sábado, fevereiro 20, 2010

Investimento Ou Despesa?

1A Câmara Municipal de Amarante aprovou recentemente a concretização de um empréstimo bancário no valor de 7.300.000 euros, com o objectivo de financiar várias obras, nomeadamente relacionadas com sistemas de abastecimento de água e drenagem de águas residuais, construção de centros escolares, requalificação urbana e execução de obras nos Estádios Municipais de Amarante e Vila Meã.

2Do empréstimo de 7.300.000 euros, 3.000.000 euros destinam-se a obras para sistemas de abastecimento de água e drenagem de águas residuais em várias freguesias, com destaque para Telões e Vila Garcia. Esta fatia de investimento é a mais signficativa na lista de obras a realizar e será, paralelamente com os 1.900.000 euros a investir nos centros escolares da Madalena/Lufrei, Vila Garcia/Gatão/Chapa/Aboim e Travanca, o investimento mais incontestado.

3 - Mas do empréstimo a contrair salta à vista um valor tido como despropositado para quem se opõem à forma de gestão de Amarante levada a cabo pelo PS. Amarante vai-se endividar em 2.000.000 euros na requalificação do campo de treinos do Estádio Municipal de Amarante e na execução do relvado sintético do Estádio Municipal de Vila Meã.

4Num momento em que o Dr. Armindo Abreu nem um simples protocolo diz ter possibilidade de proporcionar às Juntas de Freguesia, reduzindo o orçamento de cada uma delas à simples gestão corrente, Amarante vai contrair um empréstimo que, entre alguns investimentos importantes, servirá também para gastar 2.000.000 euros em campos de futebol, algo que, de todo, não parece decisivo neste momento para nenhum municipio.

5Se as obras de abastecimento de água e construção de centros escolares são, de facto, um investimento produtivo e importante para o futuro, gastar 2.000.000 euros em campos de futebol não é investimento mas sim despesa. E se a opção é gastar dinheiro a fomentar a prática desportiva, não seria preferível construir zonas desportivas que permitam a prática desportiva à generalidade da população, em vez de gastar esse dinheiro a investir em espaços utilizados por uma minoria dos amarantinos?

6Quer queiramos quer não, por muito importantes ou mediáticas que sejam as minorias, elas não deixam de ser simplesmente isso: minorias. E as decisões politicas devem levar isso em linha de conta. Quando as necessidades de espaços de prática desportiva para a generalidade da população estivessem satisfeitas, gastar 2.000.000 euros nos estádios municipais seria um investimento. Até lá é uma despesa que beneficia uma minoria da população e prejudica, por omissão, todos os outros.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 11 Fevereiro 2010

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Usos E Costumes

1Em edição recente do Diário de Noticias surgiu um apontamento sobre a visita à China de Guido Westerwelle, número dois do Governo alemão. A razão prendia-se com o facto de Guido Westerwelle ser homossexual e ter levado o seu companheiro na viagem, o qual apresentou aos mais altos responsáveis chineses e alemães presentes nos actos oficiais da visita.

2A reflexão sobre o conteudo da noticia surge forçosamente ligada à recente discussão em Portugal acerca do casamento homossexual. De facto, a sociedade tem evoluido de forma avassaladora ao longo dos últimos 20 ou 30 anos, de tal forma que hoje se tornam possíveis situações absolutamente impensáveis há alguns anos atrás.

3 - Embora julgue que com referendo o casamento homossexual não seria uma realidade em Portugal, parece um facto concreto afirmar que a sociedade portuguesa, afinal, e contra muitas expectativas, está minimamente preparada para assimilar políticas socialmente mais vanguardistas.

4No caso de realização de um referendo, e embora correndo o risco de aplicar o senso comum de forma algo displicente, arrisco dizer que os nossos avós votariam massivamente contra o casamento homossexual, nós votariamos divididos entre o sim e o não e os nossos filhos, se pudessem votar, votariam maioritariamente sim.

5Podemos não vislumbrar as razões que levam a que, de geração para geração, tudo tenha evoluido tão rapidamente. Mas atentos ao que se passa hoje, ao comportamento das pessoas nas relações com os outros, à forma como evolui a “emancipação” adolescente nos seus mais diversos aspectos, ao clima que se vive nas redes sociais, ou a muitas outras vertentes, percebe-se que o caminho do total respeito pela liberdade individual de cada um é irreversível.

6Por isso é que o casamento homossexual e mais a seu tempo a adopção por casais do mesmo sexo, acabarão por tornar-se uma realidade global em Portugal e na maior parte dos paises mundiais. A evolução vai no sentido de um maior respeito pela liberdade e auto-determinação de cada um, embora esse respeito, de forma parodoxal, se revele através de uma maior indiferença pelos outros e pelo que nos rodeia.

7Se essa indiferença corresponde a uma crise de valores da sociedade actual, julgo sinceramente que não. Passei pela escola, do início até ao fim, a ouvir repetir a máxima de que “a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros”. Pelos vistos, a máxima está a ser posta em prática. Uma atitude como a de Guido Westerwelle demonstra que no que toca a usos e costumes nunca fica pedra sobre pedra.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 21 Janeiro 2010