domingo, maio 25, 2008

A Tua Mão

A estrada não terminava mais. Parecia caminhar numa direcção estranha, ali tão perto. Mas a viagem não terminava nunca.

A única estrada, que se repetia vezes sem conta. O único caminho, aquele que os pés voltavam teimosamente a percorrer, que encontravam de novo após cada colina ultrapassada.

Não havia porto de abrigo. No meio da viagem, um pequeno espaço bem verde. Não servia. No meio da viagem, um local bem fresco com muita água. Não servia. No meio da viagem, uma boleia de mão dada, quente e passageira. Não servia.

Nada a fazia parar. Não aparecia nada que parasse a viagem para aquele sítio ali tão perto.

Por onde agarrar a paragem naquela luta contra a estrada, contra aquele impulso de não parar nunca? Seria possível sair daquele caminho e procurar no meio da paisagem alguma pedra para se sentar?

As pedras rolavam sem parar pelas margens da estrada.

Até que uma parou. Apareceu e trouxe o espaço com ela, estendeu a mão, quente e disposta a ficar. Aparentemente disposta a ficar.

Mas com tantas pedras a rolar pela margem, porque haveria uma delas ficar parada, disposta a prosseguir viagem pela estrada que não se via o final?

Após cada curva, ela acreditava cada vez mais que sim. Porque acreditar está na razão de quem procura o destino da estrada interminável.

E que outra saida senão acreditar? Pelo menos desaparecia o medo, desaparecia a ansiedade, voltava por momentos a calma de quem caminha sem saber para onde, mas que se sente bem com o caminho tal qual ele é, sinuoso e interminável.

Talvez a estrada se desvie, ficando por perto de casa. E tudo acabe por ficar bem, tal como está agora.

 

Competência E Modernidade

1Bob Geldof é um activista no verdadeiro significado da palavra. Aproveitou a oportunidade de intervir numa conferência sobre desenvolvimento sustentado organizada pelo BES, para apontar o dedo, de forma aberta, ao que se passa em Angola.

2 – Quem não conhece um qualquer empresário português, que depois de visitar Angola para concretizar um negócio, não tenha dito que o que é preciso para o sucesso naquele país é conhecer as pessoas certas e distribuir algum do lucro do negócio entre elas?

3 – Por imperativos de carácter económico, obviamente que o BES veio dizer que não se revê nas declarações de Bob Geldof. Todos sabemos porque razão o BES tinha que agir desta forma. Todos sabemos também que o que disse Bob Geldof é verdade. O Mundo corre assim, cheio de hipocrisia e submissão dos valores ao poder económico.

4 – José Luis Gaspar é o candidato do PSD para Amarante. O candidato da Competência e Modernidade está de volta. Muitas vezes perdido em trabalhos que nada dizem aos amarantinos, o PSD teve a serenidade para encontrar um bom candidato.

5 – José Luis Gaspar precisa agora de encontrar o seu caminho e a sua estratégia, fazendo a ponte entre os caminhos que o PSD tem disponíveis, mais pela direita, ou mais pela esquerda, mais próximo do eleitorado que votou Ferreira Torres em 2005, ou mais próximo do eleitorado que votou PS em 2005.

6 - Ou, numa alternativa teoricamente ideal, encontrar o seu caminho, num estilo próprio, muito pouco preocupado com o passado. Porque José Luis Gaspar terá antes de mais que demonstrar aos eleitores que é capaz de ser Presidente de Câmara.

7 – O confronto com Armindo Abreu é sempre difícil. E a próxima campanha eleitoral vai estar carregada de temas pesados, como a Barragem de Fridão, entre outros. Se o confronto em 2009 se resumir a PSD e PS, vai-se discutir mais Amarante, mais competência, mais modernidade, mais inovação, mais alternativa.

8 – José Luis Gaspar terá de estar preparado para isso. E antes dele, também o PSD terá de estar preparado para isso.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 15 Maio 2008

domingo, maio 11, 2008

Psicologia Da Multidão

1Tal como uma equipa de futebol é mais do que a simples soma dos seus jogadores, uma multidão também actua para lá da simples soma dos pensamentos das pessoas que dela fazem parte. Por isso, as equipas desportivas, as empresas, as multidões ou as organizações políticas valem sempre mais do que o conjunto das pessoas que as constituem.

2 – O PSD nacional comporta-se como uma multidão incontrolável. De um lado, a candidatura de Manuela Ferreira Leite, que pode ser a candidata do sistema, a candidata que não representa por si só uma renovação, mas que assume uma candidatura que parece capaz de devolver ao partido a dinâmica que sempre demonstrou, fazendo a ponte entre as bases e os militantes mais ilustres do PSD.

3 – Do outro lado do mesmo partido, uma confusão difícil de entender. Pedro Passos Coelho lança uma candidatura para marcar posição para o futuro. Não está mal. Pedro Santana Lopes lança uma candidatura para tentar contrariar a história. Está muito mal. O presidente da distrital do PSD de Lisboa, juntamente com o presidente da distrital do PSD do Porto, falam numa candidatura de Alberto João Jardim. Não está bem nem mal, está péssimo.

4 – Ainda bem que já não são as estruturas distritais do partido que possuem o poder para eleger o novo líder, caso contrário o PSD estaria a caminhar para o abismo. Ainda bem que os militantes podem usar da palavra através do seu voto, percebendo o que se tem passado ao longo dos últimos 3 anos, tendo uma nova oportunidade de devolver o PSD ás suas verdadeiras origens.

5 – Ninguém saberá qual o caminho que o partido seguirá de 31 de Maio em diante. No entanto, no meio de toda a confusão que tem passado para a opinião pública, de alguma forma exagerada pela cobertura da comunicação social a pessoas que fazem da política a arte da agitação e não a arte da argumentação, uma coisa positiva pode acontecer: o PSD vai ficar clarificado.

6 - E essa clarificação é boa para o partido e para Portugal, que bem precisa de uma oposição credível e capaz de se afirmar como alternativa.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 30 Abril 2008