sábado, abril 24, 2010

Mudar

1No próximo fim-de-semana realiza-se o congresso do PSD, na conclusão do processo eleitoral que conduziu Pedro Passos Coelho a uma vitória que legitima totalmente a sua liderança. Com uma percentagem superior a 60%, numas eleições disputadas com quatro candidatos, Pedro Passos Coelho tem finalmente a oportunidade de liderar o PSD com toda a liberdade de quem foi eleito de forma indiscutível.

2Para além desse aspecto positivo, as eleições internas tiveram também a virtude dos seus protagonistas serem, em termos gerais, pessoas algo “desligadas” do passado do partido. É evidente que nenhum dos candidatos era um absoluto desconhecido de quem se interesse pelo fenómeno político, mas pelo menos, desta vez, não foram barões a concorrer para a liderança do partido.

3 E para o PSD, nada melhor do que uma lufada de ar fresco nos seus rostos. Claro que agora falta conhecer em mais pormenor as ideias para Portugal do líder eleito e verificar o prometido comportamento dos candidatos derrotados de apoio e cooperação com a nova liderança. Mas o clima em que decorreram as eleições internas foi globalmente positivo e permite ao PSD olhar para o futuro mais preocupado com o país do que com as suas lutas internas.

4De alguma forma, pelo menos no trajecto até ao momento, Pedro Passos Coelho representa um corte com uma certa forma de estar no PSD. Ainda há no partido alguns ilustres intelectuais que se julgam superiores em tudo o que dizem ou fazem. E que mesmo passando pela sua carreira política com erro atrás de erro, julgam até ao fim ser os donos da verdade.

5Falta agora verificar se o poder permitirá a Pedro Passos Coelho cumprir a sua principal promessa: Mudar. Porque está à vista de todos que o PSD precisa de mudar. Para já, mudou a liderança nacional com a promessa de um corte com o passado que permita ao partido reconfigurar-se e libertar-se de velhas ideias e poderes instalados.

6No futuro, a seu tempo, espera-se que o Partido Social Democrata, desde o âmbito nacional ao local, seja capaz de acolher novos rostos. Novos não necessariamente na idade, entenda-se.

7Novos na atitude, novos no comportamento, novos na capacidade de abrir o partido à sociedade civil, novos na capacidade de atrair gente mais capaz e menos interessada em lugares. Novos, que sejam capazes de dar ao partido o essencial que lhe tem faltado: definir uma estratégia que as pessoas percebam tratar-se de algo que vai para lá da simples conquista do poder pelo poder.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 8 Abril 2010

sábado, abril 03, 2010

Rating Do Futuro

1O rating não é mais do que uma opinião sobre a capacidade e vontade de uma entidade vir a cumprir de forma atempada e na íntegra determinadas responsabilidades. Desta forma, todos temos o nosso rating. A começar pelo Estado, passando pelas empresas, até chegar a cada um de nós, todos somos classificados com base no nosso rating, mesmo que não estejamos conscientes disso.

2Quem atribui o rating são as famosas empresas de rating, contra as quais o Ministro das Finanças se insurgiu recentemente por terem diminuído o rating do Estado português, ou seja, por terem considerado que aumentou o risco de Portugal não ser capaz de pagar aquilo que deve. A atitude de Teixeira dos Santos tem óbvia razão de ser, dado que uma diminuição da notação de rating provoca imediatamente o aumento do custo de financiamento do Estado português e por consequência um aumento no custo dos empréstimos de todos os portugueses.

3Como se depreende, o poder das agências de rating é enorme. Mas depois de terem falhado redondamente e estarem entre os responsáveis da crise que atravessamos, porque razão continua tudo como antes, mantendo as agências de rating um poder brutal sobre a economia e finanças mundiais? Basicamente, a resposta a esta pergunta encontra-se no facto de todos terem falhado.

4Antes das agências da rating, falharam os governos, falharam as entidades reguladoras e de supervisão e falharam as instituições financeiras. Por isso é que aparentemente continua tudo como antes. Numa primeira fase todos se queixaram das agências de rating, responsabilizando-as pela crise, mas tal facto tratou-se apenas de uma manobra política para encobrir responsabilidades, porque tal qual está montado o sistema, não pode viver sem elas.

5E não passa sem elas, porque a tarefa de analisar o rating de países, empresas e particulares pelo mundo fora é uma tarefa gigantesca. Só entidades com grande poder de organização e de trabalho conseguem ter uma visão do mercado capaz de descansar os investidores.

6Quando um Estado ou uma empresa pede dinheiro emprestado no mercado, os investidores disponíveis para emprestar esse dinheiro não possuem, por si só, capacidade para analisar o risco subjacente ao empréstimo, pelo que a única forma de estarem relativamente seguros do seu dinheiro é basearem-se na opinião das agências de rating.

7Aparentemente, parece que as empresas de rating passaram pela tempestade da crise económica conseguindo o feito incrível de não se terem molhado um pouco que seja. Em grande medida, todos continuamos a depender da sua opinião, da sua visão da realidade, da sua capacidade de prever o futuro. O rating do futuro é igual ao rating no passado.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 11 Março 2010