1 – Segundo os últimos dados revelados pelo Banco de Portugal, os depósitos bancários em Portugal totalizam 125 mil milhões de euros e revelam uma tendência de crescimento ao longo dos últimos meses. Apesar da crise e apesar de todas as dificuldades, o volume dos depósitos tem vindo a subir gradualmente, quer porque os portugueses conseguem poupar algum dinheiro, quer porque a banca tem revelado maior poder de atracção em face das taxas superiores que está a praticar para os depósitos a prazo.
2 – Por outro lado, o volume de crédito concedido é aproximadamente 250 mil milhões de euros, o que configura um dado absolutamente assustador nos tempos que correm, dado que o volume de crédito é o dobro dos depósitos. Este facto, revelador da absoluta alavancagem do sistema financeiro e da nossa economia, tornou-se agora um problema para os bancos portugueses, obrigados a reduzir drasticamente o rácio de transformação.
3 – Levando em conta todo o sistema financeiro, o rácio de transformação será de 200%. Se considerarmos apenas os bancos mais importantes do sistema, o rácio de transformação deverá rondar os 150%, isto é, por cada 100 euros em dinheiro depositado nesses bancos, existem 150 euros de crédito concedido.
4 – Segundo o acordo assinado com a troika, o rácio de transformação terá que ser reduzido até 2013 para o máximo de 120%. Fazendo um exercício simples, se considerarmos que os maiores bancos possuem neste momento uma carteira de depósitos de 100 mil milhões de euros e uma carteira de crédito de 150 mil milhões de euros, o corte no volume de crédito a efectuar poderá atingir o valor de 30 mil milhões de euros num período de pouco mais de um ano.
5 – Um valor desta natureza é absolutamente assustador e representa em si mesmo um plano de austeridade muito mais forte do que todas as medidas que o Governa possa tomar para emagrecer o Estado. Vai ser por intermédio dos bancos portugueses que vamos sofrer a maior austeridade ao longo dos próximos dois anos, dado que o corte no volume de crédito será terrível para a economia, obrigada a fazer um forte ajustamento para a falta de crédito disponível.
6 – É evidente que existem alternativas, essencialmente três, para os bancos ajustarem o seu rácio de transformação. Captar mais depósitos a prazo é um caminho óbvio para o conseguir. Vender activos em carteira, canalizando os rendimentos obtidos para o reforço de capitais, é outra das possibilidades. A última alternativa é reduzir a concessão de crédito novo e estabelecer planos de liquidação exigentes para clientes que já possuem crédito em curso, nomeadamente na área das empresas.
7 – Todas estas alternativas estão a ser conjugadas e postas em prática. Apesar da dureza dos números, o crédito concedido pela banca portuguesa é na sua grande maioria de boa qualidade, pelo que este cenário de desalavancagem não coloca em causa o sistema bancário português. Pode colocar em causa os seus níveis de rentabilidade no curto ou médio prazo, mas não prejudica a sua estabilidade e fiabilidade.
8 – O que fica em causa é um corte brutal no financiamento, um corte silencioso e pouco mediático, mas com grande impacto. O aumento do desemprego, a retracção no consumo e a diminuição dos níveis de investimento são provocados em larga medida pelo corte no crédito, muito mais do que pela austeridade do Estado. Cabe agora ao Estado fazer o seu plano de emagrecimento, sem recuos nem medo, para que o esforço que famílias e empresas vão fazer não seja destruído a sustentar a pesada máquina pública que carregamos pelas costas.
"IM_Pressões de Direita" in Jornal de Amarante de 25 Agosto 2011
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