sábado, setembro 26, 2009

Políticos Profissionais

1Fazem eco em Amarante alegadas pressões de responsáveis políticos sobre familiares de pessoas que integram listas candidatas para as próximas eleições autárquicas. Consta-se que essas pressões têm como alvo pessoas que são funcionários municipais.

2Trata-se de uma situação intolerável e digna das melhores práticas anti-democráticas. Deixar sequer em aberto, que pessoas com especiais responsabilidades políticas possam ter pressionado familiares de candidatos autárquicos, é mau demais para ser verdade. Principalmente em Amarante, que mesmo considerando apenas a sua história recente, todos vemos como uma terra de fortes tradições democráticas e de liberdade individual de escolha.

3Mas se calhar, sem darmos por isso, estamos a ser invadidos por políticos profissionais. E quando as pessoas são profissionais da política, mesmo tendo outras competências para além da política, provavelmente nunca as exerceram na prática, razão pela qual se entende algum receio de mudança e uma forte aposta na manutenção da posição que ocupam.

4De qualquer forma, os fins não justificam os meios. Aqueles que, em Portugal, exercem actividades políticas de especial responsabilidade vivem muito acima da média dos portugueses comuns. De certeza absoluta que não vivem com tantas preocupações como o português mais comum, para garantir o sustento da sua família ou do seu modo de vida.

5Por outro lado, o político de hoje, profissional ou não, convive muito de perto com a necessidade permanente de apoio social à população, o qual se reveste das formas mais variadas. No entanto, esse apoio social que os órgãos públicos proporcionam não pode ser personalizado em alguém em particular, porque felizmente é um direito adquirido por todos, completamente independente das opções políticas das pessoas, individualmente consideradas ou vistas como um agregado familiar.

6O emprego e o direito ao trabalho, alicerçado na competência das pessoas para aquilo que fazem, são provavelmente o apoio social mais importante que podemos dar às pessoas. Infelizmente, o sistema político que temos não é capaz de evitar pressões desajustadas e intimidatórias. Mas felizmente, na política como na vida, há gente com memória e que independentemente dos resultados dos próximos actos eleitorais, vai continuar a lutar por maior transparência e maior justiça no tratamento das pessoas.

7 – A propósito deste assunto, recorda-se uma célebre frase: “Eu sei que vocês sabem que eu sei que vocês sabem daquilo que eu estou a falar”. Só não sei se o facto de todos sabermos é bom ou mau sinal.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 10 Setembro 2009

quarta-feira, setembro 09, 2009

Ciência Exacta

1Para mal dos nossos pecados, a economia está longe de ser uma ciência exacta. Antes da crise, a maioria vivia inundada em prestações muito mais altas do que aquelas que suportava no momento em que contratou o crédito, como resultado da subida das taxas de juro.

2Ainda antes dessa subida das taxas de juro, todos sofríamos na pele o aumento vertiginoso do preço dos combustíveis, com grande impacto no rendimento disponível das famílias. O aumento das prestações juntou-se ao aumento das despesas nas bombas de gasolina e o aumento dos combustíveis acabou por se reflectir na grande maioria dos bens de consumo.

3Como que embalados, apenas com a crise financeira internacional acordamos para uma dura realidade. A humanidade no global, e o mundo desenvolvido em particular, há muitos anos que viviam acima das suas possibilidades. Com a crise financeira, chegou o medo, chegaram as expectativas em baixa, mas antes de tudo, surgiu uma fase de difícil acesso ao crédito, que não sabemos quando vai acabar, quer para as famílias quer para as empresas.

4Mas paradoxalmente, a crise financeira internacional trouxe consigo uma baixa significativa no preço do petróleo, uma baixa significativa nos preços dos bens de consumo espelhada na redução da inflação, para além de uma baixa significativa nas taxas de juro. Tudo factores que fazem com que as famílias portuguesas gastem hoje muito menos com os seus encargos fixos do que aquilo que gastavam há poucos anos.

5Gastamos menos com o carro, com a casa ou com os bens essenciais, do que aquilo que gastávamos ainda antes do tempo em que os combustíveis ou a prestação da casa começaram a aumentar. No entanto, hoje como ontem, as pessoas reclamam não terem dinheiro no bolso. No entanto, hoje como ontem, em Portugal não existe capacidade de poupança.

6E agora, que começam a aparecer os primeiros sinais do fim da crise, já está a subir o preço de petróleo. Por outro lado, todos os analistas apontam para uma nova fase de subida de taxas de juro durante o ano de 2010, pelo que está perto do fim o ciclo de prestações baixas que actualmente vivemos. Assim, antes da crise tínhamos pouco dinheiro no bolso e depois da crise vamos continuar a não ter muito.

7 – Pelo menos na economia portuguesa, a única coisa que parece ser exacta é que temos vindo a estimular a economia com benefício principal para os grandes grupos económicos e para os mais ricos. É por isso que uma nova politica de investimentos públicos em grandes obras não serve, pelo menos se considerada de forma isolada, os interesses dos portugueses. Essa politica servirá apenas para “enganar” as estatísticas, porque o dinheiro nela aplicado só chega ao bolso dos portugueses de uma forma muito passageira.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 27 Agosto 2009