segunda-feira, junho 29, 2009

Custo De Oportunidade

1O custo de oportunidade é um termo da economia usado para calcular o custo que temos quando, entre várias hipóteses, escolhemos uma em detrimento da outra. Com aquela hipótese que não escolhemos temos um custo, algo que deixamos de ganhar. Numa primeira análise esse custo traduz-se em dinheiro, mas pode também traduzir-se em termos sociais, psicológicos ou culturais, entre muitas outras coisas.

2Decidimos não fazer o TGV. Decidimos não fazer mais auto-estradas. Decidimos não comprar o carro com que sempre sonhamos. Decidimos não deixar de estudar. Ou pelo contrário, decidimos fazer o TGV. Decidimos fazer mais auto-estradas. Decidimos comprar o carro com que sempre sonhamos. Decidimos continuar a estudar. Quanto nos pode custar não tomar uma destas opções?

3 - O Real Madrid decidiu gastar 94 milhões de euros e comprar Cristiano Ronaldo, um dos melhores jogadores de futebol do mundo. Será que o preço foi demasiado alto? Qualquer gestor responderá a essa pergunta de uma única forma: depende! Depende do que o clube fôr capaz de fazer do jogador daqui em diante. Depende do custo que teria o Real Madrid ao não comprar Cristiano Ronaldo, o tal custo de oportunidade.

4O Real Madrid quer fazer render o espectáculo tendo os melhores artistas. Quer conseguir subir receitas de bilheteira, de televisão, de publicidade e de merchadising. Quer afirmar-se como o melhor clube do mundo, aumentar o orgulho dos seus adeptos e combater a afirmação do Barcelona. Para isso decidiu contratar os melhores jogadores, porque sem eles o custo de oportunidade seria muito alto.

5Estando o futebol espanhol tecnicamente falido depois de viver muitos anos acima das suas possibilidades, como é possível que ainda haja quem pode gastar tanto dinheiro? Há sempre quem tenha essa possibilidade, tendo como tem o Real Madrid um património imobiliário de grande valor, próprio dos antigos clubes do regime, para além de um presidente milionário até dizer basta, dono de um grupo económico de dimensão galáctica.

6De facto, a dimensão da economia espanhola está quase fora da nossa compreensão. Em Portugal, quando encontramos uma empresa com uma facturação de 15 ou 20 milhões de euros já achamos muito bom, enquanto que em Espanha esse valor é visto como insignificante. No inicio da época passada o Futebol Clube do Porto contratou Cristian Rodriguez por 7 milhões de euros, enquanto que agora Cristiano Ronaldo custou 94 milhões de euros ao Real Madrid. Destas duas transferências, qual terá sido a mais cara?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 18 Junho 2009

segunda-feira, junho 15, 2009

O Número Dois

1A carta aos amarantinos, enviada recentemente pelo candidato do PSD a Presidente da Câmara de Amarante, José Luis Gaspar, focou vários pontos importantes sobre o momento político do nosso concelho. De entre esses pontos, o mais importante será a chamada de atenção para o facto de a liderança do PS e de Armindo Abreu se encontrar em fim de ciclo.

2Esse fim de ciclo advém, por um lado, da contagem de anos que leva o poder do Partido Socialista em Amarante, do qual Armindo Abreu é o rosto principal. Por outro lado, advém da própria lei eleitoral, uma vez que mesmo em caso de vitória nas próximas eleições, não será Armindo Abreu o candidato socialista em 2013, por causa da limitação de mandatos.

3Desta forma, a chamada de atenção de José Luis Gaspar para o final de uma época em Amarante, assume grande relevância. Nas eleições de 2005 a grande aposta estratégica de Armindo Abreu era a agricultura. Como o tempo se tem encarregue de provar, tal aposta não passou apenas de um chavão lançado para o calor da luta eleitoral, uma vez que não teve aplicação prática na gestão camarária ao longo do último mandato.

4Por oposição a Armindo Abreu, que não cumpriu a sua suposta orientação estratégica, José Luis Gaspar apresenta ideias fortes para Amarante, com as quais se compromete. E chama a atenção para o cansaço do PS, que deixou que Amarante perdesse muitas das marcas fundamentais da sua afirmação, ao mesmo tempo que não tem sido capaz de apresentar linhas estratégicas para o futuro do concelho.

5Num momento em que se aproxima o fim do ciclo de Armindo Abreu enquanto Presidente da Câmara, para os eleitores vai ser importante avaliar a alternativa que tem rosto em José Luis Gaspar. Mas também vai ser importante avaliar até que ponto não está o PS esgotado nas suas alternativas, seja em termos de novos rostos para a política amarantina, seja em termos de apresentação de um programa eleitoral virado para o futuro.

6Assume por isso particular importância o surgimento de Abel Coelho como número dois na lista do PS. Analisando o político, estamos na presença de um rosto do aparelho concelhio do PS, que pode ter a virtude de, por instantes, manter o partido unido em tempo de eleições, mas que não representa nem uma estratégia de continuidade, nem uma estratégia de renovação, uma vez que não parece capaz de se assumir como um rosto que o Partido Socialista possa apresentar para suceder a Armindo Abreu.

7 Nada poderia ser mais elucidativo do que a escolha de Abel Coelho, para ilustrar que a forte liderança de Armindo Abreu funcionou como um eucalipto dentro do PS. Neste ponto, José Luis Gaspar leva vantagem. É novo mas experiente, representa o início de uma nova fase e não o fim de um ciclo, para além de que protagoniza uma candidatura que mais facilmente pode ser abrangente para lá do aparelho partidário que a suporta.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 4 Junho 2009

terça-feira, junho 02, 2009

Reclamo, Logo Existo!

1Enquanto clientes, as pessoas reclamam cada vez em maior número acerca da venda de produtos ou prestação de serviços por parte das empresas. A informação é hoje muito mais acessível para todos do que era há alguns anos atrás e o público em geral tem vindo a aproveitar esse facto para conseguir defender de forma mais incisiva os seus direitos.

2 Segundo os últimos dados conhecidos, o aumento das reclamações sente-se particularmente nos clientes das instituições bancárias e das seguradoras. Por um lado, o sector financeiro tem vindo a ser alvo de grande divulgação pública, fruto da crise económica e de vários problemas de gestão, de que todos temos exemplos em Portugal, mas que também têm sido comuns a nível mundial. Por outro lado, hoje a reclamação tornou-se mais fácil.

3 Para além do acesso ao livro de reclamações, as pessoas podem reclamar directamente para as entidades supervisoras, bastando para isso um simples acesso aos sites na internet do Banco de Portugal ou do Instituto de Seguros de Portugal, sítios onde se pode reclamar no momento, sem qualquer tipo do constrangimento.

4 O tratamento de reclamações é feito em tempo útil, sendo sempre possível obter resposta. Com a vantagem de que a resposta é obtida por escrito, não havendo por isso margem para os naturais equívocos que sempre existem quando as reclamações são feitas verbalmente.

5 Se o acto de reclamar se tornar recorrente, poderemos chegar em breve a uma fase em que cada um de nós irá reclamar por tudo e por nada. Se tal vier a acontecer, é verdade que corremos o risco de banalizar o acto da reclamação, o que poderá ter grande impacto na qualidade do serviço que é prestado ao cliente sempre que pretende reclamar.

6Cabe por isso às entidades supervisoras zelar pela qualidade das respostas que são dadas a cada uma das reclamações, para que o acto de reclamar não passe a ser tratado pelas empresas visadas como mais um simples problema a resolver no seu dia-a-dia. E tal qual tem sido feito até aqui, quando o cliente tem razão na reclamação que faz, devem dai retirar-se as devidas consequências, ressarcindo as pessoas de eventuais prejuízos.

7 Por outro lado, considerando que muitas das reclamações podiam ser evitadas se as entidades supervisoras dos bancos e seguradoras cumprissem na totalidade o seu papel, ao mesmo tempo que reclamamos do nosso banco ou da nossa seguradora, devíamos reclamar ao Banco de Portugal e ao Instituto de Seguros de Portugal que cumpram de forma mais zelosa o seu papel de fiscalização, de forma a assegurar que todos estão protegidos de práticas menos correctas, mesmo aqueles que por ignorância ou distracção não conhecem na totalidade os seus direitos.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 21 Maio 2009

Ponta Esquerda

1A escolha de Vital Moreira para cabeça de lista nas eleições europeias é um espelho do momento que vive o Partido Socialista, preso entre as suas origens ideológicas e uma base eleitoral capaz de lhe continuar a proporcionar vitórias eleitorais.

2Sendo o PS um partido que tanto gosta de apregoar o seu posicionamento de esquerda, os últimos anos de governação, que fazem com que muita gente acuse José Sócrates de governar à direita, estão agora a levar a que os responsáveis socialistas se preocupem cada vez mais em anunciar medidas sociais, avulsas e apressadas, pretensamente de esquerda.

3 - Essa preocupação de evitar uma maior colagem do Governo PS a politicas de direita é tão evidente, que agora até terá ajudado a escolher Vital Moreira como cabeça de lista. Vital Moreira, que já militou no Partido Comunista, serve aparentemente para transmitir ao eleitorado a idéia de que o PS continua a ser um partido de esquerda.

4Pessoalmente, entendo apenas que o PS se vem transformando ao longo dos últimos anos num simples partido do centro político, dado que quer António Guterres em primeiro lugar, quer José Sócrates por força das circunstâncias do momento em que foi eleito, se limitaram a conduzir o partido no sentido de obter vitórias eleitorais, sem se preocuparem muito com a sua matriz ideológica.

5Por isso, quando hoje vimos Vital Moreira dizer uma coisa e José Sócrates dizer precisamente o contrário, torna-se evidente que a razão da escolha de Vital Moreira para cabeça de lista está antes de tudo o resto relacionada com o seu passado ligado a sectores da esquerda política, os quais tem vindo a pressionar fortemente a actual liderança do PS.

6E se é indesmentivel que Vital Moreira é uma pessoa com capacidade já demonstrada, torna-se penoso assistir ao seu comportamento em acções de campanha ou debates televisivos, onde demonstra uma falta de preparação gritante. Ora pegando e mostrando para as câmaras de televisão o livro que ele próprio escreveu e cujo título é o mesmo do slogan de campanha do PS, ora fazendo de conta que não sabe que entre 1995 e 2009 passaram 14 anos e em 11 deles foi o PS que esteve no Governo.

7Assim, por muitas responsabilidades que haja a dividir, é o PS o principal responsável pela situação em que se encontra Portugal. E fica intelectualmente mal a Vital Moreira esquecer este facto, procurando fazer crer que os problemas do país são todos culpa do PSD e da crise internacional. Assim como poderá correr mal ao PS este ressuscitar de figuras e discursos de esquerda, quando a base das suas vitórias tem estado no centro politico. A maioria absoluta está cada vez mais longe.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 30 Abril 2009