1 – Os portugueses são todos muito simpáticos e José Sócrates não se cansa de o dizer na campanha eleitoral, repetindo a expressão “obrigado, vocês são muito simpáticos” até à exaustão, como se ela fosse uma fórmula de sucesso nos contactos de rua. De facto, somos simpáticos. E ao longo desta campanha eleitoral para as legislativas, temos vindo a estar todos simpaticamente entretidos com assuntos muito pouco relacionados com o nosso futuro.
2 – O último caso a entrar na campanha foi o das alegadas escutas ao Palácio de Belém. Infelizmente, já não sabemos no que acreditar. Não sabemos se acreditar que alguma razão haveria de ter o assessor do Presidente da República, Fernando Lima, para fazer passar para o exterior a mensagem de que os serviços da presidência estavam a ser escutados. Não sabemos se acreditar nos que dizem que tudo não passou de uma enorme manobra de diversão sem qualquer fundamento.
3 – Seja de uma forma ou de outra, acredite-se no que se acreditar, a situação é igualmente grave. O simples facto de se colocar a hipótese de escutas, para que um órgão de soberania como o Governo saiba o que anda a fazer outro órgão de soberania como o Presidente da República, é por si só algo que os portugueses não podem aceitar de forma simpática.
4 – De qualquer forma, a polémica estalou em plena campanha eleitoral e Cavaco Silva acabou por afastar Fernando Lima de assessor para os contactos com a imprensa. No entanto, parece que Fernando Lima vai continuar ligado aos dos serviços da presidência, tendo apenas sido afastado do contacto com a comunicação social.
5 – A confirmar-se que o afastamento de Fernando Lima se revela apenas uma simples troca de funções, saindo do contacto com a comunicação social mas mantendo a colaboração com o Presidente da República em funções diferentes, não pode haver maior sinal de que Cavaco Silva está de facto convencido que tem sido escutado.
6 – Caso contrário, teria afastado Fernando Lima para bem longe do seu gabinete. Como bom português, Cavaco Silva lidou com a situação de forma simpática. Quanto aos partidos políticos, o PSD tentou passar ao lado da polémica, fazendo valer a ideia de que os problemas entre o PS e o Presidente da República não fazem parte das suas preocupações.
7 – Já o PS, simpaticamente entretido mais do que qualquer outro partido em manter os portugueses simpaticamente distraídos dos problemas nacionais, teve o descaramento de dizer que o afastamento de Fernando Lima é um revés na estratégia eleitoral do PSD. Sinceramente, não se percebe. De uma vez por todas, o PS e Augusto Santos Silva, homem de mão do partido para as atoardas sem sentido, não são exemplo de seriedade política para ninguém.
"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 24 Setembro 2009
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