segunda-feira, outubro 19, 2009

Somos Todos Simpáticos

1Os portugueses são todos muito simpáticos e José Sócrates não se cansa de o dizer na campanha eleitoral, repetindo a expressão “obrigado, vocês são muito simpáticos” até à exaustão, como se ela fosse uma fórmula de sucesso nos contactos de rua. De facto, somos simpáticos. E ao longo desta campanha eleitoral para as legislativas, temos vindo a estar todos simpaticamente entretidos com assuntos muito pouco relacionados com o nosso futuro.

2O último caso a entrar na campanha foi o das alegadas escutas ao Palácio de Belém. Infelizmente, já não sabemos no que acreditar. Não sabemos se acreditar que alguma razão haveria de ter o assessor do Presidente da República, Fernando Lima, para fazer passar para o exterior a mensagem de que os serviços da presidência estavam a ser escutados. Não sabemos se acreditar nos que dizem que tudo não passou de uma enorme manobra de diversão sem qualquer fundamento.

3Seja de uma forma ou de outra, acredite-se no que se acreditar, a situação é igualmente grave. O simples facto de se colocar a hipótese de escutas, para que um órgão de soberania como o Governo saiba o que anda a fazer outro órgão de soberania como o Presidente da República, é por si só algo que os portugueses não podem aceitar de forma simpática.

4De qualquer forma, a polémica estalou em plena campanha eleitoral e Cavaco Silva acabou por afastar Fernando Lima de assessor para os contactos com a imprensa. No entanto, parece que Fernando Lima vai continuar ligado aos dos serviços da presidência, tendo apenas sido afastado do contacto com a comunicação social.

5A confirmar-se que o afastamento de Fernando Lima se revela apenas uma simples troca de funções, saindo do contacto com a comunicação social mas mantendo a colaboração com o Presidente da República em funções diferentes, não pode haver maior sinal de que Cavaco Silva está de facto convencido que tem sido escutado.

6Caso contrário, teria afastado Fernando Lima para bem longe do seu gabinete. Como bom português, Cavaco Silva lidou com a situação de forma simpática. Quanto aos partidos políticos, o PSD tentou passar ao lado da polémica, fazendo valer a ideia de que os problemas entre o PS e o Presidente da República não fazem parte das suas preocupações.

7 – Já o PS, simpaticamente entretido mais do que qualquer outro partido em manter os portugueses simpaticamente distraídos dos problemas nacionais, teve o descaramento de dizer que o afastamento de Fernando Lima é um revés na estratégia eleitoral do PSD. Sinceramente, não se percebe. De uma vez por todas, o PS e Augusto Santos Silva, homem de mão do partido para as atoardas sem sentido, não são exemplo de seriedade política para ninguém.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 24 Setembro 2009

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