terça-feira, outubro 05, 2010

Cidades Do Futuro

1 No âmbito das Conferências Fórum Amarante XXI realizou-se no passado fim-de-semana um encontro em Amarante em que se falou sobre as cidades, a sua evolução ao longo dos tempos, o seu impacto na vida das pessoas e as consequências que o desenvolvimento das cidades tem vindo a provocar.

2No mesmo fim-de-semana surgiram notícias em vários jornais, dando conta que no Porto foram encontrados os corpos de 3 pessoas, as quais viviam dentro dos limites da cidade, sem apoio de família ou amigos e aparentemente acompanhados pouco de perto pela assistência social.

3Voltando à conferência do Fórum Amarante XXI, D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e um dos oradores do encontro, disse a determinada altura mais ou menos isto: “hoje as pessoas juntam-se em grandes eventos e grandes espaços públicos, mas quase sempre numa perspectiva consumista ou de divertimento, de que são exemplo as idas ao centro comercial ou ao futebol.”

4De facto, e mesmo procurando não ser pessimista, aqueles que se lembram das cada vez mais antigas relações de vizinhança entre as pessoas, vividas nas aldeias mas também nas cidades de outros tempos, acharão a realidade de hoje bastante assustadora. Paralelamente com outros aspectos de desenvolvimento da nossa sociedade, a evolução urbanística também tem vindo a ajudar a um individualismo cada vez maior no modo de vida quotidiano.

5É assustador pensar que podem morrer pessoas dentro das nossas cidades e que demoramos vários dias até descobrir os seus corpos. É assustador pensar que é possível alguém falecer no local de trabalho, como aconteceu nos EUA, tendo demorado vários dias até que os colegas de trabalho se apercebessem do facto.

6Os desafios que se colocam aos decisores políticos são enormes. As políticas de urbanismo e de organização territorial actuais levam muito pouco em conta as implicações que provocam na vida das pessoas ao nível do seu relacionamento em comunidade. As próprias políticas sectoriais, como a de educação e saúde, favorecem a litoralização do país e uma maior concentração das pessoas nas grandes cidades.

7Encerramos escolas com menos de 20 alunos. Encerramos serviços de saúde por questões de racionalização de recursos. Num e noutro caso, a qualidade da educação ou a qualidade dos serviços de saúde pode até melhorar, mas a distância da nossa terra e do nosso núcleo de amigos e vizinhos aumenta cada vez mais à medida que estudamos longe de casa ou somos curados longe do sítio onde gostamos de estar. Precisamos que a cidade do futuro seja feita de uma maior coordenação entre as várias políticas sectoriais e a política de cidade.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante

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