quarta-feira, janeiro 28, 2009

A Data Da Maioria

1 José Sócrates já está em campanha eleitoral e marca a agenda política. Já todos ficamos a saber que quer uma maioria absoluta nas próximas eleições. E por estranho que pareça, ao mesmo tempo que reconhece a recessão em que Portugal se encontra, José Sócrates consegue pedir nova maioria absoluta sem que esse pedido aparente ser contraditório com a realidade do país.

2Por outro lado, o Primeiro-Ministro lançou verdadeiramente a questão da data das próximas eleições, assunto ao qual o Presidente da República e a oposição pretendem não dar grande importância face “aos problemas mais importantes que preocupam os portugueses”. Acontece que não é de acreditar que para além de José Socrates todos os outros menosprezem a questão.

3 - A data das próximas eleições é muito importante precisamente por todos os problemas que afligem os portugueses. E realizar as eleições legislativas em separado, ou juntamente com as eleições europeias, ou então com as eleições autárquicas, não é uma questão menor para o país nem para as escolhas que os portugueses vão fazer ao longo de 2009.

4Sendo compreensível que o Presidente da República transmita a mensagem que neste momento não está preocupado com o problema, já não se compreende que os partidos da oposição façam de conta que só mais tarde se vão debruçar sobre o assunto. Não se compreende, porque ninguém acredita que assim seja. A oposição está obviamente preocupada com o tema.

5Mas para além de preocupada, a oposição também está enfraquecida. Por razões que quase dariam para escrever um livro, está enfraquecida no conteúdo das suas propostas e da sua estratégia, mas também na forma de comunicação e na união das suas tropas. De tal forma que perante mais um problema levantado por José Socrates, parece não ter um juizo formado sobre o assunto ou estar sem coragem de assumir a sua opinião.

6Assim, José Sócrates já vai à frente. Já disse que não quer que as eleições legislativas se disputem no mesmo dia das eleições autárquicas, de forma a evitar que se “prejudiquem as democracias locais”. Face a este argumento, o que pensa a oposição? Bem, não sabemos. Diz que em face da crise não é o tempo oportuno para falar do assunto.

7Por causa da crise a política fica suspensa? Então seria melhor deixar de fazer qualquer tipo de oposição e esperar tranquilamente pelo início da campanha eleitoral. Ironicamente a crise parece jogar a favor de José Sócrates, que da sua perspectiva não podia arranjar melhor aliado que uma crise assim e uma oposição assim, para pedir nova maioria absoluta.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 15 Janeiro 2009

Economizar Expectativas

1Expectativa é esperança. É esperar que algo aconteça com base em probabilidades ou promessas. Falar de economia é falar de expectativas. A economia real sofre da baixa esperança e falta de confiança dos consumidores. A economia financeira sofre com medo do futuro por parte dos investidores, que retiram dinheiro dos mercados e aumentam a sensação de insegurança de todos.

2A economia real e a economia financeira não vivem uma sem a outra. Há quem defenda que na base de todos os problemas está a facilidade no acesso ao crédito nos últimos anos. Os consumidores respiravam confiança porque o poder de compra parecia não ter fim. Os mercados financeiros, baseados na expectativa de que todos iriam ter poder de compra quase ilimitado para sempre, fundaram os seus princípios em lucros crescentes de ano para ano.

3 - Mas o dinheiro também desaparece. Em algum momento teria que haver uma correcção na economia que devolvesse pessoas e empresas à terra. As pessoas percebem hoje que poupar também é preciso. As empresas entendem finalmente que os lucros não vão crescer para sempre.

4Os bancos descobrem que podem falir de um dia para o outro, apesar dos lucros incríveis da sua actividade, e cortam bruscamente no crédito. A indústria automóvel acumula prejuizos, com empresas em risco de falência. A construção civil sofre com a falta de crédito, enquanto procura aumentar a qualidade do que faz. O sistema financeiro acumula perdas e descoberta de fraudes. As pessoas descobrem que a capacidade de poupança é reduzida.

5Os Governos desdobram-se em apoios para as empresas e anúncios de retoma do investimento público. O petróleo já esteve 3 vezes mais caro do que está hoje. A taxa de juro está quase a metade do que há cerca de 2 meses. As matérias primas estão hoje muitos mais baratas do que há alguns meses atrás.

6Todos estes factores, cuja evolução foi apontada durante grande parte do ano como a causa da crise, já baixaram consideravelmente de preço. O petróleo baixou, a taxa de juro baixou, as matérias primas também e os Governos estão novamente dispostos a investir. Mas a crise continua.

7Acima de tudo, uma crise de confiança. Ninguém confia no futuro e os princípios da eonomia de mercado estão fragilizados. Apesar disso, o único caminho viável é a economia de mercado. Só que agora, não há quem tenha expectativas sobre o que ela vai ser no futuro.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 31 Dezembro 2008