terça-feira, outubro 05, 2010

Terceira Via

1 Agosto, mês tradicionalmente calmo, acabou por ser bastante animado no que à política amarantina diz respeito, por causa de quatro entrevistas publicadas nos órgãos de comunicação social de Amarante, nomeadamente do Dr. Abel Afonso, ex-presidente do PSD Amarante, do engenheiro Jorge Mendes, actual vereador do PSD, do Dr. Abel Coelho, vereador do PS e da Dr.ª Ercília Costa, líder do PS Amarante.

2As entrevistas revelam pontos de interesse diferentes, mas a sua análise final demonstra bem as clivagens existentes em Amarante e as diferenças de perspectiva entre os dois principais partidos do concelho, as quais não são mais do que as mesmas de sempre.

3A entrevista do Dr. Abel Afonso, transmitida na Amarante TV, é, por várias razões, absolutamente demolidora. Não só porque, bem vistas as coisas, coloca em causa tudo o que tem sido a estratégia do PSD ao longo dos últimos 10 anos, desde a estratégia política à estratégia eleitoral, mas também porque é por si só reveladora da necessidade e oportunidade que o PSD de Amarante tem presentemente de se “refundar” numa terceira via.

4 Uma terceira via que permita oferecer a Amarante novos pontos de vista, novas estratégias de desenvolvimento, e que tenha a capacidade de mobilizar rostos com provas dadas na vida profissional e autárquica, desde sempre próximos do partido, mas que nunca tiveram oportunidade de assumir responsabilidades de liderança política. O PSD não pode manter por muito mais tempo pontos de vista e programas eleitorais que são sucessivamente derrotados desde as eleições autárquicas de 2001, aos quais os seus militantes e simpatizantes se tem vindo sucessivamente a agregar, alguns deles sem coragem de os colocar em causa ou de os contestar, naquilo que parece ser um exercício de calculismo absolutamente intolerável.

5E nem a aparente letargia do PS deve criar nas restantes forças políticas a ideia de que o ciclo socialista se aproxima do fim. A entrevista ao Jornal de Amarante do Dr. Abel Coelho não é mais do que a reafirmação daquilo que o PS tem vindo a defender para Amarante ao longo dos últimos anos. A entrevista da Dr.ª Ercília Costa, apesar da aparente tentativa de refrescar a imagem socialista, não contém mais do que a defesa da política que Armindo Abreu tem seguido enquanto Presidente de Câmara. Mas apesar de ser mais ou menos consensual que os amarantinos há muito procuram uma alternativa de mudança, não é menos verdade que nunca ao longo dos últimos anos confiaram noutro partido que não o Partido Socialista.

6Por muitos ou poucos votos, mais Junta de Freguesia menos Junta de Freguesia, há demasiados anos que é o PS a ganhar, sinal de que por muita bondade que tenham as propostas alternativas, elas precisam de ser revistas e melhoradas, já que é muito pouco provável que rebatendo as mesmas propostas e os mesmos pontos de vista ao longo de mais de 10 anos, alguém consiga chegar de derrota em derrota até à vitória final.

7Sinceramente, desde a questão do corte do trânsito no Largo de São Gonçalo, passando pelo debate em torno da Barragem de Fridão, não pode haver melhor espelho do que tem sido o debate político em Amarante. De um lado o PS, com uma visão que se admite estruturada mas muito pouca ambiciosa. Do outro o PSD, com uma visão que se admite ambiciosa mas muito pouco estruturada.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante

O Sexo Dos Anjos

1 Não raras vezes, o debate político aproxima-se bastante de um simples debate acerca do sexo dos anjos. E só a muito custo alguns debates sobre assuntos particularmente importantes passam da fase da discussão estéril e inútil para a fase da discussão séria e proveitosa para todos.

2O interminável debate sobre as SCUT é o último exemplo. Neste momento ainda não sabemos como a novela vai acabar, mas pelo menos a posição do PSD nesta matéria já obrigou o Governo a recuar da sua posição inicial, permitindo assim que discussão sobre o tema esteja centrada numa questão essencial: a justiça na cobrança das portagens em Portugal.

3Porque haveríamos de andar a discutir a cobrança de portagens apenas nas SCUT do norte, quando é por demais evidente que a única justiça possível é que todos paguem? E depois de, por força da posição do PSD, ser consensual que todos devem pagar, porque haveríamos de andar a discutir a isenção do pagamento de portagens para determinados concelhos, quando é óbvio que aquilo que faz sentido é uma discriminação positiva e não a isenção no pagamento de portagens?

4 Se calhar, a verdadeira intenção do PS, dentro da sua estratégia permanente de cuidados mediáticos, era não situar o debate na injustiça gritante que foi a decisão de criação das SCUT. Será que faz sentido os habitantes de concelhos como Vila do Conde, Póvoa de Varzim ou Viana do Castelo poderem viajar até ao Porto sem pagar, em estradas de excelente qualidade, quando por exemplo as pessoas de Amarante sempre pagaram portagem?

5Para quem é de Amarante e conhece minimamente zonas como as de Vila do Conde, Póvoa de Varzim ou Viana do Castelo, tem dificuldade em aceitar que esses concelhos possam usufruir de uma vantagem que Amarante não pode alcançar.

6Felizmente, e reconheça-se com grande mérito do PSD, o debate sobre as SCUT deixou de ser o debate sobre o sexo dos anjos e passou a ser um debate a sério. Por causa desse debate, e de acordo com as últimas propostas conhecidas, a discriminação positiva vai ser uma realidade, sendo uma janela de oportunidade para corrigir as muitas injustiças que as SCUT vieram provocar.

7E seja qual for o critério escolhido para que os habitantes de alguns concelhos beneficiem de descontos no pagamento de portagens, é praticamente certo que Amarante vai constar da lista que será alvo da discriminação positiva. Convenhamos que isso não resolverá os problemas de Amarante, mas numa altura em que os agentes políticos locais parecem incapazes de dar um novo impulso ao nosso concelho, ao menos as questões nacionais para nos darem um pequeno proveito.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante

Cidades Do Futuro

1 No âmbito das Conferências Fórum Amarante XXI realizou-se no passado fim-de-semana um encontro em Amarante em que se falou sobre as cidades, a sua evolução ao longo dos tempos, o seu impacto na vida das pessoas e as consequências que o desenvolvimento das cidades tem vindo a provocar.

2No mesmo fim-de-semana surgiram notícias em vários jornais, dando conta que no Porto foram encontrados os corpos de 3 pessoas, as quais viviam dentro dos limites da cidade, sem apoio de família ou amigos e aparentemente acompanhados pouco de perto pela assistência social.

3Voltando à conferência do Fórum Amarante XXI, D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e um dos oradores do encontro, disse a determinada altura mais ou menos isto: “hoje as pessoas juntam-se em grandes eventos e grandes espaços públicos, mas quase sempre numa perspectiva consumista ou de divertimento, de que são exemplo as idas ao centro comercial ou ao futebol.”

4De facto, e mesmo procurando não ser pessimista, aqueles que se lembram das cada vez mais antigas relações de vizinhança entre as pessoas, vividas nas aldeias mas também nas cidades de outros tempos, acharão a realidade de hoje bastante assustadora. Paralelamente com outros aspectos de desenvolvimento da nossa sociedade, a evolução urbanística também tem vindo a ajudar a um individualismo cada vez maior no modo de vida quotidiano.

5É assustador pensar que podem morrer pessoas dentro das nossas cidades e que demoramos vários dias até descobrir os seus corpos. É assustador pensar que é possível alguém falecer no local de trabalho, como aconteceu nos EUA, tendo demorado vários dias até que os colegas de trabalho se apercebessem do facto.

6Os desafios que se colocam aos decisores políticos são enormes. As políticas de urbanismo e de organização territorial actuais levam muito pouco em conta as implicações que provocam na vida das pessoas ao nível do seu relacionamento em comunidade. As próprias políticas sectoriais, como a de educação e saúde, favorecem a litoralização do país e uma maior concentração das pessoas nas grandes cidades.

7Encerramos escolas com menos de 20 alunos. Encerramos serviços de saúde por questões de racionalização de recursos. Num e noutro caso, a qualidade da educação ou a qualidade dos serviços de saúde pode até melhorar, mas a distância da nossa terra e do nosso núcleo de amigos e vizinhos aumenta cada vez mais à medida que estudamos longe de casa ou somos curados longe do sítio onde gostamos de estar. Precisamos que a cidade do futuro seja feita de uma maior coordenação entre as várias políticas sectoriais e a política de cidade.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante