segunda-feira, janeiro 25, 2010

2010

1Olhar para tudo o que se passou em 2009 pode assustar. Não falamos de outra coisa a não ser da crise, das dificuldades de acesso ao crédito, de endividamento excessivo, de recessão económica, da queda dos mercados, do desemprego e de muitas outras questões capazes de nos deprimir de imediato.

2Para lá das questões económicas, o ano também foi marcado por eleições autárquicas e legislativas e, nesta parte final do ano, por um arranque tímido no que se relaciona com as próximas eleições presidenciais.

3Em termos económicos assistimos durante 2009 a uma ténue recuperação da confiança perdida em 2008 e a uma estabilização, embora aparentemente relativa e de pouca expressão, no que respeita aos indicadores de crescimento económico. De facto, parece que o pior já passou, restando saber se em 2010 se vai confirmar a estabilização económica, se vamos ter alguma recuperação, ou se, pelo contrário, ainda vamos sofrer alguma recaída semelhante ao que aconteceu em 2008.

4Como se costuma dizer muitas vezes, previsões só no final do jogo. Nem os maiores economistas mundiais arriscam grandes previsões quanto ao futuro, tal a imprevisibilidade do que poderá acontecer. Se já não tinha perdido antes, a ciência económica perdeu agora de uma vez por todas a aura que poderia ter de ciência exacta. A economia é imprevisível. E já agora, também imprevisíveis, embora pagas a peso de ouro, são as previsões dos melhores especialistas. Como tal, o melhor é esperar para ver como será 2010. Prudência é a palavra de ordem.

5Politicamente, quase haverá a tentação de dizer que continua tudo na mesma. O PS e Sócrates continuam no poder, tentando desesperadamente o impossível, ou seja manter a mesma política e o mesmo comportamento que tinham enquanto governavam com maioria absoluta. Como já podemos verificar pelos últimos acontecimentos, é óbvio que não continua tudo na mesma.

6Os socialistas terão forçosamente de adoptar uma nova atitude, que passe por um maior respeito pela Assembleia da República, porque se o Governo é eleito para governar, também é verdade que a Assembleia da Republica tem tanta legitimidade como o Governo para actuar dentro das suas competências, devidamente previstas na lei. Quem tem que se adaptar é o Governo, não a Assembleia da República. Algo para acompanhar em 2010.

7Também para acompanhar em 2010 será o comportamento do PS e de José Sócrates para com Cavaco Silva. As últimas semanas têm sido férteis em tiradas bastante infelizes em relação ao Presidente da República, como se os socialistas queiram comprar uma guerra sem qualquer razão visível e aparente. Realmente, o ano de 2009 tem sido muito confuso. Um bom 2010 para todos.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 7 Janeiro 2010

terça-feira, janeiro 05, 2010

Orçamento Participativo

1Inspirado num programa de apoio comunitário, tem vindo a ganhar terreno em Portugal a idéia do Orçamento Participativo. Em traços gerais, esta idéia mais não é do que permitir aos cidadãos participarem directamente na elaboração do orçamento anual da sua Junta de Freguesia ou Câmara Municipal, escolhendo obras e projectos concretos a realizar.

2Tal não significa que sejam os cidadãos a decidir o destino da totalidade do orçamento da sua autarquia, porque se assim fosse o projecto do Orçamento Participativo estaria a pôr em causa os próprios resultados eleitorais e as estratégias legitimadas. No entanto, a participação dos cidadãos pode atingir níveis bastante interessantes, bastando para isso ter em atenção o exemplo de Lisboa, municipio que prevê destinar 5 milhões de euros do orçamento de 2010 a este programa, permitindo às pessoas decidir o destino desse dinheiro.

3 - O exemplo de Lisboa é o mais emblemático em Portugal, mas numa escala mais reduzida há já várias Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais que adoptaram a idéia como forma de permitir uma maior participação das pessoas nas decisões. Para além do sinal de abertura que o Orçamento Participativo significa, é também uma medida prática que aproxima os eleitores dos eleitos, e aproxima da realidade os responsáveis pela tomada de decisões.

4E embora a fatia do orçamento disponivel para os cidadãos possa não ser muito expressiva, imagine-se o que seria cada um de nós poder escolher uma determinada obra para a nossa cidade ou escolher que caminho pavimentar na nossa freguesia. Por pouco que seja, significaria muito. De facto, o Orçamento Participativo pode ser uma excelente idéia se aplicada com conta, peso e medida.

5Em Amarante ainda não existe Orçamento Participativo, mas nos últimos anos, através dos protocolos celebrados entre a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia, tem sido possível aproximar de alguma forma as decisões das pessoas que delas beneficiam, garantindo uma aplicação do dinheiro que não foge das estratégias decididas pela Câmara Municipal e ao mesmo tempo permite uma maior satisfação aos eleitores.

6Por isso, depois de vários anos em que se esses protocolos existiram, não é razoável permitir que o orçamento de 2010 não os contemple novamente. Se tal acontecer, qualquer dia fazemos todos a apologia da governação em minoria, porque em Amarante, quando não existe uma maioria de um só partido na Câmara Municipal fazem-se protocolos com as Juntas de Freguesia, enquanto quando existe maioria a regra é que esses protocolos não se façam.

7A regra é que não se façam ou que sejam assinados de forma algo discricionária, de acordo com as simpatias do poder ou da capacidade de influência de cada Junta de Freguesia. Pelo menos para já, os protocolos entre a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia são o melhor orçamento participativo para Amarante. Oxalá não passem a fazer parte do passado.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 17 Dezembro 2009