1 – Em edição recente do Diário de Noticias surgiu um apontamento sobre a visita à China de Guido Westerwelle, número dois do Governo alemão. A razão prendia-se com o facto de Guido Westerwelle ser homossexual e ter levado o seu companheiro na viagem, o qual apresentou aos mais altos responsáveis chineses e alemães presentes nos actos oficiais da visita.
2 – A reflexão sobre o conteudo da noticia surge forçosamente ligada à recente discussão em Portugal acerca do casamento homossexual. De facto, a sociedade tem evoluido de forma avassaladora ao longo dos últimos 20 ou 30 anos, de tal forma que hoje se tornam possíveis situações absolutamente impensáveis há alguns anos atrás.
3 - Embora julgue que com referendo o casamento homossexual não seria uma realidade em Portugal, parece um facto concreto afirmar que a sociedade portuguesa, afinal, e contra muitas expectativas, está minimamente preparada para assimilar políticas socialmente mais vanguardistas.
4 – No caso de realização de um referendo, e embora correndo o risco de aplicar o senso comum de forma algo displicente, arrisco dizer que os nossos avós votariam massivamente contra o casamento homossexual, nós votariamos divididos entre o sim e o não e os nossos filhos, se pudessem votar, votariam maioritariamente sim.
5 – Podemos não vislumbrar as razões que levam a que, de geração para geração, tudo tenha evoluido tão rapidamente. Mas atentos ao que se passa hoje, ao comportamento das pessoas nas relações com os outros, à forma como evolui a “emancipação” adolescente nos seus mais diversos aspectos, ao clima que se vive nas redes sociais, ou a muitas outras vertentes, percebe-se que o caminho do total respeito pela liberdade individual de cada um é irreversível.
6 – Por isso é que o casamento homossexual e mais a seu tempo a adopção por casais do mesmo sexo, acabarão por tornar-se uma realidade global em Portugal e na maior parte dos paises mundiais. A evolução vai no sentido de um maior respeito pela liberdade e auto-determinação de cada um, embora esse respeito, de forma parodoxal, se revele através de uma maior indiferença pelos outros e pelo que nos rodeia.
7 – Se essa indiferença corresponde a uma crise de valores da sociedade actual, julgo sinceramente que não. Passei pela escola, do início até ao fim, a ouvir repetir a máxima de que “a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros”. Pelos vistos, a máxima está a ser posta em prática. Uma atitude como a de Guido Westerwelle demonstra que no que toca a usos e costumes nunca fica pedra sobre pedra.
"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 21 Janeiro 2010
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