1 – Citando um spot publicitário bem conhecido, “ainda sou do tempo” em que não se viam auto-estradas em Portugal. Também “ainda sou do tempo” em que se dizia que estudar na universidade era um luxo, não sendo raros os exemplos de jovens da geração de 70 que foram os primeiros da sua freguesia a frequentar a universidade.
2 – Podiam ser recordados muitos outros exemplos, mas tal não é necessário para constatar que mudou muita coisa ao longo dos últimos 25 anos. E Portugal mudou para melhor, sem dúvida. O modelo de desenvolvimento escolhido na segunda metade da década de 80 e primeira metade da década de 90, permitiu aos portugueses, na sua generalidade, um salto enorme em termos de qualidade de vida.
3 – É certo que tal modelo de desenvolvimento, muito focado nas infra-estruturas, percebe-se agora não ter cuidado devidamente da competitividade da nossa economia a longo prazo. Mas não foram apenas os erros cometidos ao longo do “cavaquismo” os responsáveis por isso. Também a chegada ao poder de António Guterres, verdadeiro “fundador” do que é hoje o monstro do défice do Estado, contribuiu de forma decisiva para a situação em que nos encontramos.
4 – Mau grado as criticas que faziam ao “cavaquismo”, António Guterres e o Partido Socialista mantiveram a aposta nas infra-estruturas, da qual as SCUT não podiam ser melhor exemplo, ao mesmo tempo que apostaram, e bem entenda-se, num forte reforço das politicas sociais no âmbito das preocupações governativas. O problema é que, quer com Cavaco Silva quer com António Guterres, nenhuma das estratégias foi seguida de forma equilibrada.
5 – Como resultado, Portugal tem hoje uma excelente rede de auto-estradas. Como resultado, Portugal tem hoje um bom sistema de apoio social e um sistema de saúde ao nível dos melhores. No entanto, tem uma economia anémica, sem capacidade de crescimento. Não obstante as oportunidades criadas com a massificação do ensino superior, Portugal não tem mão-de-obra suficientemente qualificada e versátil para fazer face à economia global. E pior do que isso, o défice do Estado e a divida pública portuguesa são insustentáveis, porque aquilo que produzimos não é suficiente para sustentar o que temos de bom.
6 – Como resultado, vamos ter que mudar de vida. Enquanto famílias, não aguentamos muito tempo se insistirmos em tomar decisões erradas e nos endividarmos cada vez mais. E é precisamente isso que se tem passado com Portugal, onde o governo de José Sócrates foi incapaz de controlar o défice, sendo até responsável pelo seu agravamento. Enquanto o Estado gastar mais do que aquilo que recebe, haverá sempre défice e haverá sempre endividamento.
7 – Nesta altura, todos falam na necessidade de reduzir o défice e a divida pública portuguesa, mas ainda não se ouve ninguém falar na necessidade de Portugal começar a pagar aquilo que deve. Para termos capacidade de amortizar a enorme divida junto dos mercados só há dois caminhos: ou cortamos a torto e a direito nas despesas do Estado para equilibrar o nosso orçamento, ou conseguimos colocar a nossa economia a crescer a um nível muito superior ao que tem acontecido até ao momento, de forma a aumentar as receitas.
8 – Como pelo lado do crescimento económico as perspectivas não são animadoras, o único caminho possível é o que segue o orçamento de Estado de 2011, cortando radicalmente nas despesas. De forma mais rápida ou de forma mais lenta, vamos ter mesmo que mudar de vida. E não temos muito que contestar, porque se hoje tivermos que sofrer para reduzir o défice e a dívida pública, também não deixa de ser verdade que é graças a esse défice e a essa divida pública que, enquanto comunidade, temos o nível de vida que temos.
"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 02 Dezembro 2010
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