1 – O endividamento de cada um de nós está associado à capacidade de pagamento medida pelo salário que temos, normalmente aferida através do que se chama taxa de esforço. Observam as boas regras de concessão de crédito que somando todos os encargos de um agregado familiar, os mesmos não devem ser superiores a 40% do rendimento líquido mensal.
2 – Se transportarmos esta medida para a aferição do endividamento de um país, seriamos forçados a concluir que Portugal não deveria estar endividado em mais de 40% da riqueza que é capaz de produzir durante um ano inteiro, ou seja, em mais de 40% do seu Produto Interno Bruto.
3 – Contudo, a Comissão Europeia é mais benevolente e recomenda que o endividamento não ultrapasse os 60% do PIB. Mas mesmo este limite não tem sido respeitado pela generalidade dos países e no que toca a Portugal, as previsões apontam para que muito em breve o nosso endividamento ultrapasse os 100% do PIB. Ou seja, estaremos endividados num montante superior ao da riqueza que somos capazes de produzir num ano inteiro.
4 – Numa comparação um pouco absurda com a nossa vida privada, talvez estes números não nos assustem muito. A grande maioria das pessoas que tem em curso um crédito habitação e um crédito automóvel está endividado num valor superior ao salário que recebe durante muito mais tempo que um ano. No entanto, numa perspectiva pessoal, talvez esses sejam os investimentos mais significativos que temos de fazer ao longo da vida, pelo que se os empréstimos forem contraídos com uma taxa de esforço adequada não serão de prever grandes problemas em termos de endividamento ao longo do tempo.
5 – Já o problema de endividamento de um país está obviamente muito para além da nossa preocupação quotidiana, desde logo porque depende de muitos factores ligados ao percurso político dos vários Governos. Quanto maior o endividamento, menor a capacidade de Portugal para investir em sectores como a saúde, a educação, a justiça, o ambiente, as infra-estruturas ou a solidariedade social.
6 – Como uma bola de neve, quanto maior o endividamento pior será a classificação de risco do nosso país, provocando o aumento dos juros que Portugal tem que pagar nos seus empréstimos, e por consequência o aumento dos juros que todos temos que pagar para obter empréstimos pessoais. Mas para além do custo do dinheiro, o principal problema do aumento do endividamento reside na limitação que provoca na capacidade de investimento do Estado.
7 – O investimento público não é comprar uma casa e um automóvel e depois gerir o quotidiano com mais ou menos esforço. O investimento público é um esforço permanente de modernização que não pode ser levado a bom porto com um Estado endividado até ao pescoço.
8 – Muito menos o investimento público pode ser visto numa simples perspectiva de apoio em fase de crise económica, sob pena de se hipotecarem seriamente as possibilidades futuras. Para que o investimento público seja dinâmico e recorrente, terá que haver um momento de contenção e ponderação da estratégia a seguir. Tal qual como em tudo na vida.
"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 19 Novembro 2009
Sem comentários:
Enviar um comentário