terça-feira, dezembro 15, 2009

As Nossas Empresas

1Sem desprezar as empresas com sede e reconhecida actividade em locais mais próximos da cidade, e portanto mais conhecidas das pessoas, em Amarante existem dois pólos fundamentais para o tecido empresarial, que são a zona de Vila Meã e a zona geograficamente mais próxima da Lixa, com destaque para Freixo Cima e Figueiró Santiago.

2Para quem conhece de perto a realidade das empresas amarantinas, a importância destes dois pólos é bastante grande, antes de mais pela quantidade de empresas existentes, mas também pela qualidade dos produtos e serviços que são oferecidos pela maioiria delas.

3 - Com raras excepções, tratam-se de empresas pouco conhecidas e que vivem com dificuldades, mas que dão um enorme contributo para os níveis de emprego e permitem que a sociedade amarantina em geral respire um pouco melhor. São acima de tudo pequenas e médias empresas, criadas a partir da iniciativa de muitos empresários que “sofrem” da saudável doença do empreendedorismo e da vontade de triunfar por meios próprios.

4Muito daquilo que fazem é “exportação”, pois muito do que produzem é destinado a clientes nacionais localizados fora de Amarante. O peso das verdadeiras exportações é menor, tendo apenas um peso mais significativo no sector da construção civil relacionado com a cedência de mão de obra, produto português com enorme sucesso no mercado espanhol.

5A forma de apoiar o desenvolvimento de empresas como as que existem nas zonas atrás referidas e por todo o concelho, divide opiniões. Uns defendem a criação de espaços com capacidade de acolhimento de empresas, idéia essa traduzida na criação das chamadas zonas industriais ou empresariais. Outros defendem que o tipo de tecido empresarial amarantino não justifica por si só o investimento nesse tipo de infraestrutura, pelo que o caminho deverá ser o de apoiar as empresas através de políticas públicas de desenvolvimento que beneficiem o concelho em geral e as empresas em particular.

6 Na realidade, salvo melhor opinião, não temos feito uma coisa nem outra. Ainda recentemente uma empresa amarantina levou a cabo uma acção de promoção de um empreendimento que está a construir em Penafiel. Trata-se de construção civil de alta qualidade, com forte aposta na inovação e diferenciação, num empreendimento em que cerca de 70% da energia a consumir será assegurada por energias renováveis.

7O poder político de Penafiel marcou presença. E marcou presença com um discurso de apoio e exemplificativo da forma como o poder político e o poder da iniciativa privada se podem complementar. Em Amarante ainda não estamos a esse nível. Ainda perdemos tempo a discutir a fórmula para apoiar a iniciativa privada sem perder de vista o bem comum, quando bem aqui ao nosso lado já há muito tempo que descobriram a pólvora.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 3 Dezembro 2009

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Endividamento Global

1O endividamento de cada um de nós está associado à capacidade de pagamento medida pelo salário que temos, normalmente aferida através do que se chama taxa de esforço. Observam as boas regras de concessão de crédito que somando todos os encargos de um agregado familiar, os mesmos não devem ser superiores a 40% do rendimento líquido mensal.

2Se transportarmos esta medida para a aferição do endividamento de um país, seriamos forçados a concluir que Portugal não deveria estar endividado em mais de 40% da riqueza que é capaz de produzir durante um ano inteiro, ou seja, em mais de 40% do seu Produto Interno Bruto.

3 Contudo, a Comissão Europeia é mais benevolente e recomenda que o endividamento não ultrapasse os 60% do PIB. Mas mesmo este limite não tem sido respeitado pela generalidade dos países e no que toca a Portugal, as previsões apontam para que muito em breve o nosso endividamento ultrapasse os 100% do PIB. Ou seja, estaremos endividados num montante superior ao da riqueza que somos capazes de produzir num ano inteiro.

4Numa comparação um pouco absurda com a nossa vida privada, talvez estes números não nos assustem muito. A grande maioria das pessoas que tem em curso um crédito habitação e um crédito automóvel está endividado num valor superior ao salário que recebe durante muito mais tempo que um ano. No entanto, numa perspectiva pessoal, talvez esses sejam os investimentos mais significativos que temos de fazer ao longo da vida, pelo que se os empréstimos forem contraídos com uma taxa de esforço adequada não serão de prever grandes problemas em termos de endividamento ao longo do tempo.

5Já o problema de endividamento de um país está obviamente muito para além da nossa preocupação quotidiana, desde logo porque depende de muitos factores ligados ao percurso político dos vários Governos. Quanto maior o endividamento, menor a capacidade de Portugal para investir em sectores como a saúde, a educação, a justiça, o ambiente, as infra-estruturas ou a solidariedade social.

6Como uma bola de neve, quanto maior o endividamento pior será a classificação de risco do nosso país, provocando o aumento dos juros que Portugal tem que pagar nos seus empréstimos, e por consequência o aumento dos juros que todos temos que pagar para obter empréstimos pessoais. Mas para além do custo do dinheiro, o principal problema do aumento do endividamento reside na limitação que provoca na capacidade de investimento do Estado.

7 – O investimento público não é comprar uma casa e um automóvel e depois gerir o quotidiano com mais ou menos esforço. O investimento público é um esforço permanente de modernização que não pode ser levado a bom porto com um Estado endividado até ao pescoço.

8 Muito menos o investimento público pode ser visto numa simples perspectiva de apoio em fase de crise económica, sob pena de se hipotecarem seriamente as possibilidades futuras. Para que o investimento público seja dinâmico e recorrente, terá que haver um momento de contenção e ponderação da estratégia a seguir. Tal qual como em tudo na vida.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 19 Novembro 2009

terça-feira, novembro 17, 2009

Resultado Final

1O resultado das eleições autárquicas em Amarante ficou verdadeiramente completo no passado dia 30 de Outubro, quando se procedeu à instalação da nova Assembleia Municipal, tendo o Dr. Pedro Cunha, em representação do PSD, assumido a presidência daquele órgão.

2 Com o PS em maioria na Câmara Municipal e o PSD na liderança da Assembleia Municipal, Amarante conhece um equilibro de forças que não se verificava há vários anos. Mais do que um simples resultado eleitoral, o dia 11 de Outubro deu aos dois principais partidos amarantinos uma responsabilidade acrescida, porque desta vez não foi apenas um partido a ganhar.

3É certo que o PS foi o principal vencedor. No entanto, o resultado do PSD para a Câmara Municipal não envergonha o partido, apesar de não ser o desejado. Por outro lado, fruto da bipolarização registada e do facto de ter ganho a maioria das juntas de freguesia, o PSD controla a Assembleia Municipal. O dia 11 de Outubro criou assim um novo equilíbrio na política amarantina, que será curioso acompanhar de perto.

4Será curioso verificar como vai o PS lidar com a situação, no último mandato de Armindo Abreu e numa fase de mudanças significativas nos socialistas de Amarante, ligadas a um processo natural, mas sempre polémico, de escolha do próximo líder. Será curioso verificar como vai o PSD lidar com a vantagem que possui na Assembleia Municipal e que lhe poderá permitir ter uma voz activa e determinante em Amarante, como nunca teve ao longo dos últimos anos.

5Independentemente das consequências práticas, os números finais da votação de 11 de Outubro não deixam de ser curiosos. A bipolarização foi quase total. Se à direita era normal que assim fosse, porque o CDS há muito que deixou de ser visível em Amarante, à esquerda foi mais surpreendente a concentração de votos no PS, resultado de um inesperado apagamento do BE, que alcançou um resultado decepcionante.

6Por outro lado, o PSD, apesar de ter alcançado um resultado de registo em termos de número de votos, não conseguiu chegar perto dos cerca de 19.000 votos que Luis Ramos e Ferreira Torres somaram em 2005. Do outro lado, depois de em 2005 ter aumentado o número de votos face a 2001, em 2009 o PS aumentou o número de votos face a 2005, faltando saber se este aumento se deve a Armindo Abreu ou ao próprio Partido Socialista.

7 – Neste enquadramento, o novo equilíbrio de forças entre Câmara Municipal e Assembleia Municipal assume ainda mais importância, porque obriga ambos os partidos a estarem constantemente em alerta e com os seus eleitos e militantes mobilizados. O caminho até 2013 é muito longo, mas independentemente dos protagonistas nessa altura, os dados começam a ser lançados desde já. Há um novo resultado final a caminho.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 5 Novembro 2009

terça-feira, novembro 03, 2009

Liquidação Antecipada

1Em todos os aspectos da nossa vida, os momentos em que assumimos responsabilidades futuras são os mais importantes. Particularmente no aspecto financeiro, o momento em que contratamos um crédito pessoal ou um crédito habitação deverá ser uma altura de reflexão sobre a nossa capacidade financeira actual, conjugada com os projectos futuros de cada um.

2 Não é novidade que as decisões financeiras devem ser tomadas tendo em consideração os restantes aspectos da vida pessoal e profissional de cada pessoa, porque estamos na presença de uma esfera da nossa vida que influencia tudo o resto. Por isso, quando precisamos de um empréstimo, antes da preocupação com o valor da prestação, com a taxa de juro ou com os custos associados, devemos pensar sobre a necessidade real do endividamento.

3Por outro lado, é fundamental reflectir sobre o encargo com a prestação ao longo do tempo, assegurando que esse encargo está enquadrado na nossa actual capacidade financeira, pois só assim estaremos minimamente salvaguardados no futuro, o máximo possível a salvo de qualquer imponderável.

4De entre os vários tipos de crédito, o crédito habitação assume especial importância. Em resultado da crise, foi no crédito habitação que mais cresceu o crédito mal parado. Mas, fruto da redução das taxas de juro de referência, é também no crédito habitação que se registam casos de várias famílias que viram os seus encargos mensais reduzidos de forma significativa, gerando até capacidade de poupança adicional ou outrora inexistente.

5Obviamente, estamos na presença de pessoas para quem o encargo mensal com o empréstimo foi contraído de forma equilibrada e sustentada. E agora, que beneficiam de alguma folga no orçamento, são estas mesmas famílias que começam a considerar a hipótese de liquidar antecipadamente os seus empréstimos, precavendo o futuro, que irá trazer novos aumentos na taxa de juro de referência e por consequência nas prestações.

6Falta agora saber se a opção pela liquidação antecipada dos empréstimos será a correcta, principalmente numa fase de taxas de juro em mínimos históricos que permitem que cada prestação paga signifique, de facto, uma amortização do capital em divida muito mais significativa do que anteriormente. Aqueles que agora vivem com encargos financeiros que lhe permitem ter capacidade de poupança, deverão pensar no cenário que preferem para um futuro próximo de regresso anunciado das subidas de taxas de juro.

7 – Deverão ponderar esgotar desde já as suas poupanças, liquidando empréstimos numa fase de taxas de juro extremamente baixas ou, em alternativa, deverão ponderar esperar para ver, resguardando capacidade de decisão e capacidade financeira para um novo enquadramento económico, a surgir provavelmente durante o ano de 2010.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 22 Outubro 2009

segunda-feira, outubro 19, 2009

A Fórmula De Deus

1A fórmula de Deus será uma equação matemática que conseguirá explicar através dos números todo o funcionamento do universo. Na ficção, a busca da fórmula de Deus será a aspiração de qualquer grande cientista. Mas na realidade será impossível encontrar uma explicação para tudo.

2Parece óbvio que tudo acontece por uma razão. O que já não é tão óbvio é conseguir encontrar as razões pelas quais as coisas acontecem, porque cada pessoa interpreta as coisas de forma diferente, o que torna impossível entender as razões do sentimento de uma comunidade inteira.

3 - Os momentos eleitorais são o melhor exemplo de que é impossível perceber o sentimento de uma comunidade. È claro que no final, após os resultados, saberemos o que as pessoas decidiram. No entanto, o resultado final não transmite a vontade comum, transmite um somatório de vontades individuais, influenciadas por muitos factores diferentes e que em conjunto influenciam a vontade comum.

4Por essa razão, muitos políticos tentam agradar a todos, disparando, ou tentando disparar, em todas as direcções. Por essa razão, muitos politicos refugiam-se nos lugares comuns, nas insinuações, na vida pessoal dos candidatos opositores ou no lançamento de frases feitas que ficam bem quando vistas na televisão ou na internet.

5No mundo de comunicação em que vivemos, dependemos mais das formas de comunicação do que do conteúdo da mensagem. Ou pelo menos, pensamos que assim é. Mas no que será que as pessoas pensam quando decidem o seu sentido de voto? Pensam mais na forma como as mensagens lhe chegam ou pensam mais no conteúdo de cada uma das mensagens?

6A resposta às perguntas anteriores, quando encontrada, será a verdadeira fórmula de Deus para um político. Até lá serve apenas aos candidatos eleitorais uma forte reflexão sobre a atitude que devem tomar durante a sua vida política e a forma como devem preparar a apresentação das suas idéias ao eleitorado.

7Um programa político tem que ter substância. O próprio discurso, em campanha ou fora dela, tem que juntar ao sal e pimenta sempre necessário nestas ocasiões, uma forte componente programática para que todos percebam para onde nos querem levar os nossos políticos. È essa a fórmula de Deus na política. Com investimento na imagem e na forma, mas não descurando de forma nenhuma o conteúdo. E depois o eleitorado decide.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 8 Outubro 2009

Somos Todos Simpáticos

1Os portugueses são todos muito simpáticos e José Sócrates não se cansa de o dizer na campanha eleitoral, repetindo a expressão “obrigado, vocês são muito simpáticos” até à exaustão, como se ela fosse uma fórmula de sucesso nos contactos de rua. De facto, somos simpáticos. E ao longo desta campanha eleitoral para as legislativas, temos vindo a estar todos simpaticamente entretidos com assuntos muito pouco relacionados com o nosso futuro.

2O último caso a entrar na campanha foi o das alegadas escutas ao Palácio de Belém. Infelizmente, já não sabemos no que acreditar. Não sabemos se acreditar que alguma razão haveria de ter o assessor do Presidente da República, Fernando Lima, para fazer passar para o exterior a mensagem de que os serviços da presidência estavam a ser escutados. Não sabemos se acreditar nos que dizem que tudo não passou de uma enorme manobra de diversão sem qualquer fundamento.

3Seja de uma forma ou de outra, acredite-se no que se acreditar, a situação é igualmente grave. O simples facto de se colocar a hipótese de escutas, para que um órgão de soberania como o Governo saiba o que anda a fazer outro órgão de soberania como o Presidente da República, é por si só algo que os portugueses não podem aceitar de forma simpática.

4De qualquer forma, a polémica estalou em plena campanha eleitoral e Cavaco Silva acabou por afastar Fernando Lima de assessor para os contactos com a imprensa. No entanto, parece que Fernando Lima vai continuar ligado aos dos serviços da presidência, tendo apenas sido afastado do contacto com a comunicação social.

5A confirmar-se que o afastamento de Fernando Lima se revela apenas uma simples troca de funções, saindo do contacto com a comunicação social mas mantendo a colaboração com o Presidente da República em funções diferentes, não pode haver maior sinal de que Cavaco Silva está de facto convencido que tem sido escutado.

6Caso contrário, teria afastado Fernando Lima para bem longe do seu gabinete. Como bom português, Cavaco Silva lidou com a situação de forma simpática. Quanto aos partidos políticos, o PSD tentou passar ao lado da polémica, fazendo valer a ideia de que os problemas entre o PS e o Presidente da República não fazem parte das suas preocupações.

7 – Já o PS, simpaticamente entretido mais do que qualquer outro partido em manter os portugueses simpaticamente distraídos dos problemas nacionais, teve o descaramento de dizer que o afastamento de Fernando Lima é um revés na estratégia eleitoral do PSD. Sinceramente, não se percebe. De uma vez por todas, o PS e Augusto Santos Silva, homem de mão do partido para as atoardas sem sentido, não são exemplo de seriedade política para ninguém.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 24 Setembro 2009

sábado, setembro 26, 2009

Políticos Profissionais

1Fazem eco em Amarante alegadas pressões de responsáveis políticos sobre familiares de pessoas que integram listas candidatas para as próximas eleições autárquicas. Consta-se que essas pressões têm como alvo pessoas que são funcionários municipais.

2Trata-se de uma situação intolerável e digna das melhores práticas anti-democráticas. Deixar sequer em aberto, que pessoas com especiais responsabilidades políticas possam ter pressionado familiares de candidatos autárquicos, é mau demais para ser verdade. Principalmente em Amarante, que mesmo considerando apenas a sua história recente, todos vemos como uma terra de fortes tradições democráticas e de liberdade individual de escolha.

3Mas se calhar, sem darmos por isso, estamos a ser invadidos por políticos profissionais. E quando as pessoas são profissionais da política, mesmo tendo outras competências para além da política, provavelmente nunca as exerceram na prática, razão pela qual se entende algum receio de mudança e uma forte aposta na manutenção da posição que ocupam.

4De qualquer forma, os fins não justificam os meios. Aqueles que, em Portugal, exercem actividades políticas de especial responsabilidade vivem muito acima da média dos portugueses comuns. De certeza absoluta que não vivem com tantas preocupações como o português mais comum, para garantir o sustento da sua família ou do seu modo de vida.

5Por outro lado, o político de hoje, profissional ou não, convive muito de perto com a necessidade permanente de apoio social à população, o qual se reveste das formas mais variadas. No entanto, esse apoio social que os órgãos públicos proporcionam não pode ser personalizado em alguém em particular, porque felizmente é um direito adquirido por todos, completamente independente das opções políticas das pessoas, individualmente consideradas ou vistas como um agregado familiar.

6O emprego e o direito ao trabalho, alicerçado na competência das pessoas para aquilo que fazem, são provavelmente o apoio social mais importante que podemos dar às pessoas. Infelizmente, o sistema político que temos não é capaz de evitar pressões desajustadas e intimidatórias. Mas felizmente, na política como na vida, há gente com memória e que independentemente dos resultados dos próximos actos eleitorais, vai continuar a lutar por maior transparência e maior justiça no tratamento das pessoas.

7 – A propósito deste assunto, recorda-se uma célebre frase: “Eu sei que vocês sabem que eu sei que vocês sabem daquilo que eu estou a falar”. Só não sei se o facto de todos sabermos é bom ou mau sinal.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 10 Setembro 2009

quarta-feira, setembro 09, 2009

Ciência Exacta

1Para mal dos nossos pecados, a economia está longe de ser uma ciência exacta. Antes da crise, a maioria vivia inundada em prestações muito mais altas do que aquelas que suportava no momento em que contratou o crédito, como resultado da subida das taxas de juro.

2Ainda antes dessa subida das taxas de juro, todos sofríamos na pele o aumento vertiginoso do preço dos combustíveis, com grande impacto no rendimento disponível das famílias. O aumento das prestações juntou-se ao aumento das despesas nas bombas de gasolina e o aumento dos combustíveis acabou por se reflectir na grande maioria dos bens de consumo.

3Como que embalados, apenas com a crise financeira internacional acordamos para uma dura realidade. A humanidade no global, e o mundo desenvolvido em particular, há muitos anos que viviam acima das suas possibilidades. Com a crise financeira, chegou o medo, chegaram as expectativas em baixa, mas antes de tudo, surgiu uma fase de difícil acesso ao crédito, que não sabemos quando vai acabar, quer para as famílias quer para as empresas.

4Mas paradoxalmente, a crise financeira internacional trouxe consigo uma baixa significativa no preço do petróleo, uma baixa significativa nos preços dos bens de consumo espelhada na redução da inflação, para além de uma baixa significativa nas taxas de juro. Tudo factores que fazem com que as famílias portuguesas gastem hoje muito menos com os seus encargos fixos do que aquilo que gastavam há poucos anos.

5Gastamos menos com o carro, com a casa ou com os bens essenciais, do que aquilo que gastávamos ainda antes do tempo em que os combustíveis ou a prestação da casa começaram a aumentar. No entanto, hoje como ontem, as pessoas reclamam não terem dinheiro no bolso. No entanto, hoje como ontem, em Portugal não existe capacidade de poupança.

6E agora, que começam a aparecer os primeiros sinais do fim da crise, já está a subir o preço de petróleo. Por outro lado, todos os analistas apontam para uma nova fase de subida de taxas de juro durante o ano de 2010, pelo que está perto do fim o ciclo de prestações baixas que actualmente vivemos. Assim, antes da crise tínhamos pouco dinheiro no bolso e depois da crise vamos continuar a não ter muito.

7 – Pelo menos na economia portuguesa, a única coisa que parece ser exacta é que temos vindo a estimular a economia com benefício principal para os grandes grupos económicos e para os mais ricos. É por isso que uma nova politica de investimentos públicos em grandes obras não serve, pelo menos se considerada de forma isolada, os interesses dos portugueses. Essa politica servirá apenas para “enganar” as estatísticas, porque o dinheiro nela aplicado só chega ao bolso dos portugueses de uma forma muito passageira.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 27 Agosto 2009

domingo, agosto 23, 2009

Défice Democrático

1Muitas vezes só nos apercebemos da realidade quando a vivemos mais de perto, na primeira pessoa. Não raras vezes ouvimos falar em “défice democrático”. Trata-se de um conceito abrangente e que pode resultar de muitas coisas, mas que em princípio significa que em determinado momento as regras básicas da democracia não estão a ser cumpridas.

2Obviamente, o principal responsável é sempre o poder instalado. Mas todos temos responsabilidades na defesa da democracia, quando sentimos que ela não está a ser respeitada. Quando sentimos que as pessoas têm receio em expressar a sua opinião devemos levantar a nossa voz, de acordo com as nossas possibilidades.

3Em alturas eleitorais como a que estamos a atravessar, os constrangimentos democráticos tornam-se mais evidentes. Há os actuais presidentes de junta, novamente candidatos a mais um mandato, que ao saberem de alguém da sua freguesia que se prepara para integrar uma lista opositora, não hesitam em pegar no telefone e fazer ameaças mais ou menos indiscretas, apenas porque alguém, de forma democrática e exercendo o seu direito ao espírito crítico, decide assumir uma posição oposta.

4Tornam-se públicas ofertas a membros dos órgãos sociais de associações culturais, sociais ou desportivas. Promete-se que em troca da presença em determinada lista a associação irá beneficiar de atenção necessária para ver concretizados alguns desejos, coisas básicas para o seu funcionamento, e que tendo em conta a importância que o movimento associativo tem em Amarante, deveriam estar asseguradas independentemente da posição política de alguns dos membros dos seus corpos sociais.

5Cobram-se favores, quando as pessoas que beneficiaram de um trabalho, de um estágio, de uma formação, de uma ocupação, o fizeram por direito próprio ao acesso aos serviços públicos proporcionados pela gestão autárquica de uma freguesia ou de um concelho. No fim, sente-se um medo democrático a pairar sobre as pessoas e sobre as instituições. Como resultado, muitos preferem não dar a cara, dizer que sim a todos, com medo de serem prejudicados por assumirem as suas ideias.

6Depois há ainda aqueles que assumem sem qualquer pudor as suas opções, mas da forma mais anti-democrática possível. Recentemente avistei um cartaz de promoção de uma festa popular organizada por um rancho folclórico do nosso concelho. No cartaz está uma fotografia do rancho com várias outras pessoas, entre as quais os candidatos do PS Armindo Abreu e Celso Freitas. Mais folclore e mais subserviência era impossível.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 13 Agosto 2009

Duplas Oportunidades

1Especialmente por causa da candidatura de Elisa Ferreira ao Porto, o PS mergulhou numa discussão interna quanto às duplas candidaturas. Elisa Ferreira é candidata a Presidente de Câmara do Porto quando já foi eleita deputada europeia em Junho. Promete renunciar ao mandato europeu apenas no caso de vencer as eleições autárquicas.

2Rui Rio deve estar satisfeito com a candidatura de Elisa Ferreira. Depois do sinal que os portuenses deram em 2001, ao derrotar de forma inesperada Fernando Gomes, como pode o PS pensar que a dupla candidatura de Elisa Ferreira seria bem vista na Cidade Invicta?

3 - Tal candidatura não é bem vista pelos portuenses nem pela própria estrutura concelhia do PS do Porto, ainda para mais fazendo Elisa Ferreira questão de apregoar a sua condição de independente para todos que a queiram ouvir. Obviamente, os socialistas do Porto esperavam más sondagens para começar a pôr em causa a candidatura, o que juntamente com a polémica interna no PS quanto às duplas candidaturas já destinou Rui Rio a uma vitória anunciada.

4De forma inesperada, José Sócrates tem conduzido o seu partido de forma trapalhona nos últimos meses. A derrota nas europeias provocou um abalo tão forte, que nada parece ser como antes para Sócrates. Mas verdade seja dita, Manuela Ferreira Leite, pese embora todas as dificuldades por demais conhecidas, tem contribuido muito para atrapalhar os socialistas.

5Ao estipular o principio de impedir duplas candidaturas no PSD, Manuela Ferreira Leite conseguiu marcar uma posição importante perante o eleitorado e obrigou o PS a copiar o PSD. Mas infelizmente para o PS, a cópia nunca sai conforme o original. E se muitos socialistas estão de acordo que o PS faça o mesmo que o PSD, como é o caso de Manuel Alegre, muitos outros estão completamente contra e ao contrário do que é habitual, José Sócrates não consegue calar essas vozes tresmalhadas.

6Sónia Sanfona, acabada de prestar um serviço ao Governo e ao PS no caso da Comissão de Inquérito ao caso BPN, candidata autárquica socialista em Alpiarça, já fez saber que a opção de impedir duplas candidaturas devia ter sido tomada bastante mais cedo. Depreende-se que caso Sónia Sanfona soubesse mais cedo das circunstâncias actuais, provavelmente não arriscaria ser candidata em Alpiarça, preferindo antes manter-se como deputada.

7São as tais duplas oportunidades que tem permitido aos partidos gerir sensibilidades internas, mas que também provocam uma crescente dificuldade na entrada de novos protagonistas na cena política. A limitação para as duplas candidaturas irá paulatinamente trazer novos rostos ao parlamento. E oxalá mais qualidade, mais proximidade ao pais real e menos proximidade aos inqualificáveis esquemas partidários que ainda vigoram.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 16 Julho 2009

segunda-feira, julho 13, 2009

Rasgos De Mudança

1As grandes decisões eleitorais estão a chegar. Após a estrondosa derrota nas europeias, José Sócrates, confirmando a sua tendência para dar mais importância à imagem do que ao conteúdo, procura transmitir uma nova forma de estar, mais tranquila e mais humilde.

2Sabe-se ainda que o PS tenta aprender novas estratégias de comunicação com alguns dos responsáveis pela campanha de Obama nos Estados Unidos. Mas sobre o programa eleitoral socialista sabe-se muito pouco, pelo que podemos quase ter a certeza que José Sócrates irá apresentar mais do mesmo aos portugueses.

3De forma inesperada para alguns analistas, o PSD e Manuela Ferreira Leite tem conseguido marcar a diferença relativamente ao PS. A diferença marca-se numa atitude diferente, numa forma de estar oposta, menos plástica e mais natural, afirmando categoricamente que o PSD pretende governar com base na exigência e não com base em estatísticas ou em golpes publicitários.

4Para o PSD o TGV só avança quando as contas públicas estiverem definitivamente em ordem. A terceira travessia do Tejo, intimamente relacionada com a construção do TGV, também irá esperar por melhores dias. Manuela Ferreira Leite compromete-se ainda a eliminar o pagamento especial por conta e a parar a construção da terceira auto-estrada Lisboa-Porto, cuja utilidade não vai além da obsessão de Sócrates por lançar obras públicas sem o mínimo de bom senso quanto á sua urgência.

5Mas o PSD, mesmo assumindo uma clara ideia de ruptura face ao que tem vindo a fazer o PS, não pretende rasgar tudo o que se tem feito. O aeroporto de Alcochete é para manter, uma vez que se pode construir por fases. A reforma da Segurança Social também irá prosseguir de acordo com os moldes actuais, assim como a construção de novas barragens ou a plano de recuperação do parque escolar.

6Esperam-se ainda os restantes pontos do programa eleitoral do PSD, com especial expectativa para a área económica quanto aos aspectos relacionados com as pequenas e médias empresas, enquanto que na área da educação se aguardam medidas objectivas como alternativa ao que o PS tem implementado.

7 – O PSD promete ainda uma renovação das listas a deputados, com o objectivo de incluir pessoas menos ligadas ao mundo da política e mais ligadas ao mundo real. Esperam-se pessoas com profissão, talvez não tão fluentes no discurso como um político profissional, mas capazes de dar ao partido uma dimensão mais humana e mais próxima da realidade. Mais que a conclusão do programa eleitoral, o maior rasgo de mudança será concluir com sucesso a renovação das listas a deputados.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 02 Julho 2009

segunda-feira, junho 29, 2009

Custo De Oportunidade

1O custo de oportunidade é um termo da economia usado para calcular o custo que temos quando, entre várias hipóteses, escolhemos uma em detrimento da outra. Com aquela hipótese que não escolhemos temos um custo, algo que deixamos de ganhar. Numa primeira análise esse custo traduz-se em dinheiro, mas pode também traduzir-se em termos sociais, psicológicos ou culturais, entre muitas outras coisas.

2Decidimos não fazer o TGV. Decidimos não fazer mais auto-estradas. Decidimos não comprar o carro com que sempre sonhamos. Decidimos não deixar de estudar. Ou pelo contrário, decidimos fazer o TGV. Decidimos fazer mais auto-estradas. Decidimos comprar o carro com que sempre sonhamos. Decidimos continuar a estudar. Quanto nos pode custar não tomar uma destas opções?

3 - O Real Madrid decidiu gastar 94 milhões de euros e comprar Cristiano Ronaldo, um dos melhores jogadores de futebol do mundo. Será que o preço foi demasiado alto? Qualquer gestor responderá a essa pergunta de uma única forma: depende! Depende do que o clube fôr capaz de fazer do jogador daqui em diante. Depende do custo que teria o Real Madrid ao não comprar Cristiano Ronaldo, o tal custo de oportunidade.

4O Real Madrid quer fazer render o espectáculo tendo os melhores artistas. Quer conseguir subir receitas de bilheteira, de televisão, de publicidade e de merchadising. Quer afirmar-se como o melhor clube do mundo, aumentar o orgulho dos seus adeptos e combater a afirmação do Barcelona. Para isso decidiu contratar os melhores jogadores, porque sem eles o custo de oportunidade seria muito alto.

5Estando o futebol espanhol tecnicamente falido depois de viver muitos anos acima das suas possibilidades, como é possível que ainda haja quem pode gastar tanto dinheiro? Há sempre quem tenha essa possibilidade, tendo como tem o Real Madrid um património imobiliário de grande valor, próprio dos antigos clubes do regime, para além de um presidente milionário até dizer basta, dono de um grupo económico de dimensão galáctica.

6De facto, a dimensão da economia espanhola está quase fora da nossa compreensão. Em Portugal, quando encontramos uma empresa com uma facturação de 15 ou 20 milhões de euros já achamos muito bom, enquanto que em Espanha esse valor é visto como insignificante. No inicio da época passada o Futebol Clube do Porto contratou Cristian Rodriguez por 7 milhões de euros, enquanto que agora Cristiano Ronaldo custou 94 milhões de euros ao Real Madrid. Destas duas transferências, qual terá sido a mais cara?

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 18 Junho 2009

segunda-feira, junho 15, 2009

O Número Dois

1A carta aos amarantinos, enviada recentemente pelo candidato do PSD a Presidente da Câmara de Amarante, José Luis Gaspar, focou vários pontos importantes sobre o momento político do nosso concelho. De entre esses pontos, o mais importante será a chamada de atenção para o facto de a liderança do PS e de Armindo Abreu se encontrar em fim de ciclo.

2Esse fim de ciclo advém, por um lado, da contagem de anos que leva o poder do Partido Socialista em Amarante, do qual Armindo Abreu é o rosto principal. Por outro lado, advém da própria lei eleitoral, uma vez que mesmo em caso de vitória nas próximas eleições, não será Armindo Abreu o candidato socialista em 2013, por causa da limitação de mandatos.

3Desta forma, a chamada de atenção de José Luis Gaspar para o final de uma época em Amarante, assume grande relevância. Nas eleições de 2005 a grande aposta estratégica de Armindo Abreu era a agricultura. Como o tempo se tem encarregue de provar, tal aposta não passou apenas de um chavão lançado para o calor da luta eleitoral, uma vez que não teve aplicação prática na gestão camarária ao longo do último mandato.

4Por oposição a Armindo Abreu, que não cumpriu a sua suposta orientação estratégica, José Luis Gaspar apresenta ideias fortes para Amarante, com as quais se compromete. E chama a atenção para o cansaço do PS, que deixou que Amarante perdesse muitas das marcas fundamentais da sua afirmação, ao mesmo tempo que não tem sido capaz de apresentar linhas estratégicas para o futuro do concelho.

5Num momento em que se aproxima o fim do ciclo de Armindo Abreu enquanto Presidente da Câmara, para os eleitores vai ser importante avaliar a alternativa que tem rosto em José Luis Gaspar. Mas também vai ser importante avaliar até que ponto não está o PS esgotado nas suas alternativas, seja em termos de novos rostos para a política amarantina, seja em termos de apresentação de um programa eleitoral virado para o futuro.

6Assume por isso particular importância o surgimento de Abel Coelho como número dois na lista do PS. Analisando o político, estamos na presença de um rosto do aparelho concelhio do PS, que pode ter a virtude de, por instantes, manter o partido unido em tempo de eleições, mas que não representa nem uma estratégia de continuidade, nem uma estratégia de renovação, uma vez que não parece capaz de se assumir como um rosto que o Partido Socialista possa apresentar para suceder a Armindo Abreu.

7 Nada poderia ser mais elucidativo do que a escolha de Abel Coelho, para ilustrar que a forte liderança de Armindo Abreu funcionou como um eucalipto dentro do PS. Neste ponto, José Luis Gaspar leva vantagem. É novo mas experiente, representa o início de uma nova fase e não o fim de um ciclo, para além de que protagoniza uma candidatura que mais facilmente pode ser abrangente para lá do aparelho partidário que a suporta.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 4 Junho 2009

terça-feira, junho 02, 2009

Reclamo, Logo Existo!

1Enquanto clientes, as pessoas reclamam cada vez em maior número acerca da venda de produtos ou prestação de serviços por parte das empresas. A informação é hoje muito mais acessível para todos do que era há alguns anos atrás e o público em geral tem vindo a aproveitar esse facto para conseguir defender de forma mais incisiva os seus direitos.

2 Segundo os últimos dados conhecidos, o aumento das reclamações sente-se particularmente nos clientes das instituições bancárias e das seguradoras. Por um lado, o sector financeiro tem vindo a ser alvo de grande divulgação pública, fruto da crise económica e de vários problemas de gestão, de que todos temos exemplos em Portugal, mas que também têm sido comuns a nível mundial. Por outro lado, hoje a reclamação tornou-se mais fácil.

3 Para além do acesso ao livro de reclamações, as pessoas podem reclamar directamente para as entidades supervisoras, bastando para isso um simples acesso aos sites na internet do Banco de Portugal ou do Instituto de Seguros de Portugal, sítios onde se pode reclamar no momento, sem qualquer tipo do constrangimento.

4 O tratamento de reclamações é feito em tempo útil, sendo sempre possível obter resposta. Com a vantagem de que a resposta é obtida por escrito, não havendo por isso margem para os naturais equívocos que sempre existem quando as reclamações são feitas verbalmente.

5 Se o acto de reclamar se tornar recorrente, poderemos chegar em breve a uma fase em que cada um de nós irá reclamar por tudo e por nada. Se tal vier a acontecer, é verdade que corremos o risco de banalizar o acto da reclamação, o que poderá ter grande impacto na qualidade do serviço que é prestado ao cliente sempre que pretende reclamar.

6Cabe por isso às entidades supervisoras zelar pela qualidade das respostas que são dadas a cada uma das reclamações, para que o acto de reclamar não passe a ser tratado pelas empresas visadas como mais um simples problema a resolver no seu dia-a-dia. E tal qual tem sido feito até aqui, quando o cliente tem razão na reclamação que faz, devem dai retirar-se as devidas consequências, ressarcindo as pessoas de eventuais prejuízos.

7 Por outro lado, considerando que muitas das reclamações podiam ser evitadas se as entidades supervisoras dos bancos e seguradoras cumprissem na totalidade o seu papel, ao mesmo tempo que reclamamos do nosso banco ou da nossa seguradora, devíamos reclamar ao Banco de Portugal e ao Instituto de Seguros de Portugal que cumpram de forma mais zelosa o seu papel de fiscalização, de forma a assegurar que todos estão protegidos de práticas menos correctas, mesmo aqueles que por ignorância ou distracção não conhecem na totalidade os seus direitos.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 21 Maio 2009

Ponta Esquerda

1A escolha de Vital Moreira para cabeça de lista nas eleições europeias é um espelho do momento que vive o Partido Socialista, preso entre as suas origens ideológicas e uma base eleitoral capaz de lhe continuar a proporcionar vitórias eleitorais.

2Sendo o PS um partido que tanto gosta de apregoar o seu posicionamento de esquerda, os últimos anos de governação, que fazem com que muita gente acuse José Sócrates de governar à direita, estão agora a levar a que os responsáveis socialistas se preocupem cada vez mais em anunciar medidas sociais, avulsas e apressadas, pretensamente de esquerda.

3 - Essa preocupação de evitar uma maior colagem do Governo PS a politicas de direita é tão evidente, que agora até terá ajudado a escolher Vital Moreira como cabeça de lista. Vital Moreira, que já militou no Partido Comunista, serve aparentemente para transmitir ao eleitorado a idéia de que o PS continua a ser um partido de esquerda.

4Pessoalmente, entendo apenas que o PS se vem transformando ao longo dos últimos anos num simples partido do centro político, dado que quer António Guterres em primeiro lugar, quer José Sócrates por força das circunstâncias do momento em que foi eleito, se limitaram a conduzir o partido no sentido de obter vitórias eleitorais, sem se preocuparem muito com a sua matriz ideológica.

5Por isso, quando hoje vimos Vital Moreira dizer uma coisa e José Sócrates dizer precisamente o contrário, torna-se evidente que a razão da escolha de Vital Moreira para cabeça de lista está antes de tudo o resto relacionada com o seu passado ligado a sectores da esquerda política, os quais tem vindo a pressionar fortemente a actual liderança do PS.

6E se é indesmentivel que Vital Moreira é uma pessoa com capacidade já demonstrada, torna-se penoso assistir ao seu comportamento em acções de campanha ou debates televisivos, onde demonstra uma falta de preparação gritante. Ora pegando e mostrando para as câmaras de televisão o livro que ele próprio escreveu e cujo título é o mesmo do slogan de campanha do PS, ora fazendo de conta que não sabe que entre 1995 e 2009 passaram 14 anos e em 11 deles foi o PS que esteve no Governo.

7Assim, por muitas responsabilidades que haja a dividir, é o PS o principal responsável pela situação em que se encontra Portugal. E fica intelectualmente mal a Vital Moreira esquecer este facto, procurando fazer crer que os problemas do país são todos culpa do PSD e da crise internacional. Assim como poderá correr mal ao PS este ressuscitar de figuras e discursos de esquerda, quando a base das suas vitórias tem estado no centro politico. A maioria absoluta está cada vez mais longe.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 30 Abril 2009

domingo, abril 26, 2009

Vagas De Fundo

1Armindo Abreu não tem sido feliz nos dias que se seguiram ao anúncio da sua recandidatura. Lembre-se o encerramento da Linha do Tâmega ou a participação na Praça da Alegria, para perceber que o actual Presidente da Câmara não anda na sua melhor forma.

2O encerramento da Linha do Tâmega assume contornos caricatos. O que diria o PS se fosse oposição e tivesse acontecido a mesma situação? Grandes celebrações num fim-de-semana e um encerramento logo no início da semana seguinte? Desencontros telefónicos entre o Presidente da Câmara e uma Secretária de Estado?

3Fica no ar a promessa de que a linha não fechou definitivamente. Era o mínimo a esperar, num processo mediado entre um Governo e uma Câmara Municipal afectos ao mesmo partido. Em face da actual situação da Linha do Tâmega, espera-se para ver se os investimentos anunciados e a promessa de reabertura não vão ficar apenas pelo papel.

4Mas ainda pior, foi a resposta de Armindo Abreu, na Praça da Alegria, quando questionado sobre a política de juventude em Amarante. A resposta saiu surpreendentemente vazia para quem anunciou há poucos dias uma nova candidatura. Uma coisa é as opiniões que teremos sobre a inexistência de uma política para os jovens no nosso Concelho. Outra coisa, muito pior, é ouvir um Presidente da Câmara e futuro candidato falar sobre o assunto, e sentir que o tema não faz parte das suas prioridades.

5A política de juventude tem que ser transversal a todas as politicas concelhias. Prioritariamente, em Amarante podemos agregar a política de juventude com as políticas de apoio ao emprego, ao empreendedorismo, ao turismo, à cultura ou aos recursos naturais. E temos que abandonar a velha ideia de que as políticas de juventude são apenas para alguns.

6Não! As políticas de juventude são para os jovens de Amarante e de fora de Amarante. São para os jovens de Amarante que nunca saíram. São para os jovens de Amarante que saem e pretendem voltar. São para os jovens de Amarante que saem e não querem voltar. São para os jovens que não são de Amarante mas que aqui podem encontrar alguma coisa que os atraia. As políticas de juventude são para todos. Para os mais novos e para os mais velhos.

7 E as vagas de fundo, cheias de vontade pessoal e partidária, como a que levou Armindo Abreu a reconsiderar a decisão de não se voltar a candidatar, devem possuir mais do que simples vontades pessoais ou interesses partidários. Devem antes de tudo, ter vontade permanente de mudança. E ambição de dar às pessoas algo mais do que aquilo que todos podem dar.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 16 Abril 2009

sexta-feira, abril 17, 2009

Amadores E Profissionais

1 O desporto amador e o desporto escolar são muito mais importantes para a sociedade do que o desporto profissional em si próprio. É verdade que o desporto profissional nos faz sentir orgulho na nossa cidade, no nosso pais ou nos nossos atletas. Mas no entanto, está destinado para as elites.

2 No futuro vai ser cada vez mais difícil ascender a profissional do desporto sem antes passar pelo nível escolar, em primeira instância, ou então pelo nível amador. Poucos alcançam o estrelato, mas o trabalho social que fica subjacente à participação de milhares de pessoas na prática desportiva, vale muito mais para a sociedade do que qualquer medalha de ouro.

3 É importante que todos os organismos públicos, com especial relevo para os órgãos políticos, assumam uma decisiva aposta no desporto escolar, que deve constar como essencial em qualquer política educativa que se preze, seja ela decidida pelo Governo ou por qualquer Câmara Municipal.

4 O desporto amador também deve ser apoiado, embora de forma diferente em face da sua natureza. Nele, a sociedade civil pode e deve ter um papel bem mais decisivo que os organismos públicos, já que depende essencialmente da vontade de cada uma das pessoas que o pratica.

5 Se olharmos para exemplos como o de Amarante, por exemplo ao nível das competições organizadas pela FADA, entendemos a importância que o papel de uma Câmara Municipal pode ter, mesmo que de forma indirecta, na promoção desportiva. Certamente, quando no nosso concelho se decidiu que em cada freguesia devia existir um campo de futebol, algumas vozes se levantaram contra essa opção. Hoje, muitos anos mais tarde, percebemos como essa decisão foi importante.

6Não será fácil calcular quantas pessoas se movem no universo das associações que fazem questão que a sua freguesia tenha uma equipa de futebol. Porque atrás do futebol, muitas das associações acabam a desenvolver outras actividades de muita importância para a vida cultural, social e recreativa do nosso concelho.

7 Embora amadoras, as muitas associações desportivas, culturais, recreativas e sociais existentes em Amarante, actuam como verdadeiros profissionais naquilo que fazem. O valor que acrescentam com as suas iniciativas é incalculável e merece um olhar atento de quem de direito.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 26 Março 2009

sexta-feira, março 20, 2009

Causas Fracturantes

1Para José Sócrates, as medidas anunciadas pelo Governo no combate à crise económica já são suficientes. Segundo o Primeiro-Ministro não é preciso tomar mais decisões relacionadas com a crise porque o que está feito já serve, é apenas necessário pôr as medidas em prática.

2 À primeira vista, com tanto alarido ao longo dos últimos tempos, todos pensaríamos que as medidas anunciadas já estavam a ser aplicadas. Mas afinal, o próprio José Sócrates reconhece que não. E perante propostas de Manuela Ferreira Leite que libertariam de forma efectiva a tesouraria das empresas, protegendo o emprego e a sobrevivência de pequenas e médias empresas, José Sócrates muda de assunto.

3Portanto está tudo bem. Para o PS já está tudo tão bem que até há tempo para o partido se virar para causas fracturantes como o casamento homossexual e a eutanásia, temas que são os únicos que se prevê virem animar o próximo congresso socialista.

4Perante um plano de combate à crise que aposta essencialmente no investimento público em grandes obras e em linhas de financiamento de pequenos montantes para as pequenas e médias empresas, que não libertam a sua tesouraria antes a aprisionam em mais prestações, parece claro que o plano anti-crise do Governo não vai ter efeitos imediatos.

5Se é um facto que José Sócrates tem razão quando diz que é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada, parece claro que as medidas anunciadas terão efeitos diferidos no tempo, o que levará Portugal a recuperar da crise apenas depois dessa recuperação acontecer no resto da Europa. Assim, manteremos as fraquezas estruturais da nossa economia e o Governo do PS ficará marcado por mais uma oportunidade perdida na área económica.

6Perante isto, o PS foge de discutir economia. Prefere discutir o casamento homossexual, a eutanásia, ou outros temas mais ou menos fracturantes que não representam nada de significativo para o país. Não pondo em causa a relativa importância destes assuntos, a sua aparição parece mais uma questão eleitoralista relacionada com uma estratégia de captação de votos ao Bloco de Esquerda, do que relacionada com uma profunda convicção do PS.

7É um facto que a sociedade portuguesa evoluiu bastante e parece capaz de discutir assuntos para os quais estava completamente fechada há anos atrás. Mas politicamente, para um partido com responsabilidades de Governo, não parece uma agenda particularmente importante discutir causas fracturantes quando o país continua a revelar tantos problemas na economia. E a economia é o que preocupa mais as pessoas.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 26 Fevereiro 2009

Realidade Ou Ficção?

1A cada dia sucedem-se noticias de despedimentos, de queda de lucros nas empresas e de perspectivas desanimadoras para 2009. Os resultados das empresas do sector financeiro também não são animadores, pelo menos à primeira vista.

2Os resultados dos bancos que operam em Portugal exemplificam a queda acentuada nos lucros, na sequência da crise financeira por demais conhecida. Mas se olharmos com mais detalhe os números que tem sido apresentados, verifica-se que a principal razão para a queda dos lucros está nas operações financeiras.

3 - Isto é, os bancos viram os lucros diminuir em 2008 em resultado de operações no mercado de acções, de obrigações ou derivados e não por causa de problemas com os empréstimos dos seus clientes. A parte operacional dos bancos, aquela que todos conhecemos, não sofreu queda de lucros. Antes pelo contrário.

4Os bancos com pouca exposição ao mercado da banca de investimento conseguiram subir os lucros, mesmo apesar da crise. Os outros, aqueles que para além da banca tradicional possuem forte exposição ao mercado financeiro propriamente dito, pagaram cara a factura. No fundo, sofrem com o próprio veneno.

5 No entanto, por contraditório que possa parecer, a cura também virá do próprio veneno. Tome-se como exemplo o seguinte: a nível mundial, o Banco Santander apresentou aproximadamente 9.000 milhões de euros de lucro no ano de 2008. Como prémio aos seus accionistas pelo lucro alcançado, vai distribuir um dividendo de 0.65 euros por accção.

6Hoje, uma acção do Banco Santander vale aproximadamente 6 euros. Quem comprar 1000 acções gasta 6.000 euros. Com a distribuição de dividendos, irá receber 650 euros, independentemente da possível valorização das acções em bolsa. Trata-se de uma remuneração anual superior a 10% sobre o capital investido.

7É por causa desta atractividade do investimento que os mercados financeiros captam dinheiro. É claro que os mercados podem cair ainda mais, mas nesta fase há pessoas a aproveitar o pânico instalado para entrar em bolsa quando as cotações estão baixas, na esperança de grandes ganhos entre final de 2009 e inicio de 2010.

8 - Os mesmos bancos que agoram acumulam prejuizos poderão fechar 2009 com resultados acima do esperado. E ao contrário de 2008, os ganhos no mercado financeiro poderão compensar a diminuição de lucros na parte operacional. A crise veio pelo lado do mercado financeiro mas a solução também virá pelo mesmo sitio.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 12 Fevereiro 2009

Estratégia Para Quê?

1Ter as idéias no lugar é sempre importante. Quando existe um projecto para a criação de uma empresa, temos que pensar no produto a oferecer, analisar o mercado, analisar os recursos próprios da empresa como os recursos humanos e financeiros, ter um plano de marketing e comunicação, bem como planos de produção, investimento e financiamento.

2É ainda preciso um estudo económico que projecte a empresa a alguns anos de distância, preferencialmente entre 3 e 5 anos. Na posse de todos estes elementos poderemos afirmar que temos uma estratégia para o nosso negócio. Mas o que significa estratégia?

3 - Ter uma estratégia é saber exactamente o que queremos fazer, saber a razão porque o queremos fazer, saber que meios temos à nossa disposição, conhecer os nossos pontos fortes e fracos e conseguir transmitir aos outros de forma clara o que queremos para o futuro.

4Tal como na vida empresarial, também na política é fundamental ter estratégia. Pensando em Amarante, numa altura em que o Governo, para combater a crise económica, anuncia medidas de reforço do investimento na educação, não seria boa uma estratégia virada para ter escolas de excelência em todo o concelho?

5Ou quando o Governo fala em mais investimento em energias sustentáveis, será que não percebemos em Amarante que a aposta no ambiente faz parte do futuro? Numa terra que tão mal tem cuidado do seu turismo, não poderá ser o turismo ambiental uma área a explorar?

6Os investimentos anunciados em educação e energias sustentáveis representam oportunidades. Mas só é possível aproveitar essas oportunidades se na nossa estratégia as idéias estiverem claras. Será que querer construir um centro escolar num velho edificio fabril, como a Câmara de Amarante quer fazer em Mancelos, é exemplo de uma aposta de qualidade na educação? Será que sem inciativas de carácter cultural mais mobilizadoras, sem uma aposta no turismo ambiental e sem publicidade capaz, é possível a Amarante valorizar o seu turismo? Provavelmente, a resposta para as perguntas anteriores é não.

7Quando em 2005 ouvimos o PS falar na agricultura como forma de desenvolvimento de Amarante, não percebemos. Hoje, em 2009, continuamos a não perceber. Até podia ser uma estratégia, mas o tempo tem vindo a provar que estava errada, porque a agricultura é importante, mas por muito que nos custe, isolada nunca poderá ser um factor determinante no nosso desenvolvimento. São precisas novas estratégias. Esta é altura para as discutir. É altura de deixar de andar á deriva, de maneira que se perceba o que queremos que seja Amarante daqui a alguns anos.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 29 Janeiro 2009

quarta-feira, janeiro 28, 2009

A Data Da Maioria

1 José Sócrates já está em campanha eleitoral e marca a agenda política. Já todos ficamos a saber que quer uma maioria absoluta nas próximas eleições. E por estranho que pareça, ao mesmo tempo que reconhece a recessão em que Portugal se encontra, José Sócrates consegue pedir nova maioria absoluta sem que esse pedido aparente ser contraditório com a realidade do país.

2Por outro lado, o Primeiro-Ministro lançou verdadeiramente a questão da data das próximas eleições, assunto ao qual o Presidente da República e a oposição pretendem não dar grande importância face “aos problemas mais importantes que preocupam os portugueses”. Acontece que não é de acreditar que para além de José Socrates todos os outros menosprezem a questão.

3 - A data das próximas eleições é muito importante precisamente por todos os problemas que afligem os portugueses. E realizar as eleições legislativas em separado, ou juntamente com as eleições europeias, ou então com as eleições autárquicas, não é uma questão menor para o país nem para as escolhas que os portugueses vão fazer ao longo de 2009.

4Sendo compreensível que o Presidente da República transmita a mensagem que neste momento não está preocupado com o problema, já não se compreende que os partidos da oposição façam de conta que só mais tarde se vão debruçar sobre o assunto. Não se compreende, porque ninguém acredita que assim seja. A oposição está obviamente preocupada com o tema.

5Mas para além de preocupada, a oposição também está enfraquecida. Por razões que quase dariam para escrever um livro, está enfraquecida no conteúdo das suas propostas e da sua estratégia, mas também na forma de comunicação e na união das suas tropas. De tal forma que perante mais um problema levantado por José Socrates, parece não ter um juizo formado sobre o assunto ou estar sem coragem de assumir a sua opinião.

6Assim, José Sócrates já vai à frente. Já disse que não quer que as eleições legislativas se disputem no mesmo dia das eleições autárquicas, de forma a evitar que se “prejudiquem as democracias locais”. Face a este argumento, o que pensa a oposição? Bem, não sabemos. Diz que em face da crise não é o tempo oportuno para falar do assunto.

7Por causa da crise a política fica suspensa? Então seria melhor deixar de fazer qualquer tipo de oposição e esperar tranquilamente pelo início da campanha eleitoral. Ironicamente a crise parece jogar a favor de José Sócrates, que da sua perspectiva não podia arranjar melhor aliado que uma crise assim e uma oposição assim, para pedir nova maioria absoluta.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 15 Janeiro 2009

Economizar Expectativas

1Expectativa é esperança. É esperar que algo aconteça com base em probabilidades ou promessas. Falar de economia é falar de expectativas. A economia real sofre da baixa esperança e falta de confiança dos consumidores. A economia financeira sofre com medo do futuro por parte dos investidores, que retiram dinheiro dos mercados e aumentam a sensação de insegurança de todos.

2A economia real e a economia financeira não vivem uma sem a outra. Há quem defenda que na base de todos os problemas está a facilidade no acesso ao crédito nos últimos anos. Os consumidores respiravam confiança porque o poder de compra parecia não ter fim. Os mercados financeiros, baseados na expectativa de que todos iriam ter poder de compra quase ilimitado para sempre, fundaram os seus princípios em lucros crescentes de ano para ano.

3 - Mas o dinheiro também desaparece. Em algum momento teria que haver uma correcção na economia que devolvesse pessoas e empresas à terra. As pessoas percebem hoje que poupar também é preciso. As empresas entendem finalmente que os lucros não vão crescer para sempre.

4Os bancos descobrem que podem falir de um dia para o outro, apesar dos lucros incríveis da sua actividade, e cortam bruscamente no crédito. A indústria automóvel acumula prejuizos, com empresas em risco de falência. A construção civil sofre com a falta de crédito, enquanto procura aumentar a qualidade do que faz. O sistema financeiro acumula perdas e descoberta de fraudes. As pessoas descobrem que a capacidade de poupança é reduzida.

5Os Governos desdobram-se em apoios para as empresas e anúncios de retoma do investimento público. O petróleo já esteve 3 vezes mais caro do que está hoje. A taxa de juro está quase a metade do que há cerca de 2 meses. As matérias primas estão hoje muitos mais baratas do que há alguns meses atrás.

6Todos estes factores, cuja evolução foi apontada durante grande parte do ano como a causa da crise, já baixaram consideravelmente de preço. O petróleo baixou, a taxa de juro baixou, as matérias primas também e os Governos estão novamente dispostos a investir. Mas a crise continua.

7Acima de tudo, uma crise de confiança. Ninguém confia no futuro e os princípios da eonomia de mercado estão fragilizados. Apesar disso, o único caminho viável é a economia de mercado. Só que agora, não há quem tenha expectativas sobre o que ela vai ser no futuro.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 31 Dezembro 2008