros está nas operações financeiras.

3 - Isto é, os bancos viram os lucros diminuir em 2008 em resultado de operações no mercado de acções, de obrigações ou derivados e não por causa de problemas com os empréstimos dos seus clientes. A parte operacional dos bancos, aquela que todos conhecemos, não sofreu queda de lucros. Antes pelo contrário.

4Os bancos com pouca exposição ao mercado da banca de investimento conseguiram subir os lucros, mesmo apesar da crise. Os outros, aqueles que para além da banca tradicional possuem forte exposição ao mercado financeiro propriamente dito, pagaram cara a factura. No fundo, sofrem com o próprio veneno.

5 No entanto, por contraditório que possa parecer, a cura também virá do próprio veneno. Tome-se como exemplo o seguinte: a nível mundial, o Banco Santander apresentou aproximadamente 9.000 milhões de euros de lucro no ano de 2008. Como prémio aos seus accionistas pelo lucro alcançado, vai distribuir um dividendo de 0.65 euros por accção.

6Hoje, uma acção do Banco Santander vale aproximadamente 6 euros. Quem comprar 1000 acções gasta 6.000 euros. Com a distribuição de dividendos, irá receber 650 euros, independentemente da possível valorização das acções em bolsa. Trata-se de uma remuneração anual superior a 10% sobre o capital investido.

7É por causa desta atractividade do investimento que os mercados financeiros captam dinheiro. É claro que os mercados podem cair ainda mais, mas nesta fase há pessoas a aproveitar o pânico instalado para entrar em bolsa quando as cotações estão baixas, na esperança de grandes ganhos entre final de 2009 e inicio de 2010.

8 - Os mesmos bancos que agoram acumulam prejuizos poderão fechar 2009 com resultados acima do esperado. E ao contrário de 2008, os ganhos no mercado financeiro poderão compensar a diminuição de lucros na parte operacional. A crise veio pelo lado do mercado financeiro mas a solução também virá pelo mesmo sitio.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 12 Fevereiro 2009

Estratégia Para Quê?

1Ter as idéias no lugar é sempre importante. Quando existe um projecto para a criação de uma empresa, temos que pensar no produto a oferecer, analisar o mercado, analisar os recursos próprios da empresa como os recursos humanos e financeiros, ter um plano de marketing e comunicação, bem como planos de produção, investimento e financiamento.

2É ainda preciso um estudo económico que projecte a empresa a alguns anos de distância, preferencialmente entre 3 e 5 anos. Na posse de todos estes elementos poderemos afirmar que temos uma estratégia para o nosso negócio. Mas o que significa estratégia?

3 - Ter uma estratégia é saber exactamente o que queremos fazer, saber a razão porque o queremos fazer, saber que meios temos à nossa disposição, conhecer os nossos pontos fortes e fracos e conseguir transmitir aos outros de forma clara o que queremos para o futuro.

4Tal como na vida empresarial, também na política é fundamental ter estratégia. Pensando em Amarante, numa altura em que o Governo, para combater a crise económica, anuncia medidas de reforço do investimento na educação, não seria boa uma estratégia virada para ter escolas de excelência em todo o concelho?

5Ou quando o Governo fala em mais investimento em energias sustentáveis, será que não percebemos em Amarante que a aposta no ambiente faz parte do futuro? Numa terra que tão mal tem cuidado do seu turismo, não poderá ser o turismo ambiental uma área a explorar?

6Os investimentos anunciados em educação e energias sustentáveis representam oportunidades. Mas só é possível aproveitar essas oportunidades se na nossa estratégia as idéias estiverem claras. Será que querer construir um centro escolar num velho edificio fabril, como a Câmara de Amarante quer fazer em Mancelos, é exemplo de uma aposta de qualidade na educação? Será que sem inciativas de carácter cultural mais mobilizadoras, sem uma aposta no turismo ambiental e sem publicidade capaz, é possível a Amarante valorizar o seu turismo? Provavelmente, a resposta para as perguntas anteriores é não.

7Quando em 2005 ouvimos o PS falar na agricultura como forma de desenvolvimento de Amarante, não percebemos. Hoje, em 2009, continuamos a não perceber. Até podia ser uma estratégia, mas o tempo tem vindo a provar que estava errada, porque a agricultura é importante, mas por muito que nos custe, isolada nunca poderá ser um factor determinante no nosso desenvolvimento. São precisas novas estratégias. Esta é altura para as discutir. É altura de deixar de andar á deriva, de maneira que se perceba o que queremos que seja Amarante daqui a alguns anos.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 29 Janeiro 2009