terça-feira, dezembro 15, 2009

As Nossas Empresas

1Sem desprezar as empresas com sede e reconhecida actividade em locais mais próximos da cidade, e portanto mais conhecidas das pessoas, em Amarante existem dois pólos fundamentais para o tecido empresarial, que são a zona de Vila Meã e a zona geograficamente mais próxima da Lixa, com destaque para Freixo Cima e Figueiró Santiago.

2Para quem conhece de perto a realidade das empresas amarantinas, a importância destes dois pólos é bastante grande, antes de mais pela quantidade de empresas existentes, mas também pela qualidade dos produtos e serviços que são oferecidos pela maioiria delas.

3 - Com raras excepções, tratam-se de empresas pouco conhecidas e que vivem com dificuldades, mas que dão um enorme contributo para os níveis de emprego e permitem que a sociedade amarantina em geral respire um pouco melhor. São acima de tudo pequenas e médias empresas, criadas a partir da iniciativa de muitos empresários que “sofrem” da saudável doença do empreendedorismo e da vontade de triunfar por meios próprios.

4Muito daquilo que fazem é “exportação”, pois muito do que produzem é destinado a clientes nacionais localizados fora de Amarante. O peso das verdadeiras exportações é menor, tendo apenas um peso mais significativo no sector da construção civil relacionado com a cedência de mão de obra, produto português com enorme sucesso no mercado espanhol.

5A forma de apoiar o desenvolvimento de empresas como as que existem nas zonas atrás referidas e por todo o concelho, divide opiniões. Uns defendem a criação de espaços com capacidade de acolhimento de empresas, idéia essa traduzida na criação das chamadas zonas industriais ou empresariais. Outros defendem que o tipo de tecido empresarial amarantino não justifica por si só o investimento nesse tipo de infraestrutura, pelo que o caminho deverá ser o de apoiar as empresas através de políticas públicas de desenvolvimento que beneficiem o concelho em geral e as empresas em particular.

6 Na realidade, salvo melhor opinião, não temos feito uma coisa nem outra. Ainda recentemente uma empresa amarantina levou a cabo uma acção de promoção de um empreendimento que está a construir em Penafiel. Trata-se de construção civil de alta qualidade, com forte aposta na inovação e diferenciação, num empreendimento em que cerca de 70% da energia a consumir será assegurada por energias renováveis.

7O poder político de Penafiel marcou presença. E marcou presença com um discurso de apoio e exemplificativo da forma como o poder político e o poder da iniciativa privada se podem complementar. Em Amarante ainda não estamos a esse nível. Ainda perdemos tempo a discutir a fórmula para apoiar a iniciativa privada sem perder de vista o bem comum, quando bem aqui ao nosso lado já há muito tempo que descobriram a pólvora.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 3 Dezembro 2009

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Endividamento Global

1O endividamento de cada um de nós está associado à capacidade de pagamento medida pelo salário que temos, normalmente aferida através do que se chama taxa de esforço. Observam as boas regras de concessão de crédito que somando todos os encargos de um agregado familiar, os mesmos não devem ser superiores a 40% do rendimento líquido mensal.

2Se transportarmos esta medida para a aferição do endividamento de um país, seriamos forçados a concluir que Portugal não deveria estar endividado em mais de 40% da riqueza que é capaz de produzir durante um ano inteiro, ou seja, em mais de 40% do seu Produto Interno Bruto.

3 Contudo, a Comissão Europeia é mais benevolente e recomenda que o endividamento não ultrapasse os 60% do PIB. Mas mesmo este limite não tem sido respeitado pela generalidade dos países e no que toca a Portugal, as previsões apontam para que muito em breve o nosso endividamento ultrapasse os 100% do PIB. Ou seja, estaremos endividados num montante superior ao da riqueza que somos capazes de produzir num ano inteiro.

4Numa comparação um pouco absurda com a nossa vida privada, talvez estes números não nos assustem muito. A grande maioria das pessoas que tem em curso um crédito habitação e um crédito automóvel está endividado num valor superior ao salário que recebe durante muito mais tempo que um ano. No entanto, numa perspectiva pessoal, talvez esses sejam os investimentos mais significativos que temos de fazer ao longo da vida, pelo que se os empréstimos forem contraídos com uma taxa de esforço adequada não serão de prever grandes problemas em termos de endividamento ao longo do tempo.

5Já o problema de endividamento de um país está obviamente muito para além da nossa preocupação quotidiana, desde logo porque depende de muitos factores ligados ao percurso político dos vários Governos. Quanto maior o endividamento, menor a capacidade de Portugal para investir em sectores como a saúde, a educação, a justiça, o ambiente, as infra-estruturas ou a solidariedade social.

6Como uma bola de neve, quanto maior o endividamento pior será a classificação de risco do nosso país, provocando o aumento dos juros que Portugal tem que pagar nos seus empréstimos, e por consequência o aumento dos juros que todos temos que pagar para obter empréstimos pessoais. Mas para além do custo do dinheiro, o principal problema do aumento do endividamento reside na limitação que provoca na capacidade de investimento do Estado.

7 – O investimento público não é comprar uma casa e um automóvel e depois gerir o quotidiano com mais ou menos esforço. O investimento público é um esforço permanente de modernização que não pode ser levado a bom porto com um Estado endividado até ao pescoço.

8 Muito menos o investimento público pode ser visto numa simples perspectiva de apoio em fase de crise económica, sob pena de se hipotecarem seriamente as possibilidades futuras. Para que o investimento público seja dinâmico e recorrente, terá que haver um momento de contenção e ponderação da estratégia a seguir. Tal qual como em tudo na vida.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 19 Novembro 2009