domingo, janeiro 15, 2012

Do Céu Ao Inferno

1Ouvimos muitas vezes dizer que o primeiro ano da vida de um Governo é essencial para a concretização de verdadeiras reformas, dado que se considera que ao fim de algum tempo os governantes perdem a capacidade para fazer frente aos interesses instalados, à pressão da máquina da administração pública e a tudo que a rodeia.

2Esta ideia não deixa de ser um atestado de incompetência e incapacidade ao passado dos nossos governantes. Infelizmente, julgo que todos nos revemos um pouco nela em face do que tem sido a nossa história recente. Muita gente que passou pelos sucessivos governos se deixou amolecer com a passagem pelo poder, muitos deles não fazendo justiça à condição que alcançaram enquanto profissionais na sua área de actividade.

3Pior que isso, colectivamente só adquirimos consciência disso mesmo num momento em que precisamos de auxilio financeiro e vemos entrar em Portugal instituições externas que nos vem ajudar com dinheiro emprestado, exigindo em troca uma série de reformas e de medidas que vão muito além do aspecto financeiro, tocando em áreas tão transversais como a saúde, a educação, a justiça ou a política de transportes.

4Resumindo, em grande parte dos aspectos verdadeiramente importantes na governação de um país, os sucessivos governos falharam. Lentamente, foram conduzindo Portugal a uma situação insustentável e de difícil explicação. Provavelmente tivemos políticos a mais e gestores a menos. E só descobrimos isso pela mão da troika, porque antes não íamos querer acreditar.

5Agora não há margem para falhar. Não porque tenha sido da nossa iniciativa, mas pela iniciativa de quem nos prestou auxílio financeiro, temos um guião para seguir ao pormenor, com medidas quantificadas e temporizadas, as quais terão forçosamente que ser cumpridas, sob pena de deixarmos de receber as sucessivas tranches de dinheiro de que precisamos para manter Portugal à tona da água durante os próximos anos.

6Dá que pensar que apenas numa situação limite fomos capazes, todos nós, de interiorizar que é mesmo preciso mudar de vida. Eleição após eleição, debate após debate, só queríamos ouvir falar de rosas, nunca de espinhos.

7 Mesmo agora, será curioso verificar como vão os vários agentes com intervenção na vida política nacional, dos partidos aos sindicatos, reagir às prometidas medidas para redução da despesa do Estado, que o Governo irá apresentar já depois de escrito este texto. Será curioso também acompanhar o debate a realizar a partir de Outubro, sobre o Orçamento de Estado para 2012. A confirmar-se a já prometida histórica redução na despesa, veremos se alguns de nós vão reagir continuando a pedir o céu e o inferno ao mesmo tempo.

 

"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 01 Setembro 2011

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